Fale comigo part 2

11 1 2
                                    

O vento noturno sussurrava segredos enquanto eu,, retornava da caçada. Minha forma monstruosa se contornava à sombra, fluida e camuflada, como se as próprias trevas me abraçassem. Deslizando silenciosamente pelo ar, escolhi a janela do quarto como meu portal de retorno ao refúgio.

A lua lançava uma luz pálida sobre o parapeito, delineando minha silhueta metamórfica. Com destreza, me fundi com a escuridão e deslizei para dentro, como um espectro acostumado a dançar nas fronteiras do visível e do invisível.

O cheiro da noite impregnava o ambiente, uma sinfonia de aromas selvagens que traziam consigo as histórias da floresta que eu acabara de percorrer. Meus sentidos Morphileon se aguçavam, capturando cada nuance do ambiente familiar.

Ao posar os pés no chão, a transformação reverteu-se lentamente. Minha forma fluida cedeu lugar à figura híbrida, uma mescla de predador e presa. Os olhos, ainda refletindo a selvageria da caçada, encontraram o quarto envolto em penumbra.

Minha jornada noturna havia sido concluída, mas a calma pós-caçada era interrompida por uma sensação fugaz de intriga. A noite, repleta de segredos, sussurrava que mais desafios aguardavam nas sombras do meu próprio refúgio.

Ao atravessar o quarto, deparei-me com um cena que escapava à lógica de minha essência. Lá, perto da porta, Eliza repousava no chão, adormecida como uma sombra desvanecendo-se na escuridão. Seu semblante tranquilo, entretanto, não podia esconder a tristeza que permeava o ar.

A visão despertou uma resposta indescritível em mim, uma inquietação que não sabia nomear. Olhei para Eliza, inerte, como se buscasse entender o que a levou a esse estado de letargia. Minha natureza mutante, desprovida de clareza emocional, tentava decifrar a melancolia que pairava sobre ela.

Tentei analisar objetivamente a situação, mas algo difuso e incompreensível me envolvia.

Com extremo cuidado, usei a ponta dos meus dedos, tentando manter alguma delicadeza , para empurrá-la suavemente. Eliza, adormecida no chão, reagiu ao toque, piscando seus olhos inchados, revelando os vestígios de lágrimas recentes. Minha percepção captava a fragilidade em sua expressão, um enigma emocional que escapava à minha compreensão lógica.

A presença silenciosa entre nós parecia carregar a tristeza que ela tentava ocultar. Um eco de dor que, mesmo sem entender plenamente, ecoava na minha consciência mutante.

Eu tento fazê-la ativar o Eco dela mas ela não o faz.

Um sutil desconforto serpenteou por mim.

Minha percepção, destituída de um entendimento convencional das emoções, tentava catalogar essa perturbação, uma sombra inexplicável na calmaria Morphileon.

O eco de algo não totalmente claro ressoava dentro de mim, como se minha essência, limitada em sua capacidade de interpretar sentimentos, experimentasse uma forma primitiva de desconforto diante do mistério emocional de Eliza.

Ainda imerso na ambiguidade das emoções não decifradas, estendi minha mão, puxando suavemente o braço de Eliza em um gesto que, para mim, parecia ser o curso lógico da ação. No entanto, ela resistiu, uma resistência perceptível que escapava à minha compreensão.

Em um rompante de incompreensível frustração, sucumbi a uma reação impulsiva, puxando Eliza de uma vez. O gesto abrupto revelou marcas dolorosas em seu rosto - um lábio cortado e uma bochecha roxa.

A sombra da irritação, uma emoção ainda não identificada para mim, pairava no ar enquanto eu a encarava.

O olhar que costumava ser firme e envolvente agora se esquivava do meu, enquanto Eliza escondia o rosto, uma expressão de desgosto evidente. A atmosfera se carregava com a necessidade palpável de se distanciar, seu corpo projetando uma clara vontade de escapar da presença que antes acolhia.

Refúgio BrutalOnde histórias criam vida. Descubra agora