ARIANNA FRANCONI
Rolei diversas vezes na cama na espera que o meu telefone parasse de tocar, no entanto, isso não adiantou nada!
Tive de abrir meus olhos e catar o aparelho do criado mudo ao lado da cama.
— Alô... — resmunguei.
— Arianna!
Meu cérebro entrou em total alerta ao reconhecer que a voz do outro lado da linha era de Pietro, sua entonação de preocupação e o fato dele não ligar para mim com frequência, deixou-me em total alerta.
— O que foi, Pietro? — indaguei.
— Me desculpe te ligar essa hora. Mas mais do que nunca a Joyce precisa de você!
Meu coração palpitou assim que a chegada daquela informação.
— Como assim?!
— A poucas horas ela estava dormindo tranquila, mas acordou com uma dor insuportável e sangrando muito. Ficamos tão preocupados que imediatamente viemos para o hospital, no caminho ela acabou sangrando muito e desmaiando...
— E onde? Em qual hospital ela está? Como ela está?!
— Ela sendo atendida. Por favor, venha para cá...
— Eu só vou pegar minha bolsa e quando eu estiver chegando, eu te mando mensagem.
— Certo.
Num salto troquei meu pijama por minha calça jeans e blusa azul. Peguei minha bolsa e desci como um furacão pela escada.
— Meu amor, para aonde você está indo? — perguntou-me Franconi. Seus braços envolviam Sarah, a qual dormia.
— Para o hospital, Joyce não está muito bem.
— Quer que eu te acompanhe?
— Não, não precisa!
Deixei Franconi sozinho, e na correria peguei o seu carro. Pela velocidade, cheguei o mais rápido que pude no hospital. Pedi informação na recepção, e através dela, consegui achar o andar e encontrar Pietro no corredor.
— Onde ela está?! Onde?!
— Eles não me disseram nada até agora... — suspirou — Tenho medo de que aconteceu algo com eles dois...
Parei por um instante me lembrando de forma espontânea da gravidez de Joyce. Ah! Como eu não me lembrei antes? Obviamente o sangramento de Joyce foi por conta da gravidez...
Se aquela criança me tirasse o direito de ter Joyce pelo resto da minha vida, como minha melhor amiga... ela nunca teria meu perdão!
Fui para o lado de forma brusca deixando a maca passar entre mim e Pietro, meu corpo tremeu ao reconhecer Joyce desacordada naquela maca. Tentei tocá-la mas fui impedida. Alguns enfermeiros tiveram de conter a mim e Pietro do lado de fora do quarto, enquanto minha amiga estava sendo posta lá.
Apertei os olhos segurando com toda força possível minhas lágrimas. Eu não queria ser fraca, eu não queria... Mas o pior de tudo, que mesmo eu sendo uma pessoa ruim, Joyce conseguiu conquistar uma parte boa minha. Com seu carisma e fala doce eu pude ter em quem confiar, mesmo que eu não estivesse sendo verdadeira em tudo.
Estando nós três no quarto do hospital, depois de um longo tempo, pela primeira vez, em toda a minha vida, me senti vulnerável.
Pietro me deu espaço e desgrudou seus dedos dos de sua esposa. Joyce estava pálida, seus lábios estavam secos e os olho cansados. Minutos antes tínhamos sido informados que por conta do corrimento, Joyce e seu bebê corriam risco de vida e precisariam de muito apoio, se não...
—... oi. — ela sussurrou.
— Como se sente?
—...muito fraca mas, eu estou lutando...
— E você vai ganhar.
Joyce esforçou-se um pouco e conseguiu alcançar meu rosto com a palma da sua mão fria, o bip alertando a cada batida do seu coração só fez a sensação de opressão aumentar mais ainda dentro de mim.
— Arianna...
— Sim?
— Se eu não conseguir... você pode me prometer uma coisa?
— Não posso... E eu não vou. Eu sei que você vai conseguir sair disso...
Sua expressão fraca logo tornou-se em dor.
— Por favor... — suplicou — Promete à mim que vai conseguir ser uma boa amiga para o meu filho? Que vai dar o apoio que ele precisar?
Trinquei meu maxilar, indignada.
— Pietro já me prometeu, falta apenas você... — contou.
Fechei meus olhos, contendo o que em mim estava confuso.
— Arianna...
— Eu prometo — disse, por fim, olhando em seus olhos.
— E pelos meus pequenos? — sua voz tremeu ao citar as suas duas crianças.
— Eu vou dar o meu melhor, e eles nunca irão esquecer a mãe que tiveram.Joyce me deu sorriso puro...
mas, eu não sabia que seria o último sorriso que eu veria em seu rosto.Suas pálpebras se fecharam, e nunca mais se abriram.
Como eu queria apagar a cena da sua despedia. Como eu queria esquecer o maldito dia em que ela partiu.
A criança, assim como ela, não acabou resistindo e morreu um pouco antes de Joyce. O corpo dela estava esforçando cem por cento pela criança... Eu não sentia nada por aquele ser, a dor foi tão cortante que eu não conseguia mais chorar, não conseguia mais reagir. Ver a lápide de Joyce e a flor vermelha deitada sobre o mármore, não significava nada além da certeza que ela não estava mais comigo, eu não teria mais em quem conseguir distrair minha cabeça de quem eu realmente era.
Mesmo que a partida dela tivesse pontos positivos, segundo meu meio irmão eu não teria ponto sensível em ninguém, nada me atrapalharia — mas não conseguia enxergar isso.
Mãos em meus ombros, tão familiares, me fez suspirar e olhar para trás. Franconi me olhava com preocupação e receio.
Por que eu não conseguia sentir nada por ele, por quê?
Me encolhi no banco de trás, fechando meus olhos e planejando como seria meu futuro. Eu precisava reagir.
Se eu estivesse com dor, não era nada bom que os meus inimigos não estivessem sentindo o mesmo.
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A VERDADEIRA FELICIDADE | LIVRO III
RomanceTerceiro e último livro da trilogia "A Verdadeira Felicidade", já disponível no perfil! Uma tomada de decisão, movida por sentimento e fé, mudará totalmente o destino de cada um...