xix. the story of us (looks a lot like a tragedy now)

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Em tudo aquilo que até hoje eu li, 
ou em lendas e histórias que eu ouvi, 
o amor nunca trilhou caminhos fáceis. 
— William Shakespeare 
Sonho de uma Noite de Verão

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Os dias que se seguiram depois da breve conversa que tiveram nos corredores do Colégio Integrado da América foram de muita angústia, desconfiança e, acima de tudo, incerteza. Stella não duvidava da intensidade de seus sentimentos por Cacau, como também não duvidada que pudesse ser correspondida por ela, mas a constante paranoia não a deixava se distrair do que tanto queria esquecer. Os momentos que viveram, as memórias que fizeram, estavam agora manchados pela incerteza.

Desde então, não houve um dia sequer que Cacau não tenha insistido para que elas conversassem. Stella estava cansada, e tudo o que ela gostaria de fazer era repousar a cabeça pesada sobre o peito de Cacau. No momento em que ela apareceu em sua casa no domingo à tarde — quando sua mãe estava deprimida demais para sair do quarto, e Noah montava e desmontava seus brinquedos na sala —, Stella permitiu que ela entrasse. Cacau cumprimentou Noah, em seu tom de voz menos melancólico, mas ele não deu atenção a ela.

— Ele não fala com ninguém — Stella murmurou, sentindo-se cansada demais para tentar explicar o comportamento insolente do irmão. — Noah, cadê o papai?

Stella suspirou profundamente quando ele a ignorou, como sempre fazia quando tentava interagir com ele. Não havia nada que o interessasse mais do que os objetos pelos quais tinha fixação, e ela suspeitava que ele pudesse ter algum tipo de deficiência auditiva que havia sido ignorada pelo pediatra incompetente dele. Stella, no entanto, ainda não tinha uma teoria que pudesse explicar a completa antipatia nos raros momentos que ele olhava para as pessoas.

— Viu? — ela acenou em direção ao irmão. — Ele só fala quando quer, não sei nem como é a voz desse garoto.

Stella decidiu subir para o quarto assim que ouviu o pai gritar que estava na cozinha. Cacau olhou na direção da voz dele, mas não fez qualquer menção de que queria conhecê-lo, e Stella estava muito deprimida para se dispôr a fazer as devidas apresentações. Elas subiram para o quarto e se sentaram cada uma em um canto. Sentada na cama, com as costas apoiadas na cabeceira, Stella se reservou o direito de não dizer nada até ouvir o que ela tinha a dizer.

— Não sei o que dizer em minha defesa — ela confessou, olhando para as próprias mãos ao se sentar na cadeira da escrivaninha. — Eu sei que não agi certo com você quando flertava com a Georgia na sua frente, mas é que era algo tão bobo... Não quis fazer você de idiota, Stella, não quis. A verdade é que eu não pensava muito sobre isso, sobre as minhas intenções, eu só... fazia.

Stella assentiu, ainda cabisbaixa, e então pensou na pergunta que torturava sua mente desde que soube sobre o envolvimento das duas.

— Você gostou dela?

— Não — ela disse, de modo resoluto, antes mesmo que Stella terminasse a pergunta. — Não significou nada, Stella, eu juro. Eu sempre gostei de você, desde o começo, sempre foi você.

— Não faz sentido — Stella sacudiu a cabeça, e o movimento brusco fez com que as lágrimas escorressem pelos olhos dela. — Como você gostava de mim, mas estava com ela também? Me explica, porque eu realmente quero entender. Como isso funciona, Cacau?

— A gente não tinha nada sério, Stella — ela retorquiu, contorcendo-se na cadeira com ligeira frustração. — Eu disse que relacionamentos me confundem. Eu fico... não sei... ansiosa, apavorada, e acabo fazendo besteira. Me perdoa, por favor, não suporto a ideia de perder você por uma coisa tão insignificante.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora