CAPÍTULO 15

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POV AURORA

Com nossa conversa na cama, senti um enorme peso sair de meus ombros. O problema não sou eu. E agora, com essa constatação, estou decidida em fazer esse casamento dar certo.

Salvar Vicenzo de si mesmo.

Nunca pensei que faria isso, mas situações extraordinárias exigem métodos de resolução extraordinários.

Sempre me vi como uma garota recatada, quieta e obediente. Estou tendo que abandonar meu jeito tímido para fazer meu plano dar certo. Se Vicenzo não vai até mim, eu irei até ele.

Na noite anterior tomei a decisão que irá mudar toda a minha vida e futuro.

Vou fazê-lo se apaixonar por mim.

A primeira coisa que irei estabelecer é o contato, eu e ele quase não nos tocamos ou conversamos em nosso casamento, isso irá mudar.

Entro na sala de jantar, e como esperado, encontro Vicenzo sentado na cabeceira da mesa, lendo seu jornal e vestido em mais um de seus ternos de três peças. A única outra cadeira na enorme mesa é da outra ponta – onde geralmente me sento.

Hoje não.

Ou em algum futuro próximo.

Vou até a cadeira vazia e, sem me importar se posso irritá-lo, começo a arrastar a cadeira até que ela fique ao lado dele. Me sentando em meu novo lugar, me certifico de olhá-lo de uma forma inocente enquanto ele me encara com uma sobrancelha levantada.

— Bom dia. — digo.

— O que significa isso? — ele parece desconfiado.

— É quando desejamos que a pessoa...

— Estou me referindo a cadeira.

Eu sei disso.

— Só queria sentar mais perto.

— Por quê?

— Porque não há motivo para você ficar no norte e eu no sul. Se posso estar mais perto, por que não fazer isso?!

— Porque prezo pelo meu espaço pessoal.

— Eu também, por isso não estou sentada no seu colo. — dei um sorriso.

Vejo uma centelha de surpresa brilhar em seus olhos meia-noite.

— Você é aquele tipo de pessoa que no começo é da um jeito mas depois mostra quem realmente é?

— Talvez. — jogo uma mecha de meu cabelo, que caiu sobre meu rosto, para trás.

Ele dá um meio sorriso.

— Não tente bancar a espertinha comigo Aurora, eu vejo através de você. 

Meu coração bate acelerado no peito e sinto minhas mãos suarem, leva tudo de mim manter a postura de quem não quer nada.

— E o que você vê?

Ele projeta seu corpo para mais perto de mim, seus olhos brilhando com algum sentimento que não sei identificar.

— Uma menina com esperanças infundadas.

— Quem disse que são infundadas?

— Eu disse, então recue. Não brinque com fogo se não quiser se queimar.

— Sempre gostei de brincar com fogo.  — tento mais uma vez.

— Não. — ele profere ao se levantar de seu lugar e começar a ajeitar seu terno. — Você não faz ideia do que é brincar com fogo.

Então ele sai da sala, me deixando sozinha novamente, mas de uma coisa eu tenho certeza, não irei desistir.

***

Já era de tarde quando a irmã de Vicenzo me ligou pedindo que eu fosse em sua casa e disse que um motorista viria me buscar. Chamei meu guarda-costas para me acompanhar, Vicenzo me disse que esse é o único limite que eu não posso cruzar. Eu posso ir para qualquer lugar, mas nunca desacompanhada. Quando o carro chegou, partimos para a casa de Carlotta.

Chegando lá, sou recepcionada por Carlotta, que está em um belo vestido azul marinho longo, que contrasta com seus olhos – os olhos de meu marido.

— Está previsto para quando? — aponto para sua barriga.

— Dia 20 de novembro. — ela responde com um sorriso ao acariciar a enorme barriga.

Esboço um sorriso ao perceber que essa criança é meu sobrinho.

— Mas por que me chamou? — decido questionar, fiquei no mínimo surpresa ao receber o convite.

— Ora, nossos maridos estão naquela reunião e estava me sentindo sozinha, pensei que poderia estar se sentindo do mesmo jeito.

— Uma reunião?

— Sim, é para resolver alguma coisa sobre a guerra iminente.

Guerra?

As informações estavam uma loucura em minha cabeça, eu sabia que alguma coisa estava acontecendo para eu ter que me casar com Vicenzo mas... uma guerra?

— Seu marido te conta tudo? — pergunto, então.

— Com a vida que tem, é bom ter alguém para desabafar.

Começo a me sentir mal por Vicenzo não fazer o mesmo comigo mas me paro, ele ainda vai se abrir comigo, só preciso conquistar sua confiança.

E talvez seu coração...

— Mas não se preocupe. — Carlotta fala, como se pudesse ler minha mente.  — Meu irmão é um homem muito fechado e difícil de lidar, mas você vai ver, não vai demorar muito para ele se abrir com você.

— Assim espero. — suspiro. — Falando no seu irmão...

— O que ele fez?

— Nada, está mais para o que eu estou fazendo. — encarando-a, me sinto falando com a versão feminina de Vicenzo. — Estou tentando conquistá-lo.

Quando sua surpresa passou – o que demorou um pouco –, ela exclama:

— Como posso ajudar?

— Ajudar? — respito.

— Ajudar. — ela confirma.

— Por quê?

— Quero que Vicenzo seja feliz e se liberte das amarras do passado.

Solto um suspiro.

— Ele ainda ama Alice.

— Ele disse isso?

— Não necessariamente essas palavras mas...

— O que ele te disse?

— Que era difícil me amar, porquê a ex-esposa dele morreu e algo dentro dele mudou depois disso. — resumi nossa conversa de ontem.

Ela sorri para mim. Sorri.

— Aurora, aprenda uma coisa, quando se trata do meu irmão você tem que começar a ler nas entrelinhas. Ele nunca vai te dizer o que realmente quer dizer.

— Então ele...

— O problema não é o amor dele por Alice, é o que Alice fez com ele.

Mordo meu lábio inferior.

— O que ela fez?

— Injetou medo em uma pessoa que foi criada para não ter medo de nada e acreditar que o medo é a maior fraqueza existente.

Medo, algo que nunca imaginei Vicenzo tendo.

— E o que devo fazer?

— Se você não se forçar para dentro da vida dele, ficará de fora. Então não importa o quão difícil ele seje, não desista. Cedo ou tarde ele vai ceder.

MERCILESS HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora