Capítulo 16

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Bernardo Hernández

Três dias depois

— Como está a vista aí de cima? — Escutei a voz doce de Anna Lúcia. — Tenha cuidado! — Avisou.

Acordamos cedo para ver os novos equipamentos que trabalharão na fazenda a partir de agora. Anna Lúcia me ajudou fazer um slide e alguns documentos colocando as nossas ideias no papel branco e deu tudo certo, Leôncio gostou das nossas ideias e está colocando em prática, infelizmente nós perdemos a metade dos trabalhadores e ficaram crianças sem pais, e a maioria delas vão para o orfanato da cidade e alguns bem afastados.

São pequenas demais para trabalhar, e os mais velhos ainda continuarão trabalhando aqui, vão operar as máquinas e dessa vez, uma das minhas ideias que eles deveriam receber um salário digno, é para reparar um pouco das suas liberdades retiradas e os danos psicológicos causados pela a nossa família. E daqui onde estou, dá para ver o campo a metade destruído e as máquinas de últimas gerações, um cercado de arame farpado separava a gente e do povo de lá. Desço na árvore, Anna Lúcia está me esperando com um cesto de lanche que ela mesma preparou.

—Eu fiz o seu bolo favorito, para esquecer um pouco da sua tristeza.

Anna Lúcia pegou uma toalha xadrez e, no chão, bateu a sua mão no chão para me juntar a ela. Sentei ao seu lado, abro a cesta e pego o bolo, dou as primeiras mordidas. Um gosto amargo surge no sabor doce, só de lembrar que nunca mais escutarei a sua voz, sentir o seu cheiro, sentir o seu abraço, sentir os seus dedos fazendo carinho em meu rosto enquanto me olha no fundo dos meus olhos. Uma dor quase insuportável surge no meu peito, quando dei por mim comecei a chorar enquanto comia o bolo que a Anna Lúcia fez para mim.

Eu poderia ter ajudado a Tia Cristina . Mas, fui covarde e deixei as duas à mercê da própria sorte. Anna Lúcia beija a minha bochecha demoradamente.

— A culpa não é sua, é da Soraya.

A encaro — Como assim é culpa dela? O que você está falando?

— Foi ela que enviou aquelas fotos, o resultado disso que você levou um tiro, a sua tia está internada numa clínica psiquiátrica e a Paola em coma. Se ela não enviasse, tudo estaria normal.

Me afasto um pouco dela, nesse ponto ela tem razão. Soraya está bem longe vivendo a sua vida como queria, enquanto a mim, a minha família está sendo destruída aos poucos.

— Você tem um pouco de razão.

— Quer nadar na cachoeira?

— Quero sim!

Nós levantamos, tiramos as nossas roupas e ficamos só de peças íntimas, fomos em direção a cachoeira. A água está gelada ao ponto de bater os meus dentes, Anna Lúcia foi mais corajosa e se jogou na água, começou a jogar água gelada em minha direção sorrindo. Contei até cinco e finalmente tive coragem, quase gritei ao sentir o contato frio na minha pele.

— Está vendo? Como é gostoso? — Anna Lúcia imerge na água e depois volta jogando os cabelos para trás.

A encaro mais com detalhes, Anna Lúcia tem traços faciais delicados e um sorriso cativante, seus cabelos castanhos escuros fazia contraste com os seus olhos azuis. Anna poderia fazer papel de uma filha de um senhor importante que ninguém desconfiaria dela.

— Por que você está me olhando? — Perguntou.

— Nada, esquece!

Anna olhou através de mim e franziu a testa confusa, apontou com o queixo. Seguindo o seu olhar, e virei para trás, é o garoto que não conheço usando o chapéu que é bastante parecido com o Sebastião. Que está com olhar fixado em nós de uma maneira que deixaram os meus pêlos arrepiados, poderia ser água ou vento.

— Quem é você?

— Alfredo, filho de Sebastião. Ao seu dispor, senhor Hernández.

— Não precisa de formalidade, pode me chamar de Bernardo.

Alfredo vem caminhando entre as pedras no caminho, e ficou em cima de uma pedra grande, ficou nos observando. O seu olhar é duro, frio e sem brilho, muito expressivo para um adolescente.

— Dizendo ao seu pai que serei o seu capacho até o meu último suspiro, e não, não te chamarei pelo primeiro nome. Senhor Hernández.

Já não gostei desse garoto, aparenta ser anormal.

— É um prazer te conhecer, então. — Digo.

— Quem é a moça? — Apontou com o queixo — É a sua namorada?

Comecei a sorrir, apontei o dedo para Anna.

— ? Nunca, é apenas uma empregada da fazenda.

— Eu não sou a sua amiga? — Perguntou triste.

— Sim, mas continua sendo a empregada da fazenda.

Seus olhos encheram de lágrimas e os seus lábios tremeram, Anna Lúcia deu a meia volta e saiu na água, se vestiu, pegou as suas coisas e foi embora sem dizer nenhuma palavra.

Ouço risos de Alfredo atrás de mim.

— Acho que vai ser divertido quando eu começar a participar também. Foi um prazer te conhecer, senhorzinho.

Fiquei sozinho na floresta sem entender nada o que havia acontecido aqui.














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A vingança de Leôncio - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora