CAPÍTULO 14

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POV VICENZO

A porra do Frederico foi o suficiente para acabar com meu humor, e no momento em que ele conseguiu arrancar um sorriso de Aurora, me sinto perto de perder o controle.

Quando vi aquele maldito sorriso, brilhante pra caralho, direcionado a outro homem, a vontade era de fuzilar Frederico até desintegrar seu corpo.

No momento em que a orquestra começou a tocar uma música lenta, assisto Aurora observar os casais indo para a pista de dança com um certo brilho nos olhos. Não sei o que deu em mim, mas quando vejo, estou com a mão estendida para ela.

— Quer dançar?

Por um momento, a loira ao meu lado parece surpresa, mas logo um sorriso brota em seus lábios carnudos, antes dela pegar minha mão.

Levando-a para o meio da pista de dança, todos os outros se certificam de manter certa distância de nós, enquanto guio-a em uma valsa. A mulher em minha frente estava linda, e isso era incontestável, os cabelos dourados como ouro cascateavam por suas costas em ondas, uma maquiagem simples – apenas para realçar sua beleza – contornava seus traços e destacava seus olhos cristalinos, o verde mais claro que já vi, e seu vestido vermelho era provocador em níveis abomináveis.

Com outros homens olhando-a, me senti tomado pelo sentimento mais primitivo e indecoroso.

Foda-se, ela é minha.

Corpo.

Mente.

Alma.

— Você mentiu. — ela me tira de meus pensamentos ao quebrar o silêncio na qual nos encontrávamos.

Eu minto sobre muitas coisas.

— Do que está falando?

— O discurso. — ela parece incerta, como se estivesse dizendo algo que não devia. — Você disse que eu sou a mulher com quem você vai dividir seus segredos e sua vida.

— Estamos casados, estou compartilhando minha vida com você.  — aponto.

— Mas não seus segredos.

— Você quer meus segredos?

Ela fica uns segundos em silêncio, antes de me surpreender falando:

— Sim, eu quero. Quero um casamento de verdade, com você, quero ser sua esposa, mas não por obrigação e sim por amor. Já que estamos entrelaçados nisso, vamos fazer da maneira certa.

Não respondo-a, atônito por sua coragem. Nunca vi Aurora como algo além de fragilidade e dependência, mas agora ela estava aqui, me encarando com uma dose de determinação queimando em seus olhos.

Mas eu não precisava mais de fogo, não quando minha alma queimou até virar cinzas por Alice. A morte dela me deixou vazio, incapaz de sentir qualquer coisa.

Ela me olha com apreensão e expectativa. Ela quer amor carinho e devoção, não posso dá-la essas coisas.

Eu não respondo, apenas ficamos dançando até a música acabar, e vejo a decepção em seus olhos. Quando a música acaba, guio Aurora até minha família e digo:

— Tenho que conversar com alguns soldados, fique aqui, quando eu terminar vamos embora.

— Tá bom. — ela responde, sem me olhar nos olhos, mas com o tom de tristeza.

Me afasto dela e começo a conversar com os soldados sobre o nosso território e sobre os últimos acontecimentos. Mais tarde, quase no final da festa, fui em direção a minha esposa, e apenas falei:

— Vamos?

Ela acena com com a cabeça e caminhada até ficar ao meu lado, passamos o caminho todo em silêncio, e quando chegamos em casa, sinto Aurora estranha ao meu lado. Como se estivesse inquieta e nervosa.

Já no quarto, deitados na cama de costas um para o outro – nosso habitual –, com o quarto todo escuro, eu sabia que ela ainda estava acordada, mesmo fazendo mais de uma hora que deitamos, em puro silêncio.

Sinto uma sensação estranha no peito ao ouvi-lá fungar atrás de mim.

— O problema sou eu? — ela questiona, a voz falhando.

Se esse fosse o problema...

— É complicado. — respondo com a voz rouca.

— O que é complicado?

— Te amar, você quer que eu te ame, mas isso é difícil.

— Por quê? — ela funga novamente.

Normalmente, eu teria dado uma resposta evasiva, desconversado, mas algo dentro de mim me fez hesitar. Talvez eu estivesse cansado de guardar tudo para mim.

— Há alguns anos, eu era casado. Estava verdadeiramente apaixonado. Mas ela foi diagnosticada com uma doença incurável, ELA. Assisti impotente enquanto ela perdia seus movimentos, cada vez mais deixando de ser a mulher com quem me casei. Revoltei-me contra o mundo, contra Deus, contra todos...

Parei por um momento.

— Depois que ela se foi, algo mudou dentro de mim.

MERCILESS HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora