Quando Eliza desceu a mesa o café da manhã estava pronto.
O cigano desceu atra dela, e ela congelou seus passos ao perceber a mesa bem feita e já posta.A marechal já havia partido mas o excêntrico doutor ainda estava lá, em pé com seu avental rosa e óculos escuros grandes demais para seu rosto.
A reunião corria silenciosa somente o sons dos talheres e pratos eram escutados.
Havia bolos, biscoitos leites e queijos.
Mas acima de tudo o que mais agradava Eliza era o fato de haver café fresco e pão de queijo recém assado._que horas vou a base?
Eliza perguntou embora já tinha uma mera ideia da resposta.
_Você não irá mais a base treinar.
O médico respondeu e de quatro pessoas na mesa apenas uma ficou surpresa porém aliviada.
Alem de surpresa Clarisse notou uma breve e silenciosa conversa rolando entre Eliza e o cigano com os olhos.
Ela não entendeu mas não deixou que isso se perdesse em su memória._O que faremos nesse período?
_Apenas não saiam da casa mas faça o que quiser.Clarisse ficou de pé, e rapidamente foi até a janela puxando a cortina de lado, pela fresta viu soldados do outro lado muro.
_Estamos em lei marcial? Está acontecendo algum ataque?
Seus olhos foram direto a luz que ascendia sempre que um ataque comprometia a segurança porém essa estava apagada.O médico ficou de pé, deixando uma xícara de café pela metade.
_Não estamos, isso é preventivo.
::::
Clarisse
::::Debruçada sobre o parapeito da janela, contemplo Eliza, que persiste incansável em seu treinamento sob o escaldante sol. Gotas de suor escorrem por sua testa, mas seus olhos, fixos em um ponto distante, irradiam uma determinação inabalável. O chicote corta o ar com a mesma precisão de sua resiliência, enquanto o calor do dia não consegue ofuscar sua obstinação. Cada movimento é um testemunho silencioso de sua força interior, e a visão dela, persistindo mesmo quando exausta, é uma fonte inspiradora de coragem.
Mesmo sem ser Eco ou Morphileon cada vez que ela estala o chicote sinto pequenas ondas de eco escapar por suas pontas.
Ela parece furiosa com alguma coisa.O aroma do café me envolve antes mesmo de avistar a xícara.
_Aceita um cafezinho?
Levanto os olhos e lá está ele, o cigano que parece aspirar à divindade, segurando duas xícaras.
Pego uma, mas meu olhar é carregado de desconfiança.
_Não tem nada aqui, certo?
Ele ri, exibindo dentes brancos, seus cabelos ondulados dançando ao vento.
_Você é tão fofinha e inocente.
Ele me estuda com sobrancelhas franzidas.
_Realmente acredita que um homem bonito e experiente como eu drogaria uma jovem como você para seduzi-la?
Coro.
Não entendo por que, mesmo ciente da triste realidade que se desenrola dia e noite, suas palavras transformam o óbvio em algo que, de repente, parece estúpido ter passado pela minha mente.Ele volta sua atenção para ela, percebendo seu treino interrompido.
_Ela parece zangada.
Ele murmura, bebendo um gole de café.
_Vamos entrar. - Ele sugere, segurando minha mão, mas sinto uma resistência suave.
_Estou observando, sou a acompanhante dela._Irresponsáveis.
Embora seja apenas uma palavra, soa irritada por algum motivo.
_Não sabe que ficar muito perto de uma Eco durante seu treinamento pode te afetar e te fazer sentir o que ela sente?Eu concordo.
_Sei.
Seus olhos verdes reluzem para mim.
_E ainda assim permanece.
Não é uma pergunta, é uma desagradável afirmação.
_Fica por fidelidade a ela ou a eles?Dou de ombros.
_Acho que os dois. - Encaro Eliza, alheia à nossa conversa - Ela parece estar passando por algo difícil, e têm havido muitos olhares trocados nessa casa ultimamente.
Eu a vejo treinar e honesta ela parece estar desesperada por algum motivo, engolindo tanta frustração que cada chicotada dói em mim._Você me intriga. - Ele diz, seus olhos me avaliam intensamente. Me vejo congelada, atraída por aquele olhar. Diferente de seus flertes habituais, há um conflito real em sua expressão.
_Como pode estar tão calma mesmo estando presa.Solto o ar que me vi prender, forçando minha voz a sair controlada.
_O que você vê como prisão, eu vejo como proteção. Não sabe o que é estar dentro de uma situação desesperadora, cercada pela morte.Meu coração dispara com as lembranças.
_Não sabe o alívio de ter alguém que segure sua mão e diga que tudo vai ficar bem e realmente faça tudo ficar._Por isso confia na marechal? Porque ela te salvou?
Ele ri, como se eu fosse tola. No entanto, ele não conhece minha história, não tem o direito de julgar e nem a obrigação de entender. Em meio à conversa, percebo um olhar mais suave,atravessando a fachada maliciosa, criando um vínculo inesperado entre nós._Vai precisar escolher um lado uma hora, - ele diz baixo, seus olhos incapazes de mentir um genuíno interesse me fitam casualmente um vento frio soprou agitando tudo ao redor, o cigano olha o céu soltando um longo suspiro e depois olhou para mim- _espero que escolha o lado certo.
Estou prestes a perguntar do que ele está falando quando sinto a onda me atingir. Estive tão distraída na conversa que não notei o que Eliza fazia.
Ela estava desferindo ataques ininterruptos contra a cruz de madeira, e a obre madeira agora já estava ferida com rachaduras.
_Eliza! - Grito, sentindo o vento aumentar de uma maneira que nunca vi antes, nada parecido.
O chão está tremendo sutilmente, como se as ondas de energia que ela está disparando estejam penetrando nas raízes da terra, buscando um alvo. No céu, pássaros voam em círculos. Estou prestes a sair para fora quando, xingando, ele me ultrapassa.
Ele nem precisa dizer, simplesmente corre em direção a ela, mas antes de conseguir se aproximar, ao pisar na grama do lado de fora, cai ao chão feito uma massinha de modelar.
Mesmo sem sair do lado de fora, sinto um zunido forte em meu ouvido. Uma dor pulsante invade minha cabeça, e a confusão toma conta da minha mente. Encolho-me atrás da porta, exatamente como o cigano no chão. É ensurdecedor.
A única coisa que alivia é a escuridão que vem e vai várias vezes, ainda observando pelo vidro uma Eliza furiosa e descontrolada usando um chicote nas mãos. A imagem pisca repetidamente, e nas últimas, ela também está no chão. Só então permito que a escuridão me envolva por completo. A angústia domina, enquanto a cena desesperadora se desenrola, deixando-me à mercê de um turbilhão de sensações opressoras.
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:: Red::Encaro o céu fechado, prenúncio de uma chuva iminente. Ao redor, vários de minha espécie se alinham como um grupo de morcegos silenciosos.
Então, sinto o Eco dela me atravessar. Não é doce, suave ou macio como de costume. Grita, repleto de desespero e medo. Dou um passo atrás, perdendo o equilíbrio por um instante. Vários de minha espécie também sentem, erguendo suas orelhas como cães que ouvem um apito. Meus olhos seguem a vibração que percorre o chão em direção à casa.
Meu coração, que antes parecia adormecido, bate acelerado no peito. Encaro a casa, aguardando a reação dele ao sentir essa onda de agonia. De repente, ele irrompe o teto, telhas voando em todas as direções. Uma manifestação avassaladora de poder e fúria, como se quisesse rasgar o próprio céu.
Absolutamente furioso, provocado pela angústia que ela enviou até aqui, ele anda como um de nós, soltando rosnados, uivos e vários tipos de sons. Sua vibração desperta todos, e vários de nós começam a imitá-lo. Nervosos, agitados e confusos, transformamos o local em um verdadeiro tumulto sob o sol do meio-dia.
Um sorriso nasce em meus lábios. Ele está vivo outra vez, e essa demonstração intensa de poder e fúria promete uma diversão única.
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Refúgio Brutal
Acak"Minha história não se encaixa no molde dos romances convencionais. Na verdade, duvido se posso chamá-la de romance de todo. Os romances geralmente se concentram em jornadas de aprendizado e crescimento interior, mas a minha é uma história de pura s...