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JASMINE FREIRE

Eu não deveria ter exagerado tanto no jantar do dia anterior...

Meu corpo impulsionou mais uma vez contra a privada.

Dei descarga, lavei minha boca, e por conta da tontura me obriguei a sentar sobre a privada. Abaixei minha cabeça murmurando uma música aleatória para que a bile resolvesse me abandonar. Isso não adiantou nada. O gosto salgado atingiu cada canto da minha boca, e novamente me vi na mesma situação de segundos antes.

Apertei minha garganta um tanto aliviada, pelo menos a sensação havia passado. Por conta dos meus pensamentos passei um bom tempo na privada.

Foi impossível às mulheres da casa não saberem da minha situação, brincaram mas num momento viram que era sério. Nora sorriu e disse algo que me assustou, mas me deu uma pequena alegria.

“— Sei que pode ser meio assustador, querida. Mas pelos seus sintomas... Não é apenas você que está morando no seu corpo”

Pensar numa possível gravidez era assustador, mas bom... Mas nem eu, nem Nora, Marina, ou Valentina tínhamos certeza disso. Meus sintomas de uma vez ou outra vinha ou não. Marina chegou ficar até preocupada, já que em sua vez, todos os dias ela estava vomitando e não foi como eu...

Ir ao médico era algo que eu não queria por puro medo, medo de descobrir algo que eu não esperava, e medo de dar mais trabalho para minha família. Cheguei sim a brigar com Ângelo, muitas das vezes eu sentia uma irritação, que parecia não provir de mim assim como a vontade de chorar, e sensibilidade vinha com todas as forças, principalmente nas vezes que ele insistia em me levar ao hospital.

Espantei meus pensamentos focando na minha situação. A conversa do dia anterior com Marina, Nora e Valentina, me fez querer ter um momento comigo, e pensar...

Me levantei com pressa de onde eu estava. Procurei pela a maleta em que estava meus produtos de higiene que levei para a viagem... Meu coração errou uma batida vendo com meus próprios olhos, que os pacotes estavam tão bem fechados e o pequeno calendário, marcando o quarto e quinto mês desde quando eu tinha me casado, estavam sem nenhum risco.

Os enjoos, tonturas, a falta de apetite e vontade de comer tantas coisas, humor variando, sonolência. Tudo isso apontava para uma única coisa... E com a possíveis provas mas minhas mãos, negar a possibilidade seria algo impossível.

Me aproximei lentamente do espelho do armário. Deslizei minhas mãos por cada canto da minha barriga, reparando a alteração do tamanho. Ela parecia um pouquinho mais inchada, e ocupando mais espaço em minha roupa.

Uma criança, a minha criança e a do amor da minha vida, estava gerando dentro de mim. O fruto do meu amor, e o de Ângelo, estava crescendo aos pouquinhos dentro de mim.

Gargalhei e não impedi que minhas lágrimas caíssem. Um pouco trêmula, me afastei ainda desacreditada daquela possibilidade.

O que Deus havia falado a mim e a Ângelo, estava acontecendo...

— Tudo bem, meu amor? — a voz do meu marido, próximo a porta, me fez olhar para ele. Sequei minhas lágrimas para que ele não chegasse a ver.

— Está sim...

— De verdade?

— Sim! — se a minha gravidez fosse realmente verdade, eu queria que fosse uma surpresa. Não apenas para ele, mas também para todos.

Ângelo veio até mim.

— Se você não se sentir tão bem, me diga. Está bem? — beijou minha testa — Terei de sair para a empresa, mas chegarei para o almoço.

A VERDADEIRA FELICIDADE | LIVRO IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora