xxvi. bofetada com luva de pelica

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Quando já estavam em São Paulo, Stella instruiu Brooklin a deixá-la em alguma estação de metrô, de modo que ela não se desse o trabalho de alterar o próprio destino por causa dela. Stella já se sentia grata o bastante pela generosidade de Brooklin pela carona, apesar de todos os insultos que ela já ouviu de Stella. Brooklin, no entanto, insistiu que ela colocasse o endereço da casa dos pais no GPS para levá-la até lá, o que Stella não recusou.

— Tem certeza? — ela perguntou por precaução, analisando a postura tranquila de Brooklin atrás do volante. — É na Zona Leste, do outro lado de onde você provavelmente precisa ir. Sério, não me importo de ir de metrô. Você já fez muito em me trazer até aqui.

— Não estou com pressa — ela deu de ombros, despreocupada com o horário. Se tinha algum compromisso, ela não pareceu muito ansiosa para cumpri-lo. — Não me importo de atravessar a cidade, é para isso que o carro serve. Percorrer distâncias, etc.

Stella se deu por vencida, aceitando de muito bom grado a boa vontade de Brooklin de deixá-la na porta de casa. Ainda que fosse uma manhã de domingo tranquila para pegar metrô, ela estava cansada demais para lidar com transporte público, sabendo muito bem o que teria que enfrentar quando chegasse em casa. Comemorações, em geral, serviam apenas para sugar a energia de Stella. Se não fosse o aniversário da mãe, ela voltaria para casa e se trancaria no quarto até a manhã seguinte.

— Brooklin, posso te fazer uma pergunta? — Stella perguntou de repente, virando o rosto para encará-la de modo incisivo.

— Não, Stella, eu já disse. Eu não vou fazer sexo a três com você, não adianta insistir — Brooklin foi rápida em dizer, pegando-a de surpresa com a provocação.

— Você é tão sem graça, sabia? — ela resmungou, revirando os olhos quando Brooklin começou a rir dela. — Você sabe muito bem que não era isso que eu falar.

— É óbvio que eu sei — ela disse, rindo ainda mais de Stella. — Você é careta demais para fazer essas coisas.

— Eu gosto de me preservar, só isso — Stella se defendeu com um ligeiro arquear de ombro. — Sou paranoica demais para fazer sexo casual com uma pessoa só, quem dirá duas. Não só isso, também acho chato e uma perda de tempo. Se você gosta dessas "aventuras" a três é problema seu, tenho nada a ver com isso. Aventura para mim é sair de casa.

— Você é de outro mundo, Estelar — ela riu, balançando a cabeça com uma careta cômica. — Para o seu governo, eu também não gosto de sexo a três. Fiz uma vez só, mais por insistência do meu ex do que por vontade minha, e foi o suficiente para saber que não é tudo isso que falam. Prefiro me concentrar em uma pessoa só.

— Que ótimo, muito feliz por você — Stella murmurou com desinteresse, entediada com o rumo que a conversa tomou. Ela não dava a mínima para as experiências de Brooklin. — Muito bom o papo, mas não era isso que eu queria saber. Será que posso voltar para a minha pergunta original?

— Qual é a pergunta, afinal? — Brooklin perguntou, reclinando-se ligeiramente ao parar no sinal vermelho da Avenida Jacu-Pêssego.

— É uma dúvida antiga a minha — ela começou, escolhendo bem as palavras antes de dizê-las. — Por que você foi expulsa? Eu ouvi dizer que foi porque acharam cocaína no seu armário e...

— Não fui expulsa — ela a cortou antes que Stella pudesse concluir, voltando a prestar atenção na pista livre à frente. — Fui convidada a me retirar. Mas é, acharam cocaína no meu armário e me convidaram a me retirar daquela porcaria de colégio. Eu sei que é difícil acreditar em mim, com todo o meu histórico e tal, nem a Georgia acreditou em mim, mas aquela droga não era minha. Não faço ideia de como aquilo foi parar no meu armário. Eu nem usava aquela merda.

No Final Tudo Faz SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora