O retorno part 2

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"As fraquezas mais obscuras de um homem são reveladas não nos seus feitos grandiosos, mas sim nas perversões que ele esconde nas sombras do seu ser."
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Na penumbra da noite, a festividade dos peões desencadeia uma dança de sombras e risos. Homens vigorosos celebram sob a luz hipnotizante da fogueira, as notas fervorosas das canções preenchendo o ar. Enquanto a atmosfera vibrante contagia a todos, um subtexto de desejo paira, transformando a celebração em um jogo sutil.

À mesa de madeira, Jorge e o médico compartilham goles da bebida local, servidos com um toque maternal por Teresa, cuja presença exala uma feminilidade intrigante. No lado oposto da fogueira, Roberto, um enigma em movimento, observa a festa com olhos que refletem inquietantes segredos.

No apogeu da festividade, os uivos alcoólicos dos peões criam uma sinfonia de euforia, mas um silêncio sutil se insinua como um presságio. Enquanto Jorge se entrega aos excessos da celebração, a atmosfera se transforma lentamente, e a atenção da multidão é desviada para um ponto sombrio.

Como se emergisse das profundezas da noite, Eliza avança em direção à fogueira. Seu caminhar cambaleante corta o murmúrio festivo, e o suor misturado ao rastro de sangue em sua pele pálida evoca uma aura de tragédia. O olhar desorientado dela desafia a normalidade da festa, e um silêncio carregado de suspense se instala.

Jorge, perdido nos uivos e no êxtase alcoólico, demora a perceber a mudança. Quando finalmente seus olhos encontram Eliza, a revelação da figura amada e perdida desencadeia um momento de choque coletivo. O murmúrio da multidão desaparece, substituído por um silêncio pesado e aterrorizante.

Num ímpeto de apavoro, Jorge se lança na direção de Eliza, interceptando-a antes que caia desamparada ao chão. Seus braços a envolvem, sustentando-a no momento crítico, enquanto a expressão de choque em seu rosto mal reflete a incredulidade que se apodera dele.

O coração de Jorge acelera descompassado ao segurar nos braços a presença que acreditava ter perdido para sempre. Seu olhar busca respostas nos olhos cambaleantes de Eliza, mal conseguindo acreditar que ela voltou para ele.

_Eliza, o que aconteceu?!?
As palavras de Jorge transbordam de angústia enquanto ele a segura com força. Seu desespero é evidente, refletido na expressão aflita que busca respostas na figura exausta diante dele. Dias de busca desesperada convergem para este momento tenso e cheio de interrogações.

Eliza, porém, exausta e abatida, não tem forças para uma resposta imediata. Seus lábios trêmulos se esforçam a proferir apenas uma palavra:
_Jorge...
O peso do silêncio é tangível, carregando consigo segredos e mistérios que envolvem o retorno inexplicável de Eliza à vida de Jorge.

Jorge ergue Eliza nos braços, um vislumbre de alívio se misturando à sua expressão de incredulidade. Os olhares curiosos dos peões , antes mergulhados na festividade, agora se voltam para a cena dramática que se desenrola diante deles. Sob murmúrios especulativos, Jorge, com Eliza em seus braços, parte em direção à entrada da fazenda, desaparecendo na penumbra.

O médico, com uma expressão calculista, percebe a reviravolta e se aproxima com cautela. Antes que Jorge se afaste completamente, o médico o intercepta, criando um confronto tenso à luz da fogueira.

_Jorge, que surpresa inusitada temos aqui. - o médico disse tentando acompanhá-los - Eliza, a suposta perdida, ressurge das sombras. Isso muda nossos planos, não acha?

Jorge, com olhos flamejantes de determinação e desconfiança
_Não sei o que está tramando, mas ela voltou para mim! Não por você! Não por sua pesquisa! - ele rosnou- Não vou permitir que nada a machuque novamente.

Um olhar decisivo foi lançado ao médico.

O médico, sorriu sutilmente
_Ah, Jorge, você sempre tão emotivo. Mas há forças maiores em jogo nesta noite. Esta é apenas uma reviravolta no enredo que ainda está por se desdobrar.

Jorge, encarando o médico com olhos que faiscam uma mistura de raiva e determinação, pronuncia cada palavra com um peso ameaçador:
_Fique. Longe.

Sua voz, normalmente serena, carrega um timbre grave e cortante, delineando a clareza da ameaça subjacente. A tensão no ar aumenta, ecoando a promessa de consequências severas caso o médico desafie essa advertência direta e visceral.

Numa coreografia silenciosa, Jorge adentra o quarto com Eliza em seus braços, a luz tênue revelando detalhes da expressão tensa em seu rosto. O silêncio é quebrado apenas pelos sussurros distantes da festividade lá fora. Com um toque cuidadoso, ele deposita Eliza na cama, seu olhar permanecendo fixo nela como se tentasse decifrar os mistérios que ela traz consigo.

Cada movimento de Jorge enquanto limpa gentilmente o corpo desacordado de Eliza é meticulosamente calculado. Suas mãos, contornando cada curva, revelam uma obsessão palpável, um cuidado que transcende os limites da normalidade. A cena se desenrola lentamente, uma dança de sombras e gestos, enquanto ele se entrega à tarefa com uma devoção intensa.

_Onde esteve minha capivara...
Ele choraminga.
_Achei ter perdido você...

Finalmente, com a meticulosidade de quem molda uma obra de arte, Jorge ajeita os lençóis em torno de Eliza. O quarto, mergulhado em silêncio, torna-se o palco íntimo dessa demonstração de obsessão e zelo.

Exausto pela intensidade da noite, Jorge se deita ao lado dela, a proximidade física criando uma conexão que transcende as barreiras da razão. No silêncio do quarto, a respiração de ambos se entrelaça, marcando o início de uma noite que, sob o véu da escuridão, esconde promessas e segredos obscuros.

As horas escorrem lentamente, marcadas apenas pelos suspiros de Jorge enquanto permanece ao lado de Eliza. A atmosfera no quarto é impregnada de uma quietude tensa, que se estende enquanto o relógio avança, registrando o desenrolar de uma noite carregada de segredos.

Jorge, eventualmente, cede ao cansaço acumulado. Seus olhos, antes vívidos e alertas, pesam sob o peso das horas insones. Seu corpo relaxa gradativamente, e a respiração profunda indica o naufrágio gradual na inconsciência do sono.

É nesse momento, quando a noite atinge seu auge silencioso, que Eliza, com uma frieza calculada, abre os olhos. A escuridão do quarto reflete naquele olhar, revelando um despertar premeditado. Sua expressão, distante e imperturbável, contrasta com a quietude que envolve o quarto.

No momento em que a escuridão abraça Jorge, Eliza tece sua trama calculada. Cada detalhe, extraído das sombras das memórias de Pamela, é uma peça estratégica em seu plano intrincado. Uma serpente na relva, ela espera pacientemente até a certeza de que Jorge está envolto no abraço do sono.

Com um suspiro que ecoa com a inevitabilidade do destino, Eliza decide iniciar seu teatro. Gritos rasgados, carregados de uma angústia que ela manipula com maestria, rompem o silêncio do quarto. Cada grito é como uma nota em uma sinfonia de desespero, projetada para penetrar nas mentes adormecidas dos peões na fazenda.
_socorro...Jorge me ajuda!

Os sons agonizantes reverberam pelos corredores vazios, uma performance convincente que se infiltra nas almas tranquilas dos que descansam. Enquanto a fachada de terror se desdobra, Eliza se torna a diretora de uma narrativa que promete abalar as fundações da noite. O jogo está em andamento, e ela é a mestra de marionetes no palco sombrio de suas próprias ambições.

O estrondo dos gritos desesperados rompe o silêncio noturno, arrancando Jorge do seu repouso. Seus olhos se abrem, acusando confusão e preocupação enquanto ele avalia a cena ao redor. O desespero pintado no rosto de Eliza, agora sob a luz vacilante do quarto, é a primeira visão que encontra.

Jorge, num instante de empatia, se lança ao lado dela, suas mãos buscando acalmar o tumulto que a consome.
_Eliza, o que houve? Quem te feriu? onde você estava?

A preocupação se reflete em sua voz, enquanto ele tenta desvendar os tormentos que ela aparentemente carrega.

Cuidadosamente, ele a segura, buscando oferecer consolo em meio à tempestade simulada. Seus olhos, atentos e repletos de inquietude, aguardam uma resposta que poderia desvendar os segredos sombrios da noite.

_Ele me prendeu. - ela diz entre soluços- Com correntes.
_Quem Eliza?!? Quem te prendeu?

Eliza se apoiou nos ombros de Jorge e mantendo o choro deu um sorriso suave antes de falar.
_O médico Jorge! O doutor!Disse que nem você seria capaz de me salvar! Que você era um brinquedo dele! E que agora eu era propriedade dele.
Jorge a puxou, para encarar os olhos piedosos de Eliza.
E a moça chorando disse.
_eu tenho como provar.

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