Capítulo 8

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Paola Flórida

Horas antes

O suor escorria pelo meu rosto, meus braços estavam cansados e ouvia Carla reclamar sem pausa desde que chegamos na cozinha para fazer o jantar. Ela está brigando pelas injustiças que sofremos nessas terras férteis, Letícia armou contra gente por causa dos ciúmes que ela sente por Thiago. Ele ficou no lugar do Miguel Sánchez já faz um ano, e disso, bastante mulheres estão dando em cima dele achando que vai sair neste lugar casando-se com este homem. E eu sou uma delas, Thiago e eu estamos no relacionamento às escondidas há seis meses, dizendo ele que eu sou a sua favorita.

E o Sebastião sabe disso, e fica longe de mim, se "apaixonou" pela minha mãe mesmo sendo casado e tendo um filho adolescente, e parece que a Cristina gosta de ser amante, sempre a segunda opção. Não vou julgá-la, ela foi criada dessa forma desde criança.

— Aquela piranha — Carla joga os tomates frescos em cima da bancada — Ordinária! Há boatos que esse Thiago tem a sua favorita, e todas estão achando que sou eu.

Pobre Carla, levando a culpa por minha causa. A maioria das mulheres procuram e arranjam homens para sair dessa vida ou minimizar o trabalho árduo nos campos e eu sou uma delas, graças a isso eu trabalho na cozinha desde cedo e levando comigo o meu Álvaro, para minha desgraça ele chama o Thiago de papai. Irônico. O seu verdadeiro pai está no casarão desfrutando uma vida digna de um rei e enquanto o próprio filho nunca experimentou uma comida decente.

— Deixa quieto Carla, e vamos logo acabar com isso.

Vou ao fogão e mexo a panela de feijão. Uma pontada de dor no meu ventre se alastra, mordo o lábio inferior contendo gemido. Ponho a mão no meu ventre, estou grávida e a Carla fará um aborto clandestino quando tudo mundo estiver jantando. Sem anestesia terei que morder o pano com bastante força.

— Paola está tudo bem? — Carla pergunta.

— Estou, é só uma apontada. Não é nada demais.

— Está pronta? Tenho que dizer que é bastante arriscado, não é mais fácil o pai dessa criança assumir a paternidade?

— Nunca!

Carla pega uma mecha grande do meu cabelo e coloca no outro ombro, sinto os seus lábios no meu ombro nu.

— Eu sei que você é a favorita do Thiago, e esse filho é dele. Você tem o queijo e a faca na mão, aproveita essa chance Paola. Você poderá sair nesse lugar junto com o seu filho, pense nele.

Me afasto dela — E é por isso que terei sacrificar esse filho. Jamais me casaria com esse homem, e supostamente iria se livrar do meu Álvaro, nenhum homem aceita criar um filho de outro homem, isso é o fato.

Ouço ela suspirar — Você que sabe.

— Mamãe — Ouço o meu filho chamar — Saudade de ti.

Abaixei-me, cheirei o seu pescoço branquinho. Meus olhos inundaram, por ele faço tudo, até fazer um aborto que irei fazer daqui a pouco

— Daqui a pouco você comerá arroz com feijão.

— Tá bom mamãe.

Me levantei no chão carregando ele. Olho-o, Álvaro é tão lindo e sapeca, que não deveria viver neste espaço. A sua cabecinha se apoia sobre o meu peito e fecha os olhos. Enquanto trabalhava, sempre o deixava numa caixa de papelão próximo a porta de saída e continuava fazendo o meu serviço.

💵


— Agora abra as pernas, Paola. Já vou começar.

Estou no quarto iluminado por uma vela e sozinhas, como combinado. Sinto os seus dedos entrarem na minha vagina, Carla preparou tudo para está noite, a brasileira tem experiência nesse procedimento clandestino, dez mulheres que fazem abortos. Só seis sobrevivem, é uma conta aceitável.

— Já vou começar.

— Tudo bem!

Agarro a cabeceira da cama com as duas mãos, mas antes disso, ponho um pano na minha boca. Acaso eu morda a minha língua. Olho para cima para não ver nada, porém, eu sei quais instrumentos ela vai usar em mim. Carla introduz o espéculo vaginal de metal dentro do meu canal, o desconforto é horrível e sinto ela se expandir.

— Calma, Paola! Agora vem a pior parte.

Respiro bem fundo, Carla começa a fazer o procedimento. Insere uma ferramenta dilatadora no colo de útero para facilitar o acesso. A brasileira insere na vagina uma seringa grande de 60 ml, que tem uma cânula encaixada em sua ponta. Revirei os olhos e balanço as pernas de tanta dor, Carla puxa o êmbolo da seringa e começa a sugar pedaços do saco gestacional. E ponha o líquido viscoso dentro numa bacia cheia de água, e fez esse processo pelo menos quinze vezes e essas quinze vezes fui ao inferno e apertei a mão do Diabo. O suor escorria pela minha testa, e eu estava vendo tudo escuro.

— Agora parte dois. A curetagem é mais difícil.

Começo a chorar silenciosamente, espero que eu saio viva nessa. Carla ponha outro instrumento dentro de mim e começa a fazer a curetagem para extrair o restante do feto.

Remexia o quadril.

— AHHHHHHHHHHHHH.

— Calma Paola, estamos quase acabando.

Uma hora fazendo o procedimento, finalmente a Carla tinha acabado e finalmente pude respirar. Ela me limpou e tirou todo sangue, trocou os lençóis e guardou os instrumentos no armário.

— Temos vinte e quatro horas para ver a sua real situação. E uma boa notícia: nenhum feto está alojado no seu ventre.

Não falei nada, só fechei os olhos e dormi profundamente. Horas depois fui acordada pela Cristina segurando o Álvaro e dizendo que a fazenda está pegando fogo.

— PAOLA VAMOS EMBORA. — Gritava ela.

— Gente — Kátia entra do nosso campo de visão, tem um facão alojado na sua barriga. — Estamos sendo atacadas.

Depois caiu sobre o facão e a lâmina atravessou sobre seu corpo.

— Aaaaaaaaaah! — Berro.

A vingança de Leôncio - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora