Depois do café

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O bom humor. Uma sensação que brota unicamente quando estou no controle do meu próprio enredo. Pego a broa de fubá com coco e encho a boca, saboreando cada pedaço como se fosse um pequeno triunfo. A cama é um oásis macio, impregnado com o meu cheiro, uma pequena conquista em meio ao caos.

O café, recém-coado, é uma poção mágica dos grãos que colhidos do meu próprio pé de café. Cada gole é uma celebração da independência e da autenticidade.
O dia ainda não raiou, e Jorge depois da minha convincente narrativa precisou sair para pensar mas acredito que ele não foi muito longe.

Teresa me lança um olhar de soslaio, mas eu respondo com um olhar desafiador, afirmando silenciosamente o meu domínio sobre cada detalhe do meu mundo.

_Estou sem fome, - digo depois do quarto pedaço, deixando a broa de fubá de lado. -Acho que vou dormir um pouco mais.

Me esbanjo na cama, sentindo o conforto envolver cada parte do meu corpo. A mulher, com uma expressão fechada, segura a bandeja. _Onde você estava mesmo? - ela pergunta, desafiadora.

Reviro os olhos e abraço o travesseiro.

_Eu já respondi ao Jorge, agora saia do meu quarto. - Minha voz é um sussurro firme, delineando a fronteira que não deve ser cruzada.

Escuto-a inalar profundamente e, em seguida, colocar a bandeja com cuidado no descanso.

_Escuta aqui, menina.

_Escuta aqui, a senhora, -eu me sento antes que ela prossiga, - não vamos nos esquecer de nossos lugares aqui.- Aponto para mim. - Eu sou a mulher do Jorge e a proprietária dessa casa. Posso ter ficado um pouco abalada com os acontecimentos iniciais mas isso não muda quem eu sou!

Aponto para ela.
_Você é a minha empregada,- pauso, encarando-a nos olhos, - agora saia, eu vou dormir.

Deito e fecho os olhos, enquanto ela sai furiosa, embora não acredite que irei poder dormir por muito tempo depois do que vi, através dos olhos de Pamela. A cada fração de tempo, uso o eco para monitorar o que acontece ao redor.

Sou surpreendida pelo médico que entra em meu quarto. Ele pula pela porta de forma afoita.
_O que você fez?!

Permaneço em silêncio, deitada. Envio uma onda de eco semelhante à que enviei para os cavalos da última vez. Algo mais suave, apenas um sussurro com meu nome. Depois do que aprendi com Pamela, dificilmente estou enganada sobre os efeitos disso.

O homem furioso atravessa o quarto, sua raiva ecoando no ar.
_Não finja estar dormindo, eu sei que está acordada!
Ele ruge, e eu permaneço deitada, aparentemente serena, mas cada fibra do meu ser ciente da tempestade prestes a desabar.

Ele se senta à beira da cama, impiedosamente puxando meus cabelos. Um sorriso desdenhoso se forma nos meus lábios.
_O Jorge pode ter ficado balançado por sua performance, mas eu não! Logo ele vai cair em si, e você terá tudo o que merece.

Ele me lê, buscando qualquer sinal de fraqueza, mas nota que eu não parei de sorrir.
_Do que está rindo?
Ele exige, frustrado.
_Eu fui muito mais convincente do que você pensa...- comento - citei coisas muito especiais que somente uma vítima é um amigo saberia - ele arrega- lá os olhos e aperta meu pescoço, mas meu sorriso persiste, desafiador.

_Do que está rindo!!!
Ele aperta mais, e com dificuldade, entre respirações entrecortadas, eu respondo sorrindo:
_Não, haverá um 'logo'.- respiro- Todos vocês morrem hoje, você é o primeiro...

Cada palavra é uma promessa sutil de resistência, alimentando a chama de desafio nos meus olhos, enquanto o confronto entre ele e eu se desenrola como um duelo silencioso na penumbra do quarto.

Refúgio BrutalOnde histórias criam vida. Descubra agora