Uma forte luz em meus olhos me traz a realidade.
Estou em uma cama macia que cheira a amaciante.
Eu abro os olhos e escuto vozes.
À minha direita, uma mesa com dois girassóis em um vaso.Eu não preciso de muitos neurônios para saber que isso é um quarto de hospital ou a tentativa de um.
Movimento meu rosto e descubro de onde vêm os ruídos.
Uma dupla de enfermeiros está se divertindo no leito ao lado.
O jovem, que deve ter pouco mais de dezoito anos, está debruçado sobre a moça, e os dois estão trocando carícias e risadas.
Parecem apaixonados.Permaneço observando os dois, enquanto a inveja daqueles sorrisos arde dentro de mim. Minha expressão se fecha em uma carranca furiosa.
Do outro lado da minha cama separados por meia cortina uma pessoa desacordado.
Pelos pés parece um homem adulto.
Eu volto ao casal escandaloso.Os olhos do rapaz encontram os meus e ele se afasta da jovem. Com pele morena e lábios grossos e carnudos, ele ajusta rapidamente suas roupas. A jovem desaparece entre sorrisos.
_Vou chamar o doutor
, ela diz, fechando a porta._Eu não sei se você sabe.
Ele diz batendo uma lanterna pequena em meus olhos.
_Mas você está em Monte Verde._- eu uno as sobrancelhas e ele prossegue verificando o soro em meu braço.
_Voce foi encontrada murmurando loucuras a muitos quilômetros daqui pelo nosso grupo de batedores.Minha mente está confusa.
Minha boca está seca.
_Foi traga pra cá, em desidratação severa.
Ele provavelmente leu meus movimentos.
_Você se lembra de seu nome?
_Eliza.
Respondo quase que automaticamente.
_De onde você é?
Eu uno minhas mãos e procuro me sentar, quero fugir de perguntas.
Ele me ajuda ou pelo menos tenta, assim que sinto suas mãos em mim me afasto rapidamente, ele entende e não insiste.
_É normal a fraqueza.
Ele diz se afastando.Busco em minhas lembranças o caminho que me trouxe até Monte Verde, mas tudo que consigo recordar é o rosto daquele garoto...
Uma onda de arrepio percorre meu corpo, e sinto o ar se tornar escasso.Abro a boca, ansiosa por ar puro e levo minha mão ao colar que Marcelo me deu, pelo menos isso está intacto.
O enfermeiro jovem não percebe, que eu estou evitando perguntas e um médico exausto entra; olheiras profundas marcam seus olhos, e sua cabeça está totalmente careca.
Poderia observá-lo mais detalhadamente, mas a resistência se impõe.Eu não quero observar ninguém.
_Olá, meu nome é doutor Anderson, estamos felizes com sua visita,
_Porem querem que eu vá embora.Respondo o interrompendo.
_Não!
Ele me encara surpreso pela resposta.
_Mas precisamos saber de onde você veio, qual seu nome, e o que aconteceu.
_eu quero sair!
Digo me recusando a ouvi-lo.Negando, tento me erguer, buscando minhas roupas, apenas para perceber que estou envolta em um camisolão hospitalar.
O médico faz um gesto indicando que ninguém me aborde, enquanto eu perambulo pelo pequeno hospital ainda atordoada.
Meus sentimentos flutuam em volta da minha mente como uma nuvem. Raiva, medo, inquietação e uma profusão de emoções. Descubro estar no primeiro andar e saio diretamente para uma rua movimentada.
A cena diante de mim é chocante.
Crianças brincam despreocupadas em um parque.
Idosos se acomodam em bancos, e pessoas comuns passam apressadas, segurando sacolas.O impacto da visão me atinge em cheio.
Um choque absoluto.Uma cidade repleta de pessoas normais, sorrindo e vivendo a vida que eu queria.

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Refúgio Brutal
Acak"Minha história não se encaixa no molde dos romances convencionais. Na verdade, duvido se posso chamá-la de romance de todo. Os romances geralmente se concentram em jornadas de aprendizado e crescimento interior, mas a minha é uma história de pura s...