Capítulo 33

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Paola Flórida

Observo admirada o meu anel enorme e brilhante, Leôncio comprou para mim hoje de manhã junto com o Humberto. Estou noiva, porém nada de casamento enorme ou festa de noivado, eu ainda não sei como está a minha reputação do mundo afora, é melhor ficar quietinha e sossegada, nesse país que jurei nunca iria pisar mais e eu quebrei essa promessa que fiz por tanto tempo, ouço passos atrás de mim. Viro para trás, é o Humberto chegando silencioso.

— Oi!

Ele está mudado, não parece mais aquele caipira rabugento e com vestimenta ultrapassada, parece outro homem usando um terno sob medida. E é claro, usando todo patrimônio da sua esposa louca. Humberto sentou-se ao meu lado, estamos na varanda, às vezes gosto de ficar aqui, observando a paisagem que esse lugar tem a oferecer.

— Seus olhos brilham quando você olha para essa pedra. Leôncio tem um ótimo gosto.

— Tem mesmo? — Digo olhando a joia novamente, realmente essa pedrinha azul é uma maravilha. Há dois anos que não toco uma dessa, tenho uma coleção de joias raras. Saudade da minha antiga vida — E você? Está feliz agora? Tem dinheiro que uma pessoa poderia sonhar, carros e roupas de marcas. Sente falta da sua antiga vida?

Humberto suspirou cansado.

— Não, tudo que fiz pra essa família por tantos anos. É o mínimo que eles poderiam fazer por mim, e você? Maltratando a Maitê, tenho certeza que está realizando o seu sonho de consumo.

— Na verdade, era sonho da minha mãe. Estou fazendo tudo por ela, estou apenas descarregando a minha raiva que tenho guardado por tantos anos contra essa mulher.

— Você é má.

Igual ao meu pai.

—Talvez a minha personalidade tenha puxado o meu pai.

— Você o conhece?

— Não! - Minto. — Não tenho a mínima ideia quem é o meu pai.

Ouvi a porta da entrada se abrindo, Maitê anunciou que o almoço já estava pronto.

— Vamos Humberto! — Pego a mão dele e nós entramos, dá pra sentir até o cheiro da comida.

No caminho encontrei Bernardo descendo as escadas apressadamente segurando o Álvaro, ao lado dele a sua irmã Guadalupe. Cumprimentaram o Humberto e todos nós fomos para sala de jantar, a mesa estava repleta de comidas, Leôncio já esperava a gente sentado na sua cadeira como sempre, ergueu a taça de vinho ao me ver. Puxei a cadeira e sentei-me, na minha frente uma tigela branca contendo a carne que o Humberto trouxe como cortesia, pela aparência e o aroma deve estar deliciosa. Bernardo foi o primeiro a pegar o prato e servir, e depois todos nós fizemos o mesmo.

— Maitê, alimente o meu filho. — Ordeno.

Parada feito uma estátua encostada na parede, a contragosto obedeceu aos meus comandos, puxou a cadeira ao lado do Álvaro e começou a alimentá-lo.

—Hum, essa carne está deliciosa. — Bernardo elogia — Está bem macia,e tem um gosto diferente. Tem certeza que é carne de cordeiro tio Humberto?

Antes de responder, o Humberto bebe o seu vinho.

— É sim, o carneiro estava velhinho quando dei o fim da sua vida.

Bernardo ficou convencido e continuou a comer. Almoçamos em silêncio, a carne tem um gosto estranho mas pelo menos é gostosa e está bem macia.

— Humberto, mandei preparar um quarto para você, esta noite você dorme aqui.

— Nossa, não precisava Leôncio mas aceito a sua oferta com bom agrado.

— Disponha amigo!

Ter a sua presença nesta casa não é uma má ideia.

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Meus olhos se abriram rapidamente e o pânico tomou conta de mim enquanto duas mãos grandes e masculinas apertavam o meu pescoço com bastante força, abri a boca para gritar mas o som não saía. O homem que fazia isso estava no escuro e eu só escutava o seu sorriso abafado, cadê o Leôncio? Agarro o seu punho e começo a me debater violentamente, sinto um corpo ao meu lado.

— Leôncio — Finalmente puder dizer alguma coisa. — Me ajude.

O homem debruçou sobre mim e sussurrou ao meu ouvido.

— Ele não pode te ouvir. Minha irmãzinha!

Era o Humberto. Depois disso, desmaiei.

{...}

Abro os olhos, sentei-me rapidamente e toco no meu pescoço, está dolorido. Aos poucos estou me lembrando o que aconteceu comigo, duas mãos grandes agarraram o meu pescoço e essa pessoa era o Humberto, mas, não faz sentido. O vulto de uma pessoa passa entre as cortinas da varanda, tento acalmar as batidas no meu coração quando visualizo o Alejandro atrás desses panos transparentes. Então pude perceber que não estou no meu quarto, estou no outro com uma decoração horrível e de cores frias.

— Olá Paola, feliz ao me ver?

— O que está havendo?

Tento não demonstrar medo ou deixar lágrimas caírem quando ele sai na varanda e vem à minha direção com aquele sorriso demoníaco que tanto odeio. Num piscar de olhos , Alejandro pegou o meu cabelo e puxou o meu corpo para o chão, gritando ao sentir o couro cabeludo sendo puxado violentamente. Alejandro começa a me arrastar até saímos do quarto, tento levantar algumas vezes mas tornou-se uma missão impossível. Infelizmente o corredor é longo e o piso é de material liso que machucava as minhas pernas.

Chegamos na sala, tem uma varanda enorme e dá pra perceber que o possível cativeiro é um apartamento luxuoso. Alejandro soltou o meu cabelo e saiu perto de mim, não aguentei comecei a chorar. Como seria possível?

— Ora, ora, ora, a vagabunda finalmente acordou. — É a voz da Juana.

Uma personagem irrelevante apareceu na história do nada, sequestrando a mocinha. É tão clichê que dá nojo. Levantei a cabeça, a metade do meu cabelo estava cobrindo o meu rosto. Porém, podia vê-la.

— Por que estou aqui? Querem dinheiro?

Escuto a risada do Alejandro no outro cômodo, acho que a cozinha.

— Não — Respondeu — Queremos vingança e você sabe o porquê.

— Não tenho culpa que o Leôncio não te come mais, sabe como é né!? Homens preferem as morenas.

Juana não aguenta a minha sinceridade e dá um belo tapa no meu rosto, sinto o gosto do sangue.

— Tenha mais respeito sua miserável, se não, o seu destino será igual ao da María. — O quê? Alejandro traga para cá, María quer dar boas-vindas para a sua velha amiga — Riu.

Escuto os passos dele, e do nada uma cabeça decapitada rola até a mim.

— AAAAAAAAAH.

Dou alguns passos atrás, é a cabeça da María.

— Ela foi uma péssima menina e teve o que mereceu, e aliás, Paola você comeu a carne dela. Tipo, você literalmente comeu a María Hernández.

Humberto, aquela carne.

Não aguentei e comecei a vomitar ali mesmo, frente dessas pessoas horríveis, só de lembrar saboreando aquela carne estranha e gosto nada convencional, me forcei a vomitar ainda mais.

— Pode até tirar ela de dentro do seu estômago, Paola. — Juana diz sorrindo — Mas na sua mente, será difícil.

— Ai meu Deus!

Não sei quantas vezes vomitei sobre mim mesma, quando tento esquecer vem a imagem. Eu comendo e elogiando a carne. Juana tem razão, posso até tirar ela de dentro de mim, mas na minha mente será impossível.

A vingança de Leôncio - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora