xx. todo carnaval tem seu fim

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Às vezes a gente sente, e fica pensando que está sendo amado, que está amando, e que encontrou tudo o que a vida podia oferecer. Em cima disso, a gente constrói os nossos sonhos, os nossos castelos, e cria um mundo de encanto onde tudo é belo... até que a mulher que a gente ama vacila e põe tudo a perder. 
— Tim Maia

As horas do dia passaram lentamente, e Stella não conseguia tirar os olhos apreensivos do celular, esperando, ansiando, rezando, que Cacau respondesse ao menos uma das inúmeras mensagens que havia mandado. O dia logo se transformou em noite, que se transformou em dia novamente, e então houve o estalo na mente de Stella.

Quando finalmente compreendeu que Cacau não tinha pretensões de respondê-la — que aquela mensagem tão curta, tão brusca, tão decisiva, poderia ter sido o último fio de comunicação entre elas —, uma forte onda de desconsolo e desamparo a inundou de tal modo que foi incapaz de controlar o pranto ao qual tão desesperadamente se rendeu.

Incerta do que deveria fazer, Stella esperou até que as lágrimas secassem, esperou até que o coração pulsasse sem que sentisse as pontadas agudas e vertiginosas toda vez que inspirava. O choro sôfrego e silencioso durou até o anoitecer, quando ela decidiu se recompor para ir atrás de Cacau. Ela precisava impedir o iminente desmoronamento de todos os sonhos que construíram, que alimentaram, durante todos esses meses de relacionamento.

Mais uma vez, ela atravessou a cidade em busca de sua outra metade, determinada a fazer Cacau enxergar que não podiam viver separadas, que o amor que sentiam uma pela outra era o combustível que Stella não sabia que precisava para seguir, e que, agora que estava tão perto do fim, não suportaria continuar sem ela. Stella estava pronta para recitar as mais longas e profusas declarações de amor quando a porta do apartamento de Cacau se abriu e Zuleide a encarou como se já esperasse por ela.

— Oi, Zuleide — Stella a cumprimentou com as mãos dentro dos bolsos da calça de sarja. — Posso falar com a Cacau?

— Você deu sorte — ela disse ao abrir espaço para que Stella entrasse. — Ela chegou faz poucas horas, passou a noite de ontem e a manhã de hoje toda fora. É assim que funcionam os relacionamentos de hoje em dia?

Stella murmurou algo sobre não saber se ainda tinha um relacionamento, mas Zuleide não ouviu — se ouviu, fingiu muito bem.

— Stella? — Cacau abriu a porta do quarto antes que Stella tivesse a oportunidade de perguntar a Zuleide se ela havia notado mudanças no comportamento geral de Cacau. — Ouvi a sua voz e achei que estivesse alucinando... O que veio fazer aqui?

Percebendo os olhares pesarosos e melancólicos, Zuleide murmurou que tinha mais o que fazer e então se retirou em direção à cozinha. O coração de Stella bateu freneticamente com a imagem desoladora de Cacau, cujos olhos fundos e opacos revelavam uma dor semelhante à que Stella estava sentindo. Ao vê-la naquele estado, com o rosto inchado, a maquiagem borrada e os cabelos despenteados, a reação mais imediata de Stella foi se aproximar dela com urgência.

— Será que a gente pode conversar? — ela suplicou, sentindo um peso enorme em seus ombros. — A gente precisa conversar, Cacau.

— Para quê? — ela murmurou, desviando os olhos de Stella para as paredes de seu quarto. — Não vai adiantar de nada. Não tem mais volta.

— Como assim, o que isso quer dizer? — Stella desejou poder segurá-la pelos braços e exigir que ela tirasse aquela ideia da cabeça. — Você não pode terminar assim comigo. Eu te amo, Cacau. Você é o amor da minha vida, não faz isso comigo.

— Esse é o problema, Stella — ela sacudiu a cabeça.

Então, cansada de ficar parada no batente da porta, ela voltou para onde estava antes de Stella chegar, a fim de aumentar a distância que existia entre elas. Stella a seguiu para dentro do quarto e fechou a porta com um suave clique atrás dela.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora