"Na calmaria dos tempos bons, os astros sussurram o presságio silencioso da tempestade que se aninha nas sombras do amanhã."
:::Um novo começo se estendia diante dos meus olhos como uma primavera de sorrisos.
Durante um mês inteiro, eu vivi uma felicidade profunda e inabalável. Minha a fazenda era novamente um refúgio seguro e acolhedor , onde eu acordava ao som dos pássaros e do vento suave nas árvores. Cada amanhecer trazia um sorriso aos meus lábios.
O coração dessa alegria tinha um nome "Valesca". Seu sorriso radiante iluminava cada canto da fazenda.
Não se tratava mais de sobrevivência, e sim de viver.
O trabalho não diminuiu porém,
Juntas, explorávamos os campos, colhíamos frutas maduras e compartilhávamos risadas sob o céu azul.A presença de Valesca enchia meus dias de uma luz suave, transformando cada momento nesse lugar em algo verdadeiramente especial. Seu filho, Emerson, também acrescentava um toque de ternura a tudo à nossa volta.
Embora eu mal tenha visto Jorge durante aquele mês, não posso negar que sua ausência não me fez falta. Tudo na fazenda era permeado por uma delicadeza que me tocava profundamente.
A atmosfera na fazenda assemelhava-se ao dedilhado suave de um pianista, uma melodia suave que embalava nossos corações. Dona Teresa demonstrava uma verdadeira maestria na cozinha, e seu marido, o senhor Manuel, mostrava-se um verdadeiro mestre no cuidado dos animais de grande porte, incluindo cavalos, vacas, bodes e galinhas.
Valesca e Emerson cuidavam juntos da horta, cultivando com amor e dedicação. Valesca sempre irradiava um sorriso, e seu filho, com traços tão semelhantes aos dela, parecia um reflexo de sua alegria. Eles haviam vindo do Rio de Janeiro, fugindo das dificuldades que assolavam a cidade.
Valesca compartilhou comigo a tristeza que a envolvia quando mencionava sua irmã, que havia sido levada pelo ministério da saúde no início de tudo por ser uma Eco. Ao falar da irmã, sua expressão sempre se tornava melancólica, e era o único momento em que seu sorriso se desvanecia. Foi por isso que nunca tive coragem de contar a ela que eu mesma também era uma "Eco".
Aproveitava o tempo extra que tinha na fazenda para aprimorar meu Eco. No entanto, algo parecia estar faltando, como se eu não conseguisse expandi-lo plenamente, como se estivesse faltando aquela pitada de sal que realça o sabor da massa. Determinada, eu me concentro
Sentada no topo de um pequeno morro, permito-me sentir a terra sob meus dedos enquanto meus sentidos se mesclavam com a natureza. Conectando-me à grama verde, eu deixo meu Eco fluir, sentindo o vento da minha respiração passar por meus lábios. Deixo a grama conduzir meu Eco, estendendo-o suavemente pela extensão do chão da fazenda.
É um exercício de harmonia com o mundo ao meu redor, em busca daquele sal que me falta.
De olhos fechados, permito que meu dom, que antes considerava uma maldição, percorra a fazenda em 360 graus, varrendo toda a propriedade. Não é mais necessário cantar para desencadeá-lo; basta estar sozinha.
Sinto meu dom se estender por todas as direções, exceto pela fazenda, onde permaneço alheia aos sentidos humanos.
Enquanto minha consciência se espalha, sinto a presença serena dos animais e das árvores. No entanto, em uma direção oposta, algo chama minha atenção. Sinto o som dos cascos de um cavalo, que cavalga em minha direção, cortando a tranquilidade.
Volto ao meu estado normal, mas a inquietação persiste. Mais uma vez, toco a grama, deixando meus dedos mergulharem na terra, permitindo que meu Eco se expanda. Enquanto faço isso, percebo que o cavalo e seu cavaleiro estão mais próximos, e embora não possa ver seu rosto, reconheço a energia que os envolve.

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Refúgio Brutal
Random"Minha história não se encaixa no molde dos romances convencionais. Na verdade, duvido se posso chamá-la de romance de todo. Os romances geralmente se concentram em jornadas de aprendizado e crescimento interior, mas a minha é uma história de pura s...