ÂNGELO VITELLO
Minha garganta estava tão apertada que impediu perfeitamente a entrada de ar pelo meu pulmão. Isso consequentemente era por conta de tudo o que eu estava sentindo, do que estava vivendo... O medo de ser verdade algo que queria me convencer — convencer de que eles tinham partido, de que não iram voltar...
Tudo isso ficou pesado, real e mais dolorido ao ver o estado de minha irmã, Valentina, deitada sobre a maca. O médico disse que a pressão ficou baixa, falta de sono e excesso de choro acabou fazendo-a tombar... Era tão doido ver a maneira que cada um estava suportando tudo aquilo...
— Tio.
Olhei para baixo assim que a mão pequena do meu sobrinho apertou meus dedos. Oliver acabou vindo por sua insistência, por estarmos sensíveis, sequer o impedimos.
— Oi... — respondi, fraco.
— A minha mamãe, ela vai ficar bem?
Seus olhos azuis, assim como o meu, exibiram uma preocupação que me apertou o peito.
— Ela irá, sim — apertei seu ombro — Só irá precisar passar algumas horas aqui.
— Quantas?!
Suspirei, perante seu espanto.
— Não muito tempo.
— Mas, tio...
Agradeci silenciosamente assim que vi Margarida passar pelas portas de metais acompanhado por seu irmão. Assim eu não precisaria ficar forçando uma conversa que queria evitar ao máximo, menos questionamentos era tudo o que eu precisava.
— E então? Como ela está? — questionou Margarida, já próxima o suficiente de nós.
— Ainda dormindo... Os medicamentos a manterão assim durante um tempo — suspirei — Acho que o médico viu a real situação dela e, o fez — pus minhas mãos nos bolsos da calça.
— Será que posso vê-la?
— Acho que sim, mas é melhor perguntarmos para uma das enfermeiras.
— Certo — assentiu.
Assim que foi permitida a entrada dela e de seu irmão, permaneci do lado de fora com Oliver.
— Por que todos lá em casa estão tão... Deprimidos? — sondou — Aconteceu alguma coisa?
O olhei e numa relutância contra mim pensei em dizer a verdade ou, fazer o que todos os adultos fazem, mentir.
— Sim, aconteceu...
— O QUE?!
Peguei sua mão.
— Algo triste.
— E o que é?
— Patrick, Mariana, Benício e Isabella estão desaparecidos...
Não quis mentir, nem omitir, eu tinha certeza absoluta em minha cabeça que ele iria compreender. O garoto já tinha seus dez anos, idade suficiente para entender alguns assuntos.
— Como isso aconteceu?
O tom de preocupado em sua voz me fez franzir o cenho, fiquei calado por um instante tentando não bater em mim. Eu não devia ter falado daquela forma, eu deveria ter mentido... Engoli em seco e encorajei a mim mesmo a continuar a contar, eu tinha começado e tinha que terminar.
— Eles acabaram se perdendo, num lugar muito distante daqui... E agora, às buscas por eles estão acontecendo — omiti.
Mesmo que eu não tivesse recebido alguma notícia, sei que a procura por parte das autoridades prosseguiria.
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A VERDADEIRA FELICIDADE | LIVRO III
RomansaTerceiro e último livro da trilogia "A Verdadeira Felicidade", já disponível no perfil! Uma tomada de decisão, movida por sentimento e fé, mudará totalmente o destino de cada um...