xvii. mistério do planeta

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Depois que as cortinas se fecharam, as luzes se apagaram e o circo acabou, Stella procurou Cacau em todos os lugares, mas não a encontrou. Ela soube por Natália que, depois de uma acalorada discussão com Brooklin, ela havia saído sem informar seu destino. Horas depois de ter chegado em casa, Stella passou a madrugada inteira mandando mensagem e ligando para ela. O sumiço dela perdurou por todo o domingo, e Stella já não sabia o que fazer com a angústia que a impedia de raciocinar.

Ela só conseguiu parar de conjurar os cenários mais deprimentes em sua mente quando adormeceu. Ainda assim, enquanto recuperava as energias, foi forçada pelo próprio cérebro a reviver a memória do momento em que Juliana comentou, com a voz abatida, que nunca tinha visto Cacau tão arrasada e fora de si. Stella não conseguia compreender, embora se esforçasse muito, por que Cacau ficou tão abalada com a afronta de Brooklin. No fundo, todo mundo sabia que Brooklin não passava de uma órfã entediada cuja eterna busca por caos a levaria para o fundo do poço.

Na segunda-feira, depois de sobreviver a um domingo sofrível, ela foi para o colégio e ficou ainda mais consternada quando Cacau não apareceu para a aula. Brooklin agiu como se nada estivesse fora do lugar, como se o mundo girasse da maneira que deveria, à exceção do cuidado mais refinado que ela parecia ter com Georgia.

— Foi divertido, você deveria ter visto — ela compartilhou com a amiga durante a troca de professores, esforçando-se para fazê-la rir.

Stella foi rapidamente preenchida por uma onda de irritação com a naturalização de um comportamento inconsequente.

— Você é terrível — Georgia sacudiu a cabeça com os ânimos debilitados, e Stella se perguntou se ela estava com anemia. — Obrigada pelos bilhetinhos, já me sinto muito melhor.

Stella não precisou se intrometer na conversa delas para saber o que tinha acontecido com ela, porque Juliana logo tomou para si a responsabilidade de interrogar Georgia ao virar o pescoço para trás na carteira dupla que dividia com Natália. Ela lamentou a ausência da amiga e, em seguida, perguntou o que Stella também queria saber.

— O que aconteceu com você? Eu liguei para a sua casa no sábado e a Indiana disse que era algo contagioso.

Georgia revirou os olhos, mas não conseguiu conter uma risada rouca de quem havia aproveitado o fim de semana em algum show de rock em vez de deitada na cama.

— É só um resfriado — ela disse com um fiapo de voz.

Ao lado de Juliana, Natália terminou de escrever parte do conteúdo de Química no fichário e então se virou para constatar o óbvio.

— Você perdeu o evento beneficente da Cacau.

— É, eu sei — ela murmurou. — Não pude ir, mas que bom que a Brooklin foi no meu lugar. Já vi os vídeos do show que ela deu. Eu disse que ela nasceu para as passarelas, só falta ela aceitar.

— Se era só um resfriado, por que você não foi? — Juliana insistiu e, embora ela nunca soubesse disso, Stella seria eternamente grata a ela por isso.

— Porque ela não quis perder o tempo dela com aquela piranha dissimulada, Juliana — Brooklin se intrometeu, perdendo a paciência com o assunto. — Será que se eu desenhar bem bonitinho você consegue entender?

— Por que você precisa ser tão grosseira e vulgar o tempo todo? — Stella parou de fingir que não estava prestando atenção na conversa, sentindo a necessidade de defender a honra da namorada.

— É o mistério do planeta, Estelar — Brooklin suspirou. — Vou mostrando como sou, vou sendo como posso. Não sou nada além do que eu posso ser.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora