MERCILESS HEART

CAPÍTULO 29

POV AURORA

Naquela noite em que Vicenzo concordou em tentarmos ter um filho, me senti aliviada por termos os mesmos pensamentos sobre o assunto, e feliz por ele reservar essa escolha para mim, levando em consideração o que eu quero.

Desde então temos tentado, sem resultados satisfatórios.

Os meses passaram voando e agora, Noemi já havia ido embora. Eu sentia falta da minha irmã, mas sabia que não podia mantê-la aqui para sempre. 

Nesse meio tempo, a filha de Carlotta e Lorenzo nasceu e já está com um mês. Minha sobrinha Francesca têm a típica beleza Bertocchi, os cabelos negros, a pele bronzeada, porém, seus olhos são castanhos.

Hoje era aniversário de Frederico Salvatore, o filho do atual Consegliere e amigo de Vicenzo (por mais que Vicenzo não admita). A festa será na Mansão Salvatore, e eu estou na companhia de minha cunhada e sobrinha enquanto nos arrumamos. Carlotta já estava cansada da rotina que um bebê exigia e eu ria de suas "reclamações" enquanto embalava a menininha em meus braços.

— Ela está calma agora, mas é só chegar de madrugada que ela começa a chorar. — ela diz, se maquiando.

Olhando para a bebê em meus braços, dormindo serenamente, mal posso acreditar. Ela é tão calma.

— Dizem que depois você sente falta.

Nossos olhares se encontram através do espelho, e vejo um sorriso malicioso crescer em seus lábios.

— Você e meu irmão estão tentando ter um filho.

Arregalo os olhos.

— Como...?

— Toda vez que você olha para Francesca você adquiri um ar sonhador.

— Tudo bem, é verdade, estamos tentando.

— Que maravilha! Francesca vai ter um primo com quem brincar. — ela exclama, tão sonhadora quanto eu.

— Só não sei quando. — digo, infeliz. — Estamos tentando há alguns meses mas até agora nada.

— Quando chegar a hora, irá acontecer. — ela fala, sabiamente.

— Sim, você está certa. Eu até cheguei a pensar que havia algo de errado comigo. — solto uma risada fraca.

— Eu também tentei por um longo tempo e me martirizei muito por isso, mas quer saber? Eu realmente acho que tudo têm seu momento certo para acontecer.

— Você têm razão. — tento convencer a mim mesma.

Terminando nossa conversa, voltamos a nos arrumar.

***

Chegando na Mansão Salvatore, fomos direto parabenizar Frederico.

— Feliz aniversário, Frederico. — Vicenzo diz ao nos aproximarmos do loiro.

— Ah, obrigado. Cadê o presente?

— A única coisa que você vai ganhar é um tiro na testa se me irritar.

— Que amor! — diz ele, em tom de sarcasmo. Ele se vira em minha direção e cumprimenta: — Aurora.

— Senhora Bertocchi. Cuidado, eu disse para não me irritar. — Vicenzo corrigi e Frederico ignora, sem se importar com as consequências. Frederico é a única pessoa que conheço que desafia Vicenzo e sai em pune.

— Espero que goste da festa. — ele deseja, cordialmente.

— Tenho certeza que irei. Feliz aniversário.

— Obrigado.

— Vamos. — só ouço o grunhido de Vicenzo, antes de quase ser arrastada para longe de Frederico.

— Você precisa parar com isso. — brinco.

— Parar com, o quê?

— Com esse ciúmes. — sorrio.

— Não tenho ciúmes. — ele diz. — Apenas quero deixar claro que você é minha.

— Tá.

Eu estou brincando, mas parece que ele levou a sério.

— Você é minha, e qualquer um que respirar perto de você não irá mais respirar depois disso.

Dou um sorrisinho de canto.

— Tudo bem, eu estaria mentindo se dissesse que não amo esse seu lado possessivo.

Antes que ele pudesse reagir, fico na ponta dos pés e selo nossos lábios em um rápido beijo, sem deixar ninguém ver, indo na direção de Carlotta logo depois e deixando meu marido para trás.

— Vocês são tão lindos juntos. — ela diz, sorrindo. — É bom ver Vicenzo assim, amando.

Meu sorriso vacila.

— Ele nunca disse que me ama. — não sei porquê fui sincera sobre isso.

— Ele pode não estar pronto para dizer as palavras, mas vejo isso em seus olhos. Eles parecem ganhar vida quando te encontram.

Meu olhar desvia para Vicenzo, que estava em uma roda com seus homens. Quando nossos olhares se encontraram, ele já me observava. Abro um sorriso enorme e vejo a silhueta de um se formar em seu rosto.

O máximo de expressão que ele pode mostrar em público, mas eu entendo, Vicenzo está sorrindo para mim.

Meu coração infla, talvez Carlotta tenha razão, talvez ele só não esteja pronto para dizer as palavras.

Continuo conversando com minha cunhada e brincando com sua filha, até uma música mais lenta começar e Lorenzo convidá-la para dançar. Ficando com uma Francesca que dormia tranquilamente, vejo Vicenzo se aproximar.

— Quer dançar?

— Fiquei para babá dessa vez. — rio, mostrando a garotinha em meus braços.

Ele toma Francesca dos meus braços.

— Vou deixá-la com minha mãe.

Voltando rapidamente, ele me leva até a pista de dança. Nossos corpos estão praticamente colados e os olhares trocados são significativos, mesmo que eu não consiga dizer qual o significado.

— Sabe o que estou lembrando? — ele questiona, de repente.

— O quê?

— De quando te apresentei como minha esposa, dançamos aquela noite.

— Eu lembro, te confrontei por ter "mentido".

— Eu não menti.

Reviro os olhos, divertida.

— Naquela noite, você disse que queria os meus segredos, ainda os quer?

Arregalo os olhos.

— Sério? — ele assente. — Quero... eu... eu quero, quero ser a pessoa com quem você compartilha tudo.

— O que quer saber?

Mal posso acreditar que ele está sendo tão acessível.

Penso um pouco sobre o que perguntar.

— Quando foi a primeira vez que você matou alguém?

— Eu tinha 11 anos. Tínhamos acabado de descobrir um traidor e meu pai me levou para a emboscada que faríamos para capturá-lo, ele queria que eu estivesse do princípio ao fim. Depois ele me levou para o local onde eu deveria torturá-lo sozinho até a morte. Levou 49 horas de tortura.

— Você era uma criança...

— Antes de ser uma criança, eu era, e ainda sou, o futuro Don da Cosa Nostra. Preciso ser forte e impassivo para aguentar o fardo.

— Agora você pode dividir seus fardos comigo. — sorrio.

— Você quer meus fardos?

— Eu quero tudo de você.

— Se não estivéssemos em público, eu te beijaria, Aurora.

— Então, vamos para casa.