Uma fera incuravel.

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"Nas sombras da mente, uma fera adormecida aguarda pacientemente. Ela é a manifestação bruta de nossos desejos mais selvagens, pronta para romper as correntes da civilização e rugir com um poder indomável. A cada respiração, ela se agita, ansiosa por ser libertada, e quando a sociedade se torna uma gaiola apertada demais, é aí que a fera interior ruge com toda sua força, mostrando seu verdadeiro poder."

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Quando finalmente despertei, me encontrei em um cenário desconhecido, cercado por uma floresta densa.

Uma dor profunda latejava em minha cabeça, e uma sensação de fogo consumia meu corpo. Minha visão estava turva, e percebi que estava completamente nu, deitado na grama áspera. Confuso e assustado, eu me levantei, tentando entender onde diabos eu estava.

A paisagem ao meu redor consistia apenas de árvores e vegetação densa. Minha mente estava em branco; eu não conseguia me lembrar de quem eu era, de onde vinha ou como havia chegado ali. Com passos hesitantes, comecei a caminhar pela floresta, perdido em meus próprios pensamentos.

Embora pensar parecia uma novidade para mim.

Os dias se desenrolaram em uma rotina solitária. Minha sobrevivência dependia de caçar animais selvagens e me alimentar deles, mas eu não era como eles.

Havia algo diferente em mim, uma capacidade de pensar que os outros animais não possuíam. Mesmo assim, eu estava faminto, e a necessidade de carne era inegável.

Foi então que, em meio à solidão e à escuridão da floresta, ouvi uma voz celestial. Uma melodia suave e encantadora ecoou pelos bosques, e eu fui atraído por ela, correndo em direção ao som, deixando para trás meus instintos animais e meus desejos carnívoros.

Cheguei a uma clareira e me deparei com uma cena surpreendente. Uma mulher, deslumbrante e misteriosa, estava sentada na grama, olhando para o nada. A seu lado, um majestoso cavalo negro pastava tranquilamente.

Ela sussurrava uma canção tão hipnotizante que mesmo o mais profundo dos meus instintos selvagens não conseguia resistir.

Uma parte de mim gritou "carne!", uma necessidade primordial que ardia em meu peito. Eu dei um passo em direção a ela, pronto para atacar. Mas, em algum lugar dentro de mim, uma voz mais forte sussurrou "pare!" Eu hesitei.

Estava faminto, mas eu não era mais um animal. Não podia me render aos meus instintos. No entanto, eu também não era como ela, e a pergunta que pairava no ar era: quem ou o que eu havia me tornado?
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Nos meses que se seguiram, eu me tornei um observador silencioso. De longe, testemunhei outros como eu, criaturas que se pareciam comigo, tentando se aproximar dela de maneira feroz e primitiva, incapazes de ver além do desejo por carne. Eu não tinha simpatia por eles; pareciam mais bestas do que eu, arrastando-se pelo chão e repetindo a mesma palavra, 'carne'.

Ela, no entanto, era diferente. Ela comia outras coisas, coletando frutas das árvores e folhas do chão.

Eu desejava entender como ela podia encontrar significado em coisas que me pareciam vazias e desprovidas de propósito. As palavras que saíam de sua boca eram estranhas para mim, um idioma que eu não compreendia, mas mesmo assim, havia uma estranha familiaridade em vê-la todos os dias.

Assim como os outros humanos perto dela.

Enquanto os humanos descansavas sob a casa à noite, eu continuava a vagar sem sentir sono, tentando decifrar o que os tornava tão diferente de mim e dos outros.

A cada dia que passava, a luta entre minha natureza primitiva e o desejo de entender o mundo dela se intensificava, revelando um conflito que ecoava nas sombras da floresta e dentro de mim.

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