CAPÍTULO 8

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POV AURORA

Os dias passaram voando desde aquela fatídica noite, e agora, eu estava sentada em uma penteadeira enquanto faziam um penteado elaborado em mim. Hoje é o dia do meu casamento e eu podia sentir a ansiedade me corroer por dentro. Estando em um quarto de hotel, várias pessoas trabalhavam em mim para me deixar perfeita, perfeita para meu marido.

O casamento será realizado em uma das igrejas mais bonitas da ilha de Capri e, com todo esse dinheiro gasto, até parece que é um casamento de verdade ao invés de uma aliança desesperada para conter os russos.

Faltando poucas horas para o pôr do sol, meu corpo se arrepia por inteiro ao ver o dia lentamente se transformar em noite. Noite... engulo em seco ao pensar na noite de hoje. Ontem Celeste veio até mim e me contou tudo o que acontece entre um homem e uma mulher por entre quatro paredes.

Muitas mulheres vieram até mim para me "dizer" o que esperar da noite – nenhuma sendo tão específica quanto Celeste –, algumas diziam que era brutal e cheio de sangue, outras diziam que era algo punitivo, mas minha irmã disse o contrário, que quando havia sentimentos, era algo lindo e prazeroso, tudo depende do homem com quem se está.

Não sei o que esperar de Vicenzo. Ele certamente é um homem bruto mas Celeste também achava o mesmo de Hendrick, e ele lhe provou o contrário.

Talvez meu marido também me surpreenda.

Não espero que ele me trate com afeto ou carinho, mas pelo menos que me trate melhor do que meu pai tratava minha mãe. Faço uma careta ao pensar nisso, nem um mês da morte da mamãe e ele já estava com uma noiva. Acho que nunca senti tanta raiva do homem que chamo de pai.

Sou levada para a igreja e aperto minhas mãos em pura ansiedade. Meus olhos vagam em todas as direções, meu coração bate descompassadamente – como se quisesse sair do peito – e sinto-me suar. Tentando controlar a respiração, começo a rezar, enquanto forço meus pés a irem de encontro com meu pai, que me espera diante das enormes portas duplas de madeira escura fechadas. Meu destino atrás delas junto com milhares de outras pessoas.

Com papai cobrindo meu rosto com o véu, posso ouvir a marcha nupcial se iniciar do outro lado das portas. Sem dizer uma palavra, ele toma meu braço e nos posicionamos um ao lado do outro. Não sei porquê esperei que meu pai dissesse alguma coisa – qualquer coisa – nesse momento. Ele não se importa.

Com as enormes portas duplas se abrindo, a primeira coisa que vejo são olhos azul escuro como a noite, um oceano profundo que te puxa para sua imensidão. Bonitos e sombrios, é assim que posso descrever esses olhos.

Vestido em um terno preto perfeitamente ajustado ao seu corpo, Vicenzo estava com os cabelos pretos arrumados de uma forma meticulosa e belíssimo em toda a sua imponência. De repente, lembro desses mesmos cabelos encharcados de sangue grudados em sua testa e minha vontade é de correr e me esconder. Diferente do que minha imaginação nutriu, Vicenzo é brutal, ele é mau, ele cresceu para ser uma máquina de destruição em massa sem compaixão ou sentimentos.

Seus olhos, sem nenhuma expressão ou vida demonstram isso.

Quanto mais eu me aproximo do altar, mais os meus sentimentos gritam para eu correr.

Com meus dedos tocando sua palma calejada, ele me recebe de meu pai e me conduz ao altar, para ficarmos de frente um para o outro. Após ele retirar o véu que cobria meu rosto, o padre começa a reger a cerimônia, mas não consigo prestar atenção em suas palavras. O homem a minha frente, que presta atenção no padre, ocupa minha mente.

Vicenzo vira seu olhar para mim e percebo que uma pergunta me foi feita.

— Aceito. — digo, tentando soar convicta.

MERCILESS HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora