i. como se comportar

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oiiiiiii! voltei com uma história longa (tão longa que nem tenho previsão de quando vou terminar) e bem recheada de emoções. esta é a história mais difícil e pessoal que vou escrever na minha vida, mas isso a gente deixa para o final porque é só no final que tudo faz sentido. espero que dê tudo certo. oremos.

*-*

Stella Ribeiro Leal tinha certa obsessão com a própria imagem. Aos catorze anos, ela acordava às cinco e quinze da manhã para tomar café, escovar os dentes e começar a se arrumar para o colégio. Stella cronometrava todos os passos, e tentava não prolongar os olhares sobre o rosto sardento antes de cobri-lo de maquiagem. Para um rosto impecável, livre de sardas, ela seguia à risca as dicas de maquiagem de blogueiras que pareciam entender sobre o assunto.

Embora estudasse em um colégio no qual as sardas eram comuns nos rostos de alguns alunos, Stella não conseguia se desprender da sensação de inadequação. Ela descobriu que apagar comentários vexatórios de anos em poucos meses era uma tarefa difícil.

Depois de pronta, Stella pegou suas coisas e correu para aproveitar a carona do pai. Às sete da manhã, ela desceu do Fiat Siena, o qual estava na família há muitos anos, e se despediu com um aceno distraído antes de bater a porta do carro e se arrastar em direção à entrada do colégio. Para chegar aos portões, ela precisou atravessar a extensa calçada ladeada de gramados bem cuidados e de árvores imensas, cujas folhas eram as mais verdes; os galhos, os mais pomposos.

Era, afinal, um colégio de muito prestígio em um bairro de alto padrão da cidade, onde as casas eram opulentas, impecáveis; os moradores, pessoas, em sua esmagadora maioria, brancas e grisalhas. Stella passou os olhos rapidamente pelas bandeiras de países da América hasteadas elegantemente na frente do colégio, como sempre fazia todas as manhãs, e entrou pelos portões.

— Adivinha quem conseguiu o número da garota mais linda do América — Stella olhou por cima da porta do armário do qual tirou os livros de Ciências e Geografia, encarando o único amigo que tinha feito naquele colégio. Igor apontou para o próprio rosto com os dedos indicadores, feliz e realizado. — Eu! Eu consegui, mas agora eu preciso da sua ajuda. Você é uma garota também, o que eu devo dizer a ela?

— O que você quer dizer para ela? — Stella fechou a porta do armário e começou a caminhar em direção à sala de aula, esperando que ele a seguisse para continuar a conversa.

— Que ela é literalmente o amor da minha vida? — ele respondeu com certa indignação, pressionando a palma da mão sobre o peito coberto por um suéter de caxemira com o logotipo do Colégio Integrado da América. Stella usava um igual.

— Pelo amor de Deus, Igor — Stella bufou, rindo um pouco da paixão avassaladora que o amigo sentia por alguma ricaça do nono ano. — Você tem catorze anos, acalma esse coração. Aliás, meu pai teria um piripaque se ouvisse você usar "literalmente" das formas mais equivocadas possíveis.

— Eu sei — ele sorriu, mostrando as covinhas adoráveis ao empurrá-la de brincadeira com o ombro maior do que o dela. — Eu literalmente sabia que você ia dizer alguma coisa, Stella. Não seja tão previsível.

Stella deixou que alguns alunos passassem por ela para olhar para o amigo com uma boa vontade que não sentia. Cíntia era uma menina relativamente bonita, com uma inteligência acima da média, pacata, mas com amizades duvidosas, por quem Igor estava obcecado desde quando estudaram juntos no oitavo ano. Agora eles estavam separados por uma letra. Cíntia era da turma do nono ano A, enquanto eles estavam no nono ano B.

— Quer um conselho? — ela disse com um suspiro. — Só não seja um babaca mentiroso. No momento que essa sua obsessão passar, seja honesto com ela. Aparentemente, as pessoas tem uma forte resistência à sinceridade.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora