v. felicidade instantânea

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Stella passou os dias seguintes analisando cada ângulo do breve momento que teve com Cacau no jardim. Pela primeira vez em seus quase dezessete anos, ela sentiu um interesse genuíno em alguém a ponto de vasculhar sua mente em busca de assuntos que pudessem prolongar a conversa. Stella queria conhecê-la de verdade, mas não tinha as habilidades necessárias para iniciar uma conversa sem correr o risco de se expor ao ridículo.

Oportunidades para se aproximar não faltaram, mas Stella não conseguia sair da bolha de introversão que a impedia de socializar como uma adolescente normal. Ela não entendia por que tudo era tão mais difícil para ela, mas fez o melhor que pôde todas as vezes que encontrava com Cacau nos corredores lustrosos do Colégio Integrado da América, ou quando almoçavam juntas depois de passarem na biblioteca. Ninguém nunca poderia dizer que Stella não se esforçava, mas a competição era árdua. Ela não podia competir com os galanteios de Igor nem com o charme medíocre de garotos idiotas.

— Gente, qual é a primeira aula hoje? — Juliana perguntou a alguns passos de distância, encarando o armário com o olhar perdido.

— Literatura — Stella respondeu enquanto tirava os livros que usaria nos primeiros períodos. — Depois Biologia.

— Ai, Stella, você me salva tantas vezes — ela suspirou dramaticamente, o que arrancou uma risada de Stella.

Ela viu pelo canto do olho quando Georgia se aproximou dos armários para cumprimentá-las com um aceno ao pegar o que precisaria para as aulas. Stella moveu os olhos para ela e a observou com cuidado antes de exprimir o pensamento que a atravessou.

— Que lindo o seu cabelo, adorei o penteado.

Georgia virou o rosto em direção a ela e sorriu com o elogio.

— Obrigada — ela passou os dedos pela trança embutida por reflexo, voltando a atenção para o que procurava dentro do armário. — Foi a minha irmã que fez. Ela sempre me usa como cobaia para os tutoriais do blog dela.

— Ela leva jeito — Stella fechou o armário e estava prestes a se afastar quando Juliana encostou no armário de frente para ela.

— Depois você me explica tudo aquilo que você escreveu no meu trabalho de Biologia? Meu pai não consegue acreditar que eu tirei um dez — ela bufou, cruzando os braços com indignação. — Que cretino.

— Mas você não tirou mesmo um dez — Georgia disse logo atrás dela, ajeitando a bolsa de grife no ombro ao se colocar ao lado da amiga com os livros no braço direito. — A Stella tirou um dez para você. Aliás, falando nisso, será que você consegue me ajudar com Literatura? Eu preciso tirar uma boa nota na próxima prova.

Juliana a encarou com escárnio, mas antes que ela pudesse tecer qualquer comentário a respeito do pedido da amiga, Georgia acrescentou rapidamente:

— Não me julgue, eu sou de exatas — virando-se para Stella, ela tratou de esclarecer: — Mas eu não quero que você faça nada por mim. Eu quero que você me explique de um jeito que eu realmente entenda. Pode ser?

— Espera, deixa eu ver — Stella pegou a agenda que guardava dentro da bolsa e verificou quais compromissos tinha para aquela semana. — Eu posso quinta e sexta.

— Sexta-feira é perfeito.

Stella assentiu e fez as devidas anotações no espaço vazio para não se perder, afinal, sem uma rotina ela não era nada. Ela não fazia nada que não estivesse devidamente agendado com dia e horário.

— Na minha casa ou na sua?

— Na minha — Georgia decidiu sem pestanejar. — Meus pais vão viajar para Brasília e nenhum dos meus irmãos vão estar em casa. Não vai ter ninguém para interromper a gente.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora