xviii. você cavou sua própria sepultura, agora deite-se nela

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Os pais de Stella estavam ansiosos para finalmente conhecer Cacau, mas as agendas desencontradas acabavam por postergar o momento tão esperado por todos. Quando os pais de Stella não estavam sobrecarregados com as demandas de Noah, eles estavam ocupados com as demandas do trabalho, e quando não estavam envolvidos nem com trabalho nem com filho pequeno, estavam lidando com os altos e baixos do quadro depressivo de Patrícia.

Cada dia que passava, Stella se tornava cada vez mais consciente da vida cheia de limitações que a família levava. Noah não conseguia se adaptar à creche, e Patrícia parecia cada dia mais descolada da realidade. O psiquiatra insistia em interná-la, mas o pai de Stella resistia à ideia. Nesses momentos, Stella tentava pensar menos em si mesma e olhar mais à sua volta, para quem precisava dela, enquanto se empenhava em manter o foco no vestibular e o ânimo para aturar os últimos meses do ensino médio.

Os dias agitados de agosto também estremeceram as estruturas do Colégio Integrado da América. No final da aula, em vez de liberar os alunos para o almoço, o professor Domingos pediu que todos permanecessem sentados em seus lugares.

— A nossa excelentíssima diretora gostaria de dar uma palavrinha antes de vocês descerem — ele logo tratou de explicar quando começaram os lamentos e os protestos.

Antes que pudesse acrescentar qualquer outra informação, alguém bateu na porta e ele correu para abri-la. Caminhando com firmeza sobre os saltos de bico fino, a diretora entrou na sala com a professora de Educação Física, que parecia terrivelmente abatida com o que estava para acontecer, até parar de repente e se dirigir aos alunos com uma postura serena e solene.

— Antes de desceram para o almoço — ela começou, com a voz calma e controlada —, a professora Thelma e eu gostaríamos que a responsável por deixar este pacote para trás no vestiário feminino se apresentasse ainda hoje, de preferência, antes que todos os armários sejam devidamente checados. Obrigada, professor. Bom almoço a todos.

Assim que ela se retirou, Stella olhou ao redor, tentando entender o que havia acabado de acontecer. Ela olhou para Cacau, cuja face parecia oscilar entre os sentimentos de espanto e monotonia, e não obteve nada além de um arquear de ombro, como quem dissesse que estava tão perdida quanto ela.

Os cochichos e as gracinhas não demoraram a preencher a sala, e o professor precisou chamar a atenção dos alunos diante da seriedade da situação. Ela só compreendeu que o pacote se tratava de cocaína horas depois, quando os armários foram revistados e os avós de Brooklin foram chamados. Para evitar maiores constrangimentos, a polícia não havia sido chamada.

— Alguém ainda duvidava que a droga era da drogada? — Natália bufou com descrença, apontando para Georgia com desconfiança, durante a última troca de professores do dia. — Ela não te disse nada?

— Só que não era dela — Georgia murmurou, arrasada por não ter como defender a melhor amiga.

— Você acredita mesmo nisso? — Juliana pareceu se compadecer, mas, ainda assim, encarou Georgia como se ela fosse uma grande tola. — Georgia, acharam cocaína no armário dela.

— Eu sei, Juliana — Georgia rosnou na direção dela, com a voz chorosa e ressentida. — Só me deixa em paz, por favor.

No final do dia, Stella, de modo consciente, ignorou todos os alertas que insistiam em tentar tirar sua tranquilidade. Convencendo-se de que Brooklin só estava colhendo o que havia plantado, ela concentrou suas energias no que realmente importava. Todos os pensamentos de Stella haviam sido, deliberadamente, direcionados a preocupações mais urgentes, como a saúde mental debilitada da mãe, as mudanças bruscas de comportamento da namorada, e o vestibular que estava cada dia mais próximo. Então, não deu atenção aos sinais que insistiam em se insinuarem com o decorrer dos dias.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora