Menininha part3

4 1 2
                                    

Clarisse

Não é um simples jantar como os anteriores que compartilhei com Eliza. Na verdade, evoca a lembrança dos encontros que tínhamos antes de Pamela se retirar, mas agora, há um toque adicional de constrangimento pairando no ar, como uma nota discordante em uma sinfonia de mistérios.

O doutor, adornando um avental rosa, está à frente da mesa, enquanto o cigano me encara intensamente, e a Marechal, com seu olhar penetrante, fixa seus olhos em Eliza, que mantém sua atenção no prato diante dela.

_Comam à vontade!_Anuncia o doutor, e a sala é preenchida por olhares que transmitem segredos que permanecem inaudíveis.

Eu, atenta à cena, tento decifrar os motivos por trás desse clima carregado. Eliza, com uma expressão nervosa, evita o olhar incisivo da Marechal, cujos olhos transmitem uma mistura intrigante de desconfiança e curiosidade.

Enquanto o cigano, com seu olhar perspicaz, mantém os olhos fixos em mim, como se buscasse algo além das palavras, um silêncio tenso envolve a mesa, rompido apenas pelos murmúrios distantes da noite.

A Marechal, quebrando o silêncio, dirige-se diretamente a Eliza, sua voz grave ecoando no ambiente.
_Eliza, há algo que você não está compartilhando conosco?_questiona, acentuando ainda mais a tensão na sala.

_Ham_ - Eliza engasga com a primeira colher, engolindo a pergunta junto com a comida, deixando arroz cair em seu colo. - _Uai, que pergunta estranha!_ Ela olha nervosa pela mesa e ri. -_Todos temos segredos, não é?

Outra vez, o silêncio se instala, já que ninguém pode negar isso. Até que o cigano, apoiando os cotovelos na mesa, decide quebrá-lo.
_Eu não tenho, sou simples como uma pomba.

Retruco,
_Ah, pelo amor de Deus_- meu tom de voz deixa evidente minha descrença.

Ele sorri e perfura a carne com o garfo.
_Minha vida é um livro aberto e a sua?

Eu, sentindo o peso das expectativas, tento desviar a atenção do cigano.
_Enquanto isso, o que nos trouxe a este encontro ímpar?_-pergunto, mas meus olhos revelam a inquietação da incerteza. -_Por que esse jantar?

O doutor, sempre com seu sorriso enigmático, levanta sua taça em um brinde misterioso. _Não posso estar interessado em cozinhar apenas? E ter minha refeição apreciada pelas pessoas que dividem o mesmo teto que eu?- eu gostaria de ver seus olhos por baixo dos óculos -_Gostaria de saber como foi lá na base militar hoje.
Ele revela seu verdadeiro interesse.

A Marechal arregala os olhos e volta-se ao seu prato. Acho que nunca a vi tão desconfortável. Mas agora ela parece estar.

Já o doutor age naturalmente, pegando uma grande quantidade de salada e voltando-se a ela.
_Você está bem, meu amor?

A Marechal sorri amarelo.
_Eu não como em casa já faz um tempo_,ela diz pegando salada, embora odeie. -_Acho que perdi o jeito.

O doutor e ela trocam um sorriso falso, mais falso do que um camaleão trocando de cor, enquanto nas entrelinhas, gritos silenciosos de ameaças pairam no ar.

_Eliza_, diz o doutor com paciência.

Ela suspira, encarando o próprio prato como se não estivesse lendo a cena.
_Foi horrível,- observo-a em choque ao perceber que ela está prestes a revelar o que não deve, e a Marechal vai nos esfolar depois. Ela continua - _eu nunca tinha visto tantos homens reunidos, e quando aquele cachorro mordeu o cara que ficou fazendo piadinhas conosco, foi realmente assustador.

Refúgio BrutalOnde histórias criam vida. Descubra agora