xiii. todo o tempo do mundo

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Stella esteve tão ocupada nas últimas semanas de março que poucos foram os momentos passados com Cacau. Os minutos passavam depressa quando estavam juntas, mas terrivelmente devagar quando se separavam. Ela pouco se importava com o que acontecia ao seu redor desde que não interferisse em seu romance. Ocupada com a organização de um evento beneficente, Cacau conciliava, também, a rotina de ensaios com o grupo do teatro e as atividades extracurriculares no Jornal do América.

Stella, por outro lado, quando não estava no colégio, estava em casa estudando para o vestibular, e quando não estava ocupada com as demandas acadêmicas, ela utilizava o escasso tempo que tinha para ajudar Helena a se preparar para o vestibular. Stella tinha uma forte intuição sobre Helena, e imaginava que, caso fosse uma garota diferente, ela seria o tipo de amiga que Stella jamais deixaria escapar de sua vida. Mas Stella não era uma garota diferente e aquela amizade dificilmente aconteceria.

— Helena — Stella a chamou de repente, pausando a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas para lançar os olhos em direção a ela. — Você já... Bom, outro dia você me disse que ficou com outras meninas, e eu queria saber... Você já fez... Você já transou com alguma delas?

Helena pareceu surpresa com a pergunta, mas não tentou fugir de ter que respondê-la. Ela deixou as questões de História de lado por um momento, recostando-se na cadeira até achar uma posição mais favorável.

— Não — ela disse simplesmente. — Ainda não cheguei nessa parte com ninguém, na verdade. Eu queria que a minha primeira vez fosse com a Georgia, sabe, mas ela claramente só me vê como amiga.

— Você já falou com ela? — Stella insistiu outra vez para que ela ao menos tentasse conversar com Georgia. Helena não sabia disso, mas tinha mais chances com Georgia do que qualquer garoto estúpido que tanto a preocupava. — Você nunca vai saber de fato se nunca falar com ela. Eu te garanto que você não vai perder nada por tentar, vai por mim.

— Ah, claro, não perco nada — Helena debochou com certo mau-humor. — Só perco a amiga, porque o que pode acontecer é ela nunca mais olhar na minha cara. Então é melhor não, obrigada.

— Você já pensou que ela pode te surpreender? — Stella a encarou com firmeza, esperando comunicar através do olhar o que não podia dizer com todas as letras.

Stella não podia contar um segredo que não era dela, não seria ético se o fizesse, mas ela o faria se Helena insistisse em não dar ouvidos aos conselhos dela. Ela não tinha dúvidas de que Georgia jamais rejeitaria aqueles olhos verdes, os cabelos cor de cobre, as sardas sutis no rosto bonito e europeu de Helena.

— É melhor a gente esquecer isso — ela fez um gesto com a mão e logo tratou de mudar o assunto. — Por que me perguntou aquilo?

— Aquilo o quê? — Stella se esqueceu por um momento o que havia desencadeado a mudança de rumo na conversa. — Ah! — ela então se lembrou. — Sexo com garotas, é verdade. Eu perguntei porque quero fazer e não sei o que fazer nem como fazer. Tenho medo de ser uma completa aberração na hora, sabe?

Helena deu uma risada sincera com a expressão que viu no rosto de Stella e, então, como se pudesse sentir o receio e a ansiedade no ar, tentou tranquilizá-la da melhor forma que pôde.

— Você não vai ser uma aberração — ela riu mais um pouco antes de continuar —, mas é bom que você seja sincera sobre o que você gosta e o que não gosta. Na dúvida, faça com ela o que você gosta de fazer em você.

— Fazer comigo? — Stella tombou a cabeça para o lado, confusa com aquela sugestão recheada de códigos. — O que isso quer dizer?

— Eu quis dizer você tocar ela como você se toca, entendeu?

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora