xvi. a canção de despedida

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Assim que retornaram à festa, Cacau deixou Stella sozinha para cuidar dos últimos ajustes do desfile, cuja finalidade era arrecadar recursos para instituições de caridades das quais era madrinha. Todas as roupas usadas no desfile seriam leiloadas, e Stella sabia que as pessoas que estavam ali tinham dinheiro de sobra para patrocinar o entretenimento beneficente.

Em quase uma hora, Stella passeou pelo hotel e conversou brevemente com Igor e Daniel. Juliana a abordou quando Stella se sentou no sofá para ouvir a música Malandragem, de Cássia Eller ser cantada por outra banda cover na passarela. Elas conversaram sobre todos os colegas que estavam na festa, e Stella ficou aliviada por não precisar falar de si. Cansada de ouvi-la, Stella passou os olhos ao redor do salão em busca de algum lugar em que pudesse aquietar a mente.

— Engraçado — ela comentou com o olhar fixo no que acontecia atrás de Stella. — Nem sinal da Georgia até agora, mas a descompensada da Brooklin resolveu aparecer. Não é muita cara de pau?

Stella olhou por cima do ombro e encontrou Brooklin do outro lado da passarela, passeando ao redor da mesa quilométrica sobre a qual havia uma vasta variedade de comida. Um garçom de boa aparência se aproximou dela para oferecê-la bebida, mas ela pareceu recusar.

— Que laço pavoroso é aquele na cabeça dela? — Juliana desdenhou e, então, como se precisasse de alguém com seu nível de veneno, saiu em busca de Natália.

Assim que Juliana se afastou, Stella enfim pôde respirar em paz. Ela tentou se distrair com o que a banda tocava, mas a monotonia e a curiosidade a fizeram dar a volta na passarela só para poder saber o que Brooklin fazia em uma festa para a qual não havia sido convidada.

— Que surpresa ver você por aqui — ela comentou assim que se aproximou, ignorando o laço ridículo que ela usava na cabeça e o sobretudo preto por cima de uma camisola branca com decote em V. — Veio caçar confusão, não foi?

— Como assim? — Brooklin fez uma careta de desentendida enquanto escolhia cuidadosamente os aperitivos para comer. — Eu vim fazer o mesmo que você. Vim prestigiar a ratazana... Ops, quer dizer, a aniversariante — ela engoliu uma risadinha antes de colocar um canapé na boca.

— Duvido que você tenha sido convidada depois daquela palhaçada que você aprontou no refeitório.

Brooklin desviou a atenção para a banda, que terminou de cantar a música Carla e logo emendou em Anna Júlia. Stella só se deu conta de que se tratava de um medley na transição entre Anna Júlia e Natasha.

— Que baterista gatinho — ela disse para ninguém em particular, mexendo o corpo no ritmo da música ao focar os olhos sobre o mar de comida. — Confesso que fui meio reativa, mas aquela miserável me irritou.

Brooklin virou o rosto para encarar Stella pela primeira vez desde que ela se aproximou. Como se só então fosse capaz de enxergá-la, ela arqueou ligeiramente as sobrancelhas e suspirou um comentário que pegou Stella completamente desprevenida.

— Mas olha só para você, menina Estelar, toda trabalhada na beleza e na confiança. Esse vestido caiu muito bem em você, realçou o que você tem de melhor.

Stella não soube identificar no tom de voz dela se o elogio ao vestido curto, com silhueta evasê, decote fechado, gola careca e costas fechadas, havia sido sincero ou se era mais um de seus truques para desarmá-la e então humilhá-la. Ela cogitou, brevemente, mencionar que o vestido havia sido um presente que a avó costureira fez para ela, mas reprimiu o pensamento no mesmo instante ao antecipar o provável comentário depreciativo de Brooklin em resposta.

— Bem, já você está um trapo — Stella retorquiu ao reparar na aparência desleixada de Brooklin. — Você pelo menos penteou o cabelo?

Brooklin não estava vestida para um baile de gala, como também não parecia despender qualquer esforço em se portar como uma pessoa minimamente civilizada em vez de uma neandertal. Por algum motivo, ela destoava do ambiente que por tantos anos fez parte da essência dela. Stella não deixou de notar que a maquiagem escura ao redor dos olhos estava um pouco borrada e a pouca roupa que cobria o corpo magro dela parecia mais uma mistura espirituosa de pijama com o tipo de roupa de sair à noite.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora