xxxiv. reputação

58 5 9
                                    

No caminho para a casa dos parentes de Brooklin, Stella se olhou no retrovisor do sedã diversas vezes, aprumando o cabelo, afrouxando o cachecol que a sufocava, tirando as linhas invisíveis do casaco que a protegia do frio, mas nada disso foi o suficiente para distraí-la do fato de que estava prestes a adentrar o tipo de ambiente com o qual não estava familiarizada. Não saber o que esperar do jantar com os parentes de Brooklin a tirava completamente do eixo. Stella não gostava de se expor ao desconhecido.

Do lado dela, com a postura relaxada e a expressão apaziguada, Brooklin dirigia calmamente pelas ruas dos Jardins, enquanto cantarolava baixinho a letra de Hotel California. Como se finalmente percebesse a inquietação de Stella, ela abaixou ainda mais o volume da música e repousou, para o horror de Stella, a mão sobre a perna rígida dela.

— Relaxa, é só um jantar — ela tentou tranquilizá-la, mas tudo o que fez foi perturbá-la ainda mais com o toque indesejado. — Não precisa ficar uma pilha de nervos por causa disso.

Arrependida de ter concordado com aquela farsa, ela cogitou abrir a porta e se jogar do carro em movimento para se livrar da situação na qual se colocou por livre e espontânea vontade. Ela escolheu passar por aquilo em troca de uma vida confortável que Brooklin podia oferecê-la.

— Stella, qual é o problema? — Brooklin perguntou quando o silêncio se estendeu por tempo demais, dessa vez, ela pareceu consternada. — Fala comigo.

— Não gosto de socializar — ela murmurou pateticamente, sentindo-se muito próxima de uma violenta crise de ansiedade. A mão de Brooklin em sua perna parecia pesar uma tonelada. — Eu provavelmente vou dizer alguma coisa inadequada, ou vou acabar ofendendo algum parente podre de rico seu que pode muito bem arruinar a minha vida. Sinceramente, não sei onde que eu estava com a cabeça de sugerir isso.

— Primeiro, ninguém vai arruinar a vida da minha mulher — Brooklin a refutou com veemência.

— Eu não sou sua mulher — Stella a encarou com um misto de estranhamento e escárnio, mas Brooklin não pareceu dar ouvidos a ela.

— Segundo, não precisa se preocupar com isso — ela continuou, com os olhos fixos na estrada. — A minha família não é tão monstruosa assim. O mais chato você já conheceu, mas tenho outros primos também, que são os filhos da tia Sonia e o outro filho do tio Marcos. Meu tio Flávio não tem filhos ainda. Ele é o mais novo. Todo mundo fala besteira e todo mundo se ofende de vez em quando. Não precisa ficar com medo de abrir a boca só porque você é implacável nos seus julgamentos. Vai dar tudo certo.

Embora não se sentisse tão confiante assim, ela grunhiu uma resposta qualquer e escorregou um pouco no banco, desejando se transformar em líquido para escapar de conhecer todos os parentes de Brooklin de uma vez só. A avó de Brooklin morava em uma mansão nos Jardins. Assim que chegaram, elas pararam em frente ao portão imponente e esperaram a entrada delas ser liberada. Brooklin estacionou o carro na garagem ao lado de uma Lamborghini, e Stella se deu conta, assim que desceram do carro, que o carro de Brooklin era o mais modesto.

— Por que você guardou o vinho aí?

Ela perguntou assim que Stella tirou o vinho do porta-malas, mostrando-se confusa, ao mesmo tempo que escondia um sorriso cômico.

— Para não correr o risco desse treco espatifar em mim caso a gente bata o carro.

— Mas e o vidro do carro?

— Aí eu já não tenho o que fazer — ela respondeu gravemente, sentindo dor física diante de diferentes cenários de catástrofe que seu cérebro criava para atormentá-la. — Tenho pensamento ansioso, faço o que posso para me preservar.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora