Capítulo 1

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Gabriel Brineli

Rio de Janeiro - Brasil

Naquele dia tumultuado na empresa, com uma sequência interminável de reuniões e problemas a resolver, minha cabeça parecia à beira de explodir. Ser o dono de uma empresa multiplataforma de entretenimento noturno, como a Fábrica, revelou-se um desafio monumental. Este espaço representava a concretização de um sonho compartilhado com meus parceiros, um lugar onde podíamos expressar toda a nossa criatividade para entregar eventos memoráveis e manter nossos clientes satisfeitos.
Esse sonho, enraizado desde a adolescência, quando eu, um jovem de 15 ou 16 anos, descobri minha habilidade ao organizar festas clandestinas na cobertura do meu pai, evoluiu de maneiras inimagináveis. O playboyzinho da zona sul viu suas modestas festinhas transformarem-se em grandiosos bailes funk em Honório Gurgel, marcando uma reviravolta extraordinária em minha jornada empreendedora.
Aos 30 anos, atingi o ápice da minha carreira. Organizando uma festa de réveillon, com um camarote no carnaval, além de três eventos notáveis, parcerias de sucesso e participação em festivais, a Fábrica prosperou. Agora, com sedes no Rio de Janeiro e em São Paulo, testemunho o crescimento do meu império de entretenimento. Tornei-me uma figura reconhecida e famosa pelos eventos que orquestrei, trilhando um caminho que me levou do sonho adolescente à consagração no universo vibrante da vida noturna.

- Fala, meu Rei do Camarote!

A voz de Adriel penetra minha sala, e imediatamente, sinto uma latejante dor de cabeça. Adriel, meu primo, meu mais leal amigo e meu braço direito na empresa, sempre compartilhamos uma conexão inquebrável. Ao lado dele, está seu irmão, Pablo, também peça fundamental na dinâmica da nossa empresa. Além desses laços familiares, meus irmãos, Victor, Camila e Duda, integram esse intrincado universo empresarial que construímos juntos.
Victor, Camila e Maria Eduarda não compartilham meu sangue, pois fui adotado quando ainda era jovem. Minha mãe, Elis Brineli, uma das grandes cantoras do Brasil, partiu precocemente. Meu pai biológico se perdeu no mundo, e, sinceramente, nunca me interessei por ele. A verdade é que minha mãe sempre me protegeu, evitando qualquer vínculo com esse homem, descrito nas histórias como alguém terrível. Minha verdadeira família surgiu quando fui adotado pelo melhor amigo de minha mãe, Roberto Schenberg, após sua partida. Ele se tornou meu pai de coração e continuará sendo para sempre.
Quando jovem, Roberto tomou a decisão extraordinária de formar uma família ao lado de sua também grande amiga, Mônica Sá. Essa parceria, no entanto, não seguiu os padrões convencionais, pois ambos reconheceram suas orientações sexuais: Roberto era gay, e Mônica, lésbica. A singularidade dessa amizade transcendeu os limites tradicionais, unindo-os com um propósito claro: ter filhos. Assim, nasceu uma família brasileira que desafiava as normas, provando que os laços que importam não são definidos pela conformidade, mas sim pelo amor, respeito e compromisso mútuo.

- Se você entrar desse jeito de novo, juro que acabo com você. - Digo, com os olhos cerrados, massageando as têmporas. -O que aconteceu agora?

- Os telefones estão fervendo, ligações para lá e para cá, Brineli. - Adriel comenta, sentando-se à minha frente. - Ao devo te chamar de 'Amor da vida da Anitta'?

- Merda! - Travo e o encaro desconfiado. - Larissa aprontou de novo? -Ele afirma sorrindo- Porra...

Nessa altura do campeonato, eu deveria ter me acostumado a chamá-la apenas de Anitta, deixando para trás o nome original. No entanto, esse hábito persistia, uma lembrança difícil de abandonar. A verdade é que me era complicado assimilar a figura da renomada artista Anitta, pois a conheci como a Larissa de Honório Gurgel. Aquela jovem por quem me apaixonei intensamente, mas que hoje é envolvida por uma barreira impenetrável. Após o término, ambos saímos machucados, alimentando apenas sentimentos negativos. A única consideração que ainda nutro por ela está ligada à sua família e ao seu irmão, que também é um dos meus melhores amigos. Além disso, há o fator profissional, onde reconheço a importância mútua em nossas vidas.
Contudo, ao assistir a um vídeo de uma entrevista que circulava nas redes sociais, onde ela discorria sobre nosso relacionamento, engoli em seco e experimentei um incômodo ao perceber autenticidade em suas palavras. Ela afirmava que eu tinha sido um grande amor em sua vida, e aquilo mexeu comigo de uma maneira inesperada.

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