O caminho do destino

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Cavalgo pela terceira vez, exausta mentalmente. Cada esquina da fazenda traz uma nova onda de angústia. Meus ombros curvam-se sob o peso da incerteza, cabelos desalinhados e a expressão tensa reflete meu desespero. Cada galope ecoa minha busca sem fim, e a falta de pistas me consome.

"Onde ela pode estar?"
Sou assombrada por esta pergunta enquanto cavalgo. Cada sombra, antes acolhedora, agora oculta um mistério sombrio. Meu coração acelera com a preocupação, e a fazenda, outrora um refúgio, se torna um labirinto de possibilidades aterrorizantes.

Ao longe, divislumbro algo conhecido: a blusa xadrez de frio de Valesca, pendurada num galho. Maldigo a mim mesma por não ter notado antes. Meu coração se enche de esperança enquanto galopo na direção daquela peça. Ao descer do cavalo, anseio por reencontrá-la, mas um arrepio de terror me atravessa ao encarar as marcas brutais de violência estampadas na blusa. Cada detalhe é um golpe brutal à minha esperança.

A violência exposta na blusa despedaçada, os rasgos inumanos da gola ao umbigo, descartam a presença dos Morphileons. Eles não se preocupam com roupas. Essa brutalidade é a marca da fera mais sanguinária e vil que habita entre nós: os próprios humanos. O horror cresce,

Ao longe, vislumbro Jorge com alguns homens, alguns rostos familiares daquela noite, outros estranhos. Não importa agora. Eles se aproximam e me orientam a voltar para casa, percebendo minha exaustão.

Decido não debater com Jorge, mesmo sem sentir cansaço. Retorno para casa, mas minha curiosidade me leva a desviar entre os brejos, um terreno úmido e denso seguindo uma trilha de mato amassado que me leva direto para a mata fechada. Meu cavalo hesita, afundando nas áreas alagadas, desafiando os limites da jornada. A sensação de perigo aumenta, mas minha determinação é maior, seguindo em frente, atravessando com cuidado o terreno traiçoeiro.

Atravesso o terreno traiçoeiro, inquieta com a ideia de ela ter caído na água. Logo após a passagem, noto a presença persistente de Jorge seguindo os meus passos, irritando-me profundamente.

_Por que está me seguindo?
Minha voz carrega a tensão.

_Te conheço o bastante para saber que você não iria diretamente para casa. -Seus olhos azuis sondam o ambiente.-Por que está aqui?

_Não é óbvio? Eu preciso achá-la. Imaginar estar perdida nesse lugar é apavorante para mim, imagine para ela!

Observo ao redor e tudo que me deparo é uma vastidão de mato sem fim. A incerteza cresce diante da imensidão do terreno, a angústia sufocante diante da possibilidade de não encontrá-la nesse emaranhado insondável.

_Não pode se colocar em perigo por conta dela!
Exclama Jorge, preocupado.

_É isso que pretendemos fazer? Voltar para casa, deitar no sofá e comer bolo enquanto ela morre sozinha aqui fora, esperando que um de nós, que jurou amizade a ela, saia para procurar?

Minha longa pergunta o faz silenciar por um momento. Sigo com o cavalo, e o terreno parece mais firme, nos levando para fora do pequeno brejo.

_Se sua gente faz esse tipo de coisa, eu lamento, mas eu não faço.
Minha voz, carregada de determinação, ecoa, desafiando a ideia de abandono diante da urgência da situação.

_Eliza,- ele emparelha o cavalo ao meu. - Me escuta somente um pouco.

Paro e encaro Jorge, esperando suas palavras.

_Você está cansada, o dia já está no final, e não existe muito o que fazer.
Suspiro, sentindo o peso da realidade.

_É terrível, eu sei, mas precisa entender que não faz sentido se matar por ela. Aqui fora pode ter de tudo, humanos, Morphileons, animais!

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