xxxiii. não era amor (era cilada)

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Algumas horas antes de descer para a academia, Brooklin tirou o relógio de pêndulo da parede e o embalou com cuidado. Depois de inúmeras tentativas de silenciar o relógio, ela decidiu que a única alternativa seria movê-lo para outro cômodo. Com um ligeiro arquear de ombro, Stella não se opôs. Desde que não pudesse ouvi-lo, ela não se importava em que lugar o tempo ocuparia no grande vazio do apartamento. Ela não precisava saber sobre as horas do dia, tudo o que importava para ela era que os minutos continuavam a correr contra ela. O tempo era líquido entre seus dedos, e ela jamais seria capaz de retê-lo da forma que gostaria.

— Quanto tempo essa farsa vai durar? — ela perguntou assim que Brooklin voltou da academia, suada e ofegante, vestindo um conjunto de moletom minimalista.

Com o cabelo preso em um rabo de cavalo, ela parecia ter acabado de sair de um comercial da marca esportiva com a qual tinha um contrato milionário. Sentando-se no braço do sofá, ela tirou os fones do ouvido e os guardou no estojo.

— Que tal para sempre? Não sou mulher de me separar — Brooklin pareceu considerar por um momento, forçando uma seriedade que não combinava com ela, o que fez Stella revirar os olhos.

— É sério, Brooklin — ela perdeu um pouco a paciência. — Não me faça reconsiderar essa ideia ridícula de casamento. Estou quase.

— Que mau humor — ela resmungou, desistindo das gracinhas ao respondê-la com má vontade. — Um ano, é o tempo que eu preciso, contando a partir do dia do casamento.

— Quando isso vai ser?

Brooklin cruzou os braços e, então, passou os olhos por todos os lugares enquanto parecia refletir um pouco sobre o assunto, até chegar a uma conclusão.

— Estava pensando em abril, o que acha? Acho que é um bom tempo para sermos vistas juntas e convencer as pessoas que temos mesmo um relacionamento.

— É, pode ser — Stella concordou, deixando de lado o livro Os Sete Maridos de Evelyn Hugo que Brooklin insistiu que ela lesse. — Agora, sobre convencer as pessoas... Podemos dizer que estamos juntas desde outubro do ano passado. A história oficial vai ser uma meia verdade, vamos dizer que a gente se reencontrou no casamento da Helena e da Georgia e desde então estamos juntas.

— A gente conta para elas a verdade ou deixa elas acreditarem nessa "história oficial"?

— Não sei — Stella mordeu o lábio, pensativa. — Isso eu deixo para você decidir depois, agora a gente tem outros detalhes para alinhar. Nossas famílias. Podemos jantar com a sua família primeiro. A gente conta para eles agora, antes de você ir para Moscou, aí quando você voltar, a gente conta para a minha. Preciso de um tempo para retirar tudo o que eu disse sobre você para os meus pais.

— O que você disse sobre mim para os seus pais? — Brooklin arregalou os olhos, parecendo preocupada.

— Ah, só algumas reclamações, nada de mais — ela tentou dar de ombros, mas a expressão de indignação no rosto de Brooklin só se intensificou. — Eu disse que somos incompatíveis, e reclamei que você trouxe gente desconhecida para dentro de casa. É possível que eu tenha chamado você de promíscua, mas não me lembro se usei essa palavra específica. Se eu não disse, eu pensei.

Para a surpresa de Stella, Brooklin pareceu desapontada com a honestidade dela.

— Não acredito que você arruinou as chances que eu tinha de eles gostarem de mim.

— Não arruinei nada — Stella passou a mão no rosto, suspirando longamente. — Minha mãe gostou de você, mas ela meio que gosta de todo mundo. Ela achou você agradável, vê se pode uma coisa dessas?

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora