iv. ponto cego

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Na semana seguinte, Stella esperava Igor sair da sala Chicago para almoçarem juntos, mas decidiu reconsiderar a promessa que fez quando o amigo saiu da sala conversando com Pedro, o ex-namorado de Juliana, e Joaquim. Ao lado dos amigos, Igor acenou para que ela se juntasse a eles, o que ela fez com má vontade. Stella jamais admitiria isto em voz alta, mas a verdade é que ela não sabia como lidar com um grupo de pessoas.

— Stella, você não quer participar da peça de Shakespeare que estamos ensaiando? — Igor perguntou assim que ela se aproximou deles. — Precisamos de uma Desdêmona para a peça de Otelo. A Yasmin desistiu do papel.

— Não, não. Eu não faço mais teatro — ela recusou com um sorriso comprimido, ignorando o olhar apelativo do melhor amigo. — Não adianta me olhar desse jeito, não vai me convencer.

— Por que você não aparece no nosso próximo ensaio? — Joaquim sugeriu com um toque no pulso dela, como se precisasse tocá-la para chamar a atenção de Stella. — Quem sabe você não muda de ideia...

— Talvez — ela se limitou a dizer. Percebendo os olhos incisivos sobre ela, Stella suspirou com uma ligeira agitação. — Olha, eu tentei anos atrás, mas não foi nos palcos que eu me encontrei.

Antes que qualquer um deles pudesse tentar rebatê-la, Natália saiu da sala com Yasmin, e logo Georgia e Juliana se aproximaram. Joaquim deu um beijo em cada uma delas, enquanto Pedro ignorou a presença de Juliana. Apesar das saias justas, Stella foi arrebatada pela sensação de ser a única que não conseguia se encaixar em nenhum grupo, embora se desse o trabalho de se esforçar de vez em quando. Em vez de acompanhar as amigas para o refeitório, Georgia olhou para dentro da sala e perguntou para ninguém em particular:

— Cadê a Brooklin?

— Deve estar se drogando com algum delinquente por aí — Natália riu ao trocar um olhar perverso com Juliana.

— Que horror, Nathy — Yasmin repreendeu a amiga, mas não conseguiu conter a risada cúmplice que tentou esconder com a palma da mão.

— Pelo amor de Deus, Natália, ela perdeu os pais — Pedro saiu em defesa de Brooklin. — Tenha um pouco de compaixão.

— Fala sério, Pedro — Juliana revirou os olhos, atrevendo-se a olhar para o ex-namorado pela primeira vez. — Se a gente não tivesse acabado de terminar, eu diria que você não superou a desmiolada da Brooklin.

— Ela é minha amiga, Juliana — ele retrucou. — Amigos não falam merda dos amigos pelas costas e, diferente de você, eu sou leal e transparente. Mas o que esperar de você, não é? Quem trai namorado, trai amiga também.

— Até quando você vai jogar isso na minha cara? Eu sei que eu errei, mas eu me arrependi e não faço mais — ela se exaltou, aproximando-se dele com certa fúria. — Parece até que você não conhece a Brooklin, Pedro. Ela sempre fez isso. Não pense que ela se importa com a gente, porque ela nunca se importou. A Brooklin pensa primeiro nela, depois pensa nela mais um pouco e depois pensa nela de novo. Se os pais dela não tivessem morrido naquele acidente, eu te garanto que ela teria dado um jeito de matar eles de vergonha.

— Ai, Ju, que pesado — Natália murmurou, e Stella arriscou desviar os olhos arregalados para Georgia, que parecia não ouvir nada do que estava acontecendo ao redor dela.

— É impressionante como vocês falam bobagem — ela finalmente disse, encarando as amigas com desaprovação. — Parece até que vocês estão numa competição de quem consegue ser mais cruel e insensível. O mundo inteiro da Brooklin desabou, o mínimo que vocês tinham que ter é empatia pelo que ela está passando.

— Desculpa, Georgia, mas você sabe que é a verdade — Juliana retorquiu, dessa vez, com a voz menos carregada. — Você sabe que a Brooklin já era. A qualquer momento ela vai ser expulsa, você sabe disso. O comportamento dela é inadmissível, para não dizer escandaloso.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora