O açougue da memória.

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A fazenda estendia-se diante de Marcelo, testemunhando sua jornada sem direção. Sua mente, uma vez afiada, agora era envolta em desilusão. O que o distinguia dos Morphileons tornara-se uma sombra de sua antiga glória.

Sua habilidade cognitiva excepcional não era mais um farol claro.

Ele se viu andando sem rumo apenas desviando-se de outros como si mesmo, sentindo-se deslocado, não humano e não Morphileon.
Um comandante de um exército sem pátria, sem propósito.

Marcelo avançou cautelosamente até o celeiro, as memórias calorosas de Emerson brincando com cavalos rapidamente obscurecidas pela sombra que pairava sobre o lugar. Ao entrar na estrutura de cimento, seus olhos foram saudados por uma visão de pesadelo. Homens, mulheres e crianças pendurados pelas mãos, como peças inertes em um açougue grotesco, seus olhos vazios refletindo o terror que ecoava naquele espaço macabro. O odor de sangue impregnava o ar, enquanto os corpos balançavam suavemente, como se dançassem uma dança de desespero. O horror que envolveu Marcelo fez seu estômago revirar, e a ideia sinistra por trás dessa cena insana sussurrou em sua mente, provocando um calafrio indescritível. O silêncio sepulcral do celeiro era quebrado apenas pelo ranger sinistro das correntes, ecoando um tormento que transcendia a compreensão humana, mas não a Morphileon.

Ele sabia quem era o autor de tal obra.
Red.

Foi então que aconteceu.

À medida que Marcelo encarava o terrível espetáculo no celeiro, seus olhos capturaram não apenas a macabra disposição dos corpos pendurados, mas também a cruel realidade de que algumas das vítimas ainda estavam vivas. Seus olhos, antes opacos, agora refletiam o sofrimento visceral enquanto tentavam desesperadamente encontrar algum resquício de esperança. Gemidos abafados e olhares suplicantes revelavam a agonia silenciosa que pairava sobre essas almas torturadas. Marcelo, congelado pelo horror, viu-se testemunhando não apenas um açougue físico, mas uma carnificina que se estendia além do corpo, penetrando profundamente em suas emoções. O reconhecimento da sobrevivência angustiante destas vítimas envolveu-o numa sensação de desespero profundo, desencadeando um turbilhão de emoções indizíveis diante da terrível realidade.

_Red!
Ele grunhiu, e como se já esperasse ser chamado o Morphileon apareceu com um sorriso nos lábios.
_Gostou? estou fazendo reservas para a grande batalha que derrubará os muros da cidade refúgio.

Marcelo suspirou fundo.
_Por que humanos e não animais?
_por que animais e não humanos?
Red rebateu.
_Se importa com eles agora?

Em um súbito acesso de fúria e determinação, Marcelo avançou na direção a Red por aquela cena horripilante. Seus dedos, como garras afiadas, fecharam-se com rapidez e firmeza em torno do pescoço do perpetrador, elevando-o do chão com uma força intensa. A vítima, antes imponente, agora pendia vulnerável no aperto impiedoso de Marcelo, seus olhos refletindo um misto de surpresa e pavor diante da repentina reviravolta dos acontecimentos. O ambiente do celeiro, uma sinfonia de tormento silencioso, foi interrompido pelo som abafado de Red sendo suspenso no ar, um testemunho visual da ira fervente que se apoderou de Marcelo.

A atmosfera tornou-se eletricamente carregada, as sombras dançando em torno do confronto tenso entre o justiceiro improvisado e seu alvo. O silêncio era quebrado apenas pelos grunhidos abafados de Red, ecoando como um lamento em meio ao pesadelo que se desenrolava ele assumiu imediatamente sua forma Morphileon se debatendo sobre os dedos de Marcelo.

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