PATRICK VITELLO
A agitação em minha cabeça foi a única que conseguia sentir antes de eu despertar — lembranças vieram como flashes rasgando minha consciência de forma bruta. O desespero no olhar dos que estavam ao meu redor, o medo tão tátil, os gritos de pavor... Tudo isso eu consegui reviver sem que eu tivesse a escolha de fazê-lo.
A relva por debaixo do meu corpo serviu como um colchão entre os espinhos e terra úmida pela chuva. Meu corpo inteiro doía, meu pescoço formigava e a sensação de peso entre cada membro me fez suspirar. A sensação me lembrou quase que perfeitamente uma paralisia do sono. mas, doía demais, e era real demais.
“Papai”
O grito de desespero de uma criança rompeu minha consciência fazendo meus olhos abrirem de vez.
Meu peito subia e descida numa velocidade que eu sequer consegui acompanhar.
Tremi ao identificar que o grito tinha vindo de dentro de mim, e não ao meu redor. Fechei meus olhos novamente e engolindo em seco, tomei coragem para abrir novamente — eu tinha que saber onde estava.
Os raios solares sobre o topo das árvores entravam com gentileza sobre o espaço dando uma luz única. O cheiro do orvalho e madeira foi como uma injeção que recebi, eu estava num lugar o qual não tinha noção de que iria algum dia... passei a analisar cada parte que eu consegui, ainda deitado.
Tentei mover um músculo e aquilo me fez retrair, não entendi e fazendo-o mais uma vez, pude sentir que todo o meu corpo estava dolorido, tinha uma certa ardência. Movi minha língua ao redor de meus lábios afim de conseguir abafar a seca que apertou minha garganta. O meu ser parecia um pedra de tão imóvel, de tão impossibilitado de mecher-se.
— Por favor — sussurrei já em estado totalmente de desequilíbrio, medo... — Me ajude — apertei meus olhos — Me ajude... Deus — supliquei numa voz firme e com toda a minha alma, mesmo tendo uma fé tão pequena eu sabia que Ele seria o único capaz de fazer algo.
Uma força sondou meu corpo como um fogo — e ele não incomodou ou sequer machucou. Com essa força manti meus olhos firmes no pequeno espaço que eu consegui ver do céu. Engoli em seco e com uma respiração moderada, pus força em minhas pernas e corpo para que conseguisse me levantar.
Mesmo que a sensação de ter cada parte de mim sendo cortada com meu movimento, não parei. Ofegante agarrei o tronco da árvore. Ainda trêmulo, olhei ao redor para ter certeza do que havia pensado, e, realmente. O lugar variava em ser um bosque e ao mesmo uma floresta, havia tantas opções de caminhos entre as árvores que o meu medo aumentou mais ainda.
Agarrei minha mão sobre minha barriga assim que uma dor transpassou como uma lâmina de fora para dentro, sem piedade. Trinquei meus dentes fincando minhas unhas no casco amarronzado.
Desnorteado e quase caindo com meus próprios pés, peguei um rumo sem saber ao certo. Segui meu instinto por um longo tempo, e, infelizmente, nada conquistei. Fiz uma careta neutralizando a luz solar contra meus olhos.
Inspirei e num pedido, tornei a falar com Ele.
— Eu não consigo... — engasguei — Eu não consigo sem o... Senhor — gaguejei — Sem a sua ajuda...
Isso era a mais pura verdade. Se eu tivesse pedido direção assim que tivesse me levantado, isso não teria acontecido, eu teria encontrado o caminho mais do que cedo.
— Por favor — pedi novamente, num fio de voz.
Meu coração bateu numa velocidade tão intensa que tive de manter o peso em meus próprios pés...

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A VERDADEIRA FELICIDADE | LIVRO III
RomansaTerceiro e último livro da trilogia "A Verdadeira Felicidade", já disponível no perfil! Uma tomada de decisão, movida por sentimento e fé, mudará totalmente o destino de cada um...