xxxviii. revelação

103 6 27
                                    

Stella estava exausta. Há dias sem dormir direito, o corpo dela implorava por uma boa noite de sono, enquanto a mente não aceitaria menos do que o repouso eterno. Trancada no banheiro da universidade, Stella não conseguia conter as lágrimas que escorriam de seu rosto, tampouco foi capaz de colocar os pensamentos em ordem quando ouviu uma batida suave na porta. Ela quis dizer que estava tudo bem, que logo sairia, mas as palavras se tornaram um emaranhado de letras desconexas em sua mente, presas na garganta. Em alguns minutos, ela encararia uma banca que colocaria à prova todas as descobertas que ela havia feito ao longo dos últimos quatro anos.

— Stella, amore, está viva? — Vick deu mais algumas batidas na porta, e Stella cogitou simular um desmaio. — Você está aí há um tempão, responde ou vou ter que arrombar a porta.

— Não quero sair daqui — ela murmurou, secando inutilmente as lágrimas que escorriam pelos olhos inchados dela. — Vou me enfiar nessa privada, dar descarga e desaparecer para sempre.

— Ótimo, abre a porta que eu vou com você — ela disse. — Não estou a fim de defender tese nenhuma mesmo. Ela que se defenda sozinha.

Ao ser lembrada daquilo, Stella quis rir, mas acabou choramingando baixinho um lamento patético. Ela queria poder celebrar o fato de que a amiga também estava prestes a obter o tão sonhado título de doutora, mas a sensação de fracasso iminente a paralisava.

— Vou chamar reforço — Vick finalmente se deu por vencida, compreendendo que Stella não sairia do banheiro tão cedo. — Não sai daí.

Não era à toa que ela estava no banheiro. Stella tinha a sensação de que desfaleceria a qualquer momento. O coração batia rápido demais contra o peito, e a euforia que sentia não a empurrava para o desfecho que ela tanto buscava. Se saísse do banheiro, ela vomitaria. Em suas entranhas, ela sentia que algo de muito ruim aconteceria se ousasse sair daquele cubículo.

— Stella?

Os olhos dela arregalaram ao ouvir a voz de Brooklin, e ela não soube dizer se era real ou não. Talvez ela estivesse em uma daquelas terríveis crises de hipomania, ou seria a clássica ansiedade? Stella não conseguia distinguir.

— O que você está sentindo?

— Que vai dar tudo errado — ela voltou a choramingar, fungando pateticamente ao se enxergar tão pequena e vulnerável. — Eu não vou conseguir, Brooklin.

— É claro que vai — Brooklin retorquiu, sem perder a serenidade no tom de voz, ao parecer se recostar contra a porta. — Você vai conseguir porque dedicou toda a sua vida para chegar até aqui. Não vou deixar você dar para trás agora, porque eu sei que você nunca se perdoaria por se deixar vencer pelo medo.

Stella não respondeu de imediato. Enquanto se ocupava de reorganizar seus pensamentos, ela fixou os olhos no tênis preto de couro da marca com a qual ela tinha contrato, até que sua atenção foi puxada pelo movimento que ela fez do outro lado.

— Quer que eu suborne a banca? — ela sugeriu em tom ameno, e Stella quase pôde vislumbrar o sorriso zombeteiro que se estendia pelo rosto dela. — Não aceito que autoridade nenhuma desestabilize a minha mulher desse jeito.

— Não sou sua mulher — ela resmungou baixinho, embora não houvesse força em sua contrariedade.

Stella se sentia debilitada, e foi com muito esforço que ela conseguiu sair do chão do banheiro de aparência duvidosa para abrir a porta, tombando um pouco para a frente. Brooklin a envolveu em um abraço caloroso assim que a viu. Stella não resistiu aos braços de Brooklin ao redor dela, como também não sentiu o tão familiar incômodo com o contato tão repentino. Elas ficaram daquele jeito por alguns minutos, até Stella repetir que iria fracassar, ao que Brooklin garantiu que ela iria brilhar na frente da banca. Quando enfim se recuperou, recobrando parte da força vital que a impulsionava para a vida, ela olhou para o cubículo com repulsa.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora