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MARINA FONTENELLE

Me ergui da cama, assustada. Meu corpo saltou e foi como uma âncora me arrancando do sono. Tombei novamente e fechei meus olhos, no vazio do meu pensamento em busca do sono, acabei não tendo-o. Por diversas vezes me virei e até fiquei com meus olhos abertos, porém, de nada adiantou.

— Ah meu Deus — resmunguei, me sentei no colchão calçando minhas pantufas. Eu sempre odiei perder o sono.

Caminhei até o pequeno banheiro de meu quarto, abri a torneira levando minhas mãos quentes para debaixo da água, a levando em seguida ao meu rosto. Me olhei no espelho, e engoli em seco ao sentir uma sensação estranha em meu coração. Tentei buscar alguma resposta nele, mas sequer consegui achar.

Suspirei tentando manter minha calma. Não devia ser nada demais, devia ser apenas meu corpo...

Fiz uma curta oração e assim que saí do cômodo, deixei a porta aberta.

Olhei para os lados e ao avistar a pia da cozinha, caminhei até ela. Preenchi um copo de alumínio com água o levando ao fogão e pondo sobre o fogo, retirei dois pacotes de biscoitos de dentro do balcão.

— Droga — resmunguei num salto assim que vi a espuma da água do leite subir para cima indicando que já estava pronto, por que sempre é assim? Por que acontece logo quando estamos distraídos?

— Tudo bem, mãe? — a voz fraca de Margarida me vez virar a cabeça e dar um pequeno sorriso.

— É, está. Se não fosse o leite ter derramado, estaria muito bem.

Ela riu encostando seu ombro na parede.

— Ficou sem sono também? — questionei enquanto limpava o local sujo.

— Sim, acordei do nada, e acabei perdendo...

— Entendo...

Não necessitou que eu dissesse muito, ela me ajudou sem que eu precisasse. A convidei para irmos a sala e comer por lá mesmo, Margarida aceitou sem muita hesitação. Meus olhos pararam sobre meus dedos me levando a um sentimento de paz e tranquilidade. Eu tinha feito, mais uma vez, a escolha certa — eu conseguia sentir. Meus filhos reagiram bem, principalmente aquele que mais temi em não aceitar...

— Quantas horas são mesmo? — questionei minha filha enquanto ela colocava os copos sobre a mesa de centro próxima a televisão e sofá. Ela olhou o pulso e seus olhos castanhos e intensos se arregalaram por um momento.

— Já são três e dez...

— Nossa! — falei, surpresa —  É melhor nos alimentarmos logo — rimos baixo. — Ah! — lembrei — Os potes com biscoitos, quase que esqueço de pegar!

— Vai lá! Enquanto isso vou escolher um canal bom para assistirmos — disse em pé, com sua mão firme no controle.

— Tá, não demoro.

Entrei novamente e fiquei por um tempo a procura, parecia nunca achar, e quando consegui, a pancada de algo caindo no chão me fez dar um salto. Saí de onde estava, e com o pote em mãos, vi que minha filha estava ainda em pé, estática, com os olhos fixos na grande tela da televisão.

— Filha? — a chamei, mas ela não disse nada, sequer me olhou. Seus olhos se encheram de água me deixando confusa, tomei coragem e olhei para onde fitava.

— Meu Deus... — o pote de vidro caiu de minhas mãos.

Na tela mostrava a notícia que um avião, voo dois oito nove, com destino a Nova York, havia caído. Cerca de vinte passageiros. As buscas já estavam indicando-se naquele exato momento.

A VERDADEIRA FELICIDADE | LIVRO IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora