CAPÍTULO 39

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POV AURORA

Tudo passa como um flashback em minha mente, a invasão, os tiros, as mortes...

Eu me lembro exatamente do momento que o sangue começou a escorrer das minhas pernas, e eu só conseguia pensar em uma coisa.

Meu bebê.

Então, o pânico me tomou.

Os homens, apesar de um pouco surpresos, viram uma oportunidade de atingir ainda mais Vicenzo. Com um deles me dando um chupão no pescoço, parecia que eu tinha sido abusada.

Quando vi Vicenzo, tudo desmoronou.

Depois daí, tudo não passou de um borrão diante dos meus olhos. Eu tinha ciência de que Vicenzo estava comigo, mas o mundo ao meu redor, as palavras, os sons que ouvia, nada faz sentido em minha cabeça.

Então, a escuridão veio.

***

Um som de bipe me acorda, e a primeira coisa que sinto é dor, por todos os lugares. Meus membros estão fracos, minha cabeça está uma bagunça e o som de uma máquina parece maltratar meus ouvidos sensíveis.

Gemo, sentindo uma mão afagar meu cabelo.

— Aurora? — alguém, um homem, me chama, sua voz delicada e baixa.

Eu conheço essa voz. Conheço muito bem.

Ela parece ter algo que me tranquiliza, pois tira um enorme peso no meu peito – um que eu nem sabia que estava lá.

Respiro fundo.

Quero abrir os olhos, quero ver o homem cuja voz é tão profunda e tranquilizadora. Parece ter algo a mais nesse homem, como se eu tivesse uma forte conexão com ele.

Lutando contra o peso que mantinha meus olhos fechados, abro-os, sendo agredida pela forte iluminação.

Paro de respirar quando encontro os olhos do azul mais profundo que já vi na vida. Lindo. Não só os olhos, mas o homem por inteiro.

— Vicenzo... — a realização vem, quando saio do meu estupor.

Ele se aproxima de mim.

— Sim? Está sentindo alguma coisa? Alguma dor? Por favor, se estiver sentindo algo, me diga.

Sorrio fracamente.

— O corpo inteiro dói.

Seus olhos brilham com cuidado e dor – como se fosse ele quem estivesse machucado.

— O que houve?

Seu rosto fica tenso, a mandíbula travada.

— A Bratva queria te usar como moeda de troca para um acordo. Sinto muito, meu amor. — ele está todo tenso. — A guerra não acabou, e sinceramente, acho que nunca acabará.

— Não é culpa sua. — pego sua mão.

— É, sim. Eu falhei em protegê-la. Nunca vou esquecer quando cheguei e te vi sagrando no chão, chorando histericamente.

Meu rosto se torna tão tenso quanto o de Vicenzo quando penso naquele momento.

Tanto sangue.

Saindo dentre as minhas pernas.

Meu bebê...

O pânico me toma por completo.

— Vicenzo... — não consigo falar, tamanho meu medo. — O meu... o nosso...

As lágrimas descem em montes ao pensar que perdi meu bebê. Meu filho. Meu e do Vicenzo.

— Os bebês estão bem. — Vicenzo me tranquiliza.

— Bebês? — pergunto, fungando.

— Gêmeos.

Meu coração palpita. Dois bebês. Isso me deixa feliz e assustada ao mesmo tempo. Mas, principalmente, muito grata por tê-los – ainda tê-los.

— Por que não me contou? — olho para meu marido e vejo-o irritado, mas, acima de tudo, magoado, e isso parte meu coração.

— Eu ia te contar, mas aí brigamos e eu não pude. Antes de você ir para a reunião... eu ia te contar, mas você teve que sair.

— Há quanto tempo sabe?

— Descobri no dia em que brigamos.

— O jantar... — ele constata.

— Eu ia te contar durante ele. — digo, cabisbaixa.

Ele acena, e abaixando a cabeça, deposita um beijo em minha barriga. O ato faz meu coração inchar de amor e carinho.

— Vamos cuidar bem dos nossos bebês. — ele fala.

Com os olhos de enchendo de lágrimas, solto:

— Te amo, Vicenzo.

Seu corpo enrijece apenas para relaxar, antes de dizer:

— Eu também te amo, Aurora. Você foi a melhor coisa que já me aconteceu, e agora está me dando uma família.

Ele se inclina e me beija, no exato momento em que as lágrimas escorrem pelo meu rosto.

E finamente sinto que sou dele.

E ele meu.

FIM!

MERCILESS HEARTOnde histórias criam vida. Descubra agora