CAPÍTULO 19

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~ Um presentinho de natal para vocês! 😉

~ *** ~


POV AURORA

Deitada ao lado de Vicenzo, penso no que acabou de acontecer. Foi uma experiência dolorosa mas foi bom, diferente do que ouvi as mulheres falarem, meu marido foi gentil e paciente comigo. Ambos estamos ofegantes, um do lado do outro.

— Está muito dolorida? — ouço ele perguntar.

— Só um pouco. — digo, sentindo uma leve queimação entre as pernas.

— Você toma pílula?

— Sim, comecei a tomar um mês antes de nos casarmos.

Ele não fala nada, mas pelo canto dos olhos vejo-o acenando com a cabeça.

Me levanto da cama e observo o sangue no interior das minhas pernas, andando até o banheiro com certo desconforto, Vicenzo me segue logo atrás, entrando junto comigo dentro do box.

— O que está fazendo? — questiono meio insegura.

— O que acha que estou fazendo? — pergunta ele enquanto liga o chuveiro.

Com ele dentro do box, não há muito espaço, e de repente percebo que, apesar do que havia acontecido, ainda somos estranhos. Eu me concentro no gel de banho, tentando ignorar a presença de Vicenzo enquanto ensaboava o corpo. É impossível. Vicenzo está em todo lugar. Seu calor chamusca minhas costas. Seu cheiro viril ainda se agarra em mim, dominando o gel de banho.

Ele não diz nada, apenas se limpa. Pelo canto do olho, eu o vejo esfregar meu sangue do seu pau. Logo a água aos nossos pés está em um tom de rosa suave. Enquanto me limpo entre as pernas, estremeço com a sensibilidade e dor.

— Deve melhorar em alguns dias. — ele diz.

Eu me viro um pouco para que possa olhar para o rosto dele, sem esbarrar nele, o que nem faz sentindo, considerando que estávamos muito mais próximos apenas alguns minutos antes.

— Tanto tempo? Achei que estaria bem amanhã.

— Veremos. — é tudo o que ele fala e depois desliga a água. Ele pega uma toalha e me entrega antes de pegar uma para si. Ele sai do chuveiro e se seca.

Eu o observo enquanto envolvo a toalha ao meu redor. Fisicamente, tínhamos estado o mais perto possível que duas pessoas podem estar, mas emocionalmente estamos separados por mundos. Dividiremos a cama novamente, porque eu vi o desejo em seus olhos e porque eu queria. Mas em um nível emocional, porém, seria difícil me aproximar de meu marido, eu já sabia.

Mas não vou desistir, vou persistir até isso mudar.

***

Durante o jantar, o silêncio reinava, nada era ouvido além do tilintar dos talheres. Eu sinto o clima estranho entre nós. Não é um clima desconfortável mas também não é um clima favorável para começar uma conversa.

Nunca me senti tão estranha perto de Vicenzo quanto agora.

Minha cabeça gira com pensamentos, um pior que o outro. Me sinto insegura, nunca estive tão vulnerável na frente de alguém, e mesmo ele tento me tratado com bastante gentileza, é como se tivéssemos voltado para a estaca zero.

Pensando em ideias de como quebrar o gelo, sou interrompida quando uma empregada entra na sala. Ela está segurando uma bandeja de prata, uma carta posta sobre ela.

— Chegou para você, Sr. Bertocchi.

Vicenzo a toma em suas mãos, e depois de um breve momento seu olhar recai sobre mim.

— É um convite de casamento do seu pai. — diz ele, sem tirar seus olhos de mim.

Eu imaginava que ele iria se casar um dia, apesar de estar noivo, mas não imaginei que seria tão rápido.

— Que dia? — questiono.

— Daqui a três dias, iremos partir amanhã.

— Tá bom, irei ligar para Celeste.

Ele acena e me levanto da cadeira logo em seguida.

Ao entrar no quarto, pego meu celular e disco seu número. Depois de dois toques, ela atende.

— Oi Aurora, acho que já deve saber das boas novas. — não deixo de notar o sarcasmo em sua voz.

— Sim, o convite acabou de chegar aqui em casa.

— Eu não acredito que ele vai se casar tão cedo, não tem nem dois meses que a mamãe morreu. Ele é um babaca. Nem respeita a memória dela.

— Ele sempre foi um babaca, Celeste. E a Noemi... ela vai ter que voltar a morar com aquele monstro e não vai ter nenhuma de nós para protegê-la. — as lágrimas começam a brotar em meus olhos.

— Ele já me falou que assim que se casar, ele a levará de volta para casa. Não há nada que possamos fazer.

— Eu vou falar com Vicenzo, talvez eu possa trazê-lá para cá, pelo menos por um tempo, quero adiar seu sofrimento o máximo possível.

Meu pai não pode negar o pedido de um futuro Don. Ou é isso que eu tento acreditar.

— Está bem, nos falamos depois, Noemi está dormindo agora, se não estivesse, a chamaria para falar com você.

— Tudo bem, fala que mandei um beijo e sinto saudade dela.

A ligação se encerra e as lágrimas acumuladas em meus olhos começam a cair. Choro por um longo tempo, pensando em minha mãe e em Noemi. Ouço a porta do quarto se abrindo e sei que é Vicenzo, pois sinto um arrepio passar por todo o meu corpo.

Continuo de cabeça baixa e Vicenzo se ajoelha na minha frente enquanto fala:

— Aurora, olhe para mim.

Eu não faço, então ele pega meu queixo, me fazendo olhar para seus olhos.

— O que aconteceu? — questiona em um tom de preocupação.

Respiro fundo e começo a contar:

— É minha irmã Noemi, estou preocupada com ela, por enquanto ela está segura morando com Celeste, mas agora meu pai vai casar e ela será obrigada a morar com ele, mas ela é só uma criança, não sabe se defender. Você não conhece meu pai, Vicenzo, ele é um monstro. Por favor, podemos trazer ela para cá, pelo menos por uns meses? Quero diminuir ao máximo seu tempo naquela casa.

Ele me olha atentamente, escutando cada palavra que digo, então fala:

— Você sabe que não podemos trazer ela para morar aqui. Posso ser o futuro Don da Cosa Nostra mas não tenho nenhum poder na Camorra. Mas irei tentar conversar com Don Cavalliere, talvez consiga achar um jeito de trazê-lá aqui para uma estadia de alguns meses.

Sem pensar, jogo meus braços ao redor de seu pescoço e o abraço. Ele enrijece em meus braços e logo me afasto, depois de perceber o que fiz. Me levanto da cama.

— Obrigada. — agradeço timidamente.

Mas não espero uma resposta, já vou entrando no banheiro para me aprontar para dormir.

MERCILESS HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora