Capítulo 60

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Gabriel Brineli

Miami

Enquanto os dias fluíam, a agitação preenchia nossas rotinas. Contudo, algo parecia pairar no ar, um desconforto sutil que se intensificava a cada olhar evitado e cada palavra não dita. A recente viagem ao Brasil apenas exacerbou a tensão que já existia entre nós. Uma noite casual com amigos no agitado cenário carioca se transformou em um campo minado de ciúmes e discussões acaloradas, deixando-nos ambos em um estado de desequilíbrio emocional. Mas o que mais me inquietava era a mudança no comportamento de Anitta. Antes calorosa e íntima, agora ela se mantinha distante e reservada, como se estivesse escondendo algo de mim. Um segredo que pairava no ar, provocando um desconforto crescente em meu peito, enquanto eu me esforçava para entender o que ela escondia tão diligentemente de mim.
Enquanto o sol começava a se pôr sobre os
arranha-céus de Miami, eu deixei nossa casa ainda envolto pela atmosfera tensa que pairava entre nós. Horas de treinamento físico pela manhã foram seguidas por uma imersão no mundo dos negócios quando cheguei ao escritório. Ali, entre novos parceiros e colegas, mergulhamos em discussões intensas e brainstorming para criar e desenvolver um evento inovador. O tempo parecia voar enquanto nos entregávamos completamente ao processo, comprometidos em entregar uma experiência única para nosso público. No entanto, mesmo imerso nessas atividades, minha mente não conseguia escapar da sensação de que algo estava profundamente errado entre mim e Anitta.

- Um café da tarde em Miami? -Victor propõe, enquanto cuidadosamente organizamos os papéis da reunião.

- Quem paga a conta? -Provoco, olhando meu irmão nos olhos.

- Você é o chefe, parceiro. -Ele responde com um sorriso brincalhão, deslizando seu celular no bolso.

Deixamos para trás as torres imponentes do escritório e nos dirigimos, passo a passo, rumo à mais acolhedora das cafeterias. Victor retornara comigo para Miami, sob o pretexto das saudades, mas todos sabíamos que seu verdadeiro interesse residia na misteriosa "namorada" local. No entanto, para além das brincadeiras e suspeitas, sua presença era um conforto constante. Eu e Victor, unidos por laços não consanguíneos, éramos como duas peças de um quebra-cabeça perfeitamente encaixadas, navegando pelas marés da vida com harmonia e cumplicidade inabaláveis.

- Merda! -Murmuro, frustrado, enquanto me acomodo na cafeteria e verifico meu celular, sem encontrar respostas às mensagens enviadas para Anitta.

- A Larissa não te respondeu? -Pergunta Victor, sentando-se à minha frente e eu nego- Bloqueando o celular e encarando meu irmão -Pensei que estivéssemos bem.

- Estávamos, até eu ir para o Rio. -Desabafo, recostando-me na cadeira e folheando o cardápio- Decidi sair um pouco, ela sentiu ciúmes e o resto você já pode imaginar...

- Imaginei que tivessem superado essa fase. -Comenta Victor, erguendo o dedo para chamar o garçom.

- O problema é que eu e Larissa temos um prazo limitado para viver em paz, sem brigas e sem nos provocarmos. Confessei, enquanto esperávamos nossos pedidos - É sempre a mesma história.

O que começara como um simples e rápido café da tarde ao lado do meu irmão, transformou-se em um momento de conexão profunda, repleto de conversas sinceras, desabafos emocionais e risadas compartilhadas. Após horas imersos nesse ambiente acolhedor da cafeteria, onde o aroma do café pairava no ar, finalmente decidimos encerrar nossa tarde. Pagamos nossas contas e saímos juntos, caminhando até o estacionamento onde meu carro estava estacionado. Ofereci uma carona para Victor, que prontamente aceitou, e seguimos até o hotel onde ele estava hospedado. Após deixá-lo na entrada do hotel, dirigi-me para minha casa, ansioso para o conforto do lar após um dia emocionante. Ao adentrar, estranhei o silêncio que me recebeu, percebendo que estava sozinho, sendo recebido apenas pelos latidos alegres e saltitantes dos meus amados cachorros, que correram em minha direção, demonstrando sua alegria pelo meu retorno.
Subi as escadas com passos pesados, carregando o peso do cansaço do dia. Ao chegar ao quarto do Joaquim, a porta entreaberta revelava a silhueta tranquila do meu filho adormecido. Um misto de alívio por vê-lo em paz e culpa por ter demorado tanto tempo me invadiu. Suspirei, antecipando a inevitável discussão que teria com Anitta. Entretanto, ao entrar no nosso quarto, deparei-me com uma cena que me fez congelar. Ela estava lá, impecável como sempre, com cada detalhe cuidadosamente arranjado. Seu vestido destacava sua beleza, e uma onda de ciúmes e insegurança me invadiu, fazendo-me engolir em seco.
Nunca fui do tipo ciumento em relação às roupas de Anitta. Sempre entendi que seu estilo extravagante fazia parte do seu trabalho como cantora, e suas escolhas eram parte do seu brilho nos palcos. No entanto, dessa vez, foi difícil ignorar o incômodo que me consumiu ao vê-la. Sob o tecido transparente daquela peça, o único pano que cobria seu corpo era a calcinha. Aquilo mexeu comigo de uma forma que eu não sabia explicar, despertando uma sensação de desconforto.

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