Capítulo 30

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                                          Anitta

Rio de Janeiro

Aquela manhã, que deveria ter irradiado alegria na véspera de Natal, metamorfoseou-se em mais um capítulo tumultuado de desavenças entre Rodrigo e eu. Encontrava-me sentada na minha cama, despertando abruptamente com uma tempestade emocional ao deparar-me com uma fotografia que capturou um momento tenso no estacionamento com Gabriel. Uma discussão ordinária, contorcida pela mídia, que a transformou em algo perverso e malicioso.
Meus olhos eram espectadores de Rodrigo transitando freneticamente de um lado para o outro, profanando o espaço com palavras ásperas enquanto arremessava objetos no chão, liberando toda sua ira e frustração. Eu
encontrava-me exaurida, uma exaustão emocional que quase me incapacitava para um novo embate. A intensidade emocional da situação era avassaladora, deixando-me à beira de um novo confronto, mas quase sem forças para encará-lo.
  Dentro de mim, uma convicção crescente clamava pela necessidade de encerrar aquele relacionamento, consciente de que algo estava profundamente errado. No entanto, encontrava-me aprisionada na teia complexa que era aquele homem, como se estivesse navegando por um labirinto de emoções intricadas e caminhos incertos. Cada passo na tentativa de libertar-me parecia conduzir a novas encruzilhadas, onde a conexão emocional e as amarras do passado entrelaçavam-se, tornando a saída uma jornada desafiadora.

- Chega, Rodrigo! - Meu grito reverbera pelas paredes do quarto - Para com esse surto, pelo amor de Deus! - Peço, erguendo-me da cama, a urgência pintando meu rosto.

- Não. -Ele retruca com descrença, seus olhos interrogativos fixos em mim. -Você acha que essa porcaria é um surto? - Ele grita, exibindo fotos captadas pelos paparazzi em seu celular - Num piscar de olhos, eu apenas fui ao banheiro e você foi atrás desse merda.

- Não fala assim do Gabriel. - Solto as palavras impulsivamente, sem refletir.

- Você quer realmente defendê-lo na minha frente? - Rodrigo pergunta, surpreso, uma expressão de incredulidade marcando seu rosto. - Ah, claro, esse deve ser o homem que anda te comendo, então é por isso que...

  Tomada pela raiva, não consegui conter a explosão de emoções e acabei desferindo um tapa no rosto de Rodrigo. Seu rosto ficou instantaneamente avermelhado, e ele levou a mão até o local do impacto, surpreso pelo golpe. Observando seus olhos, um arrependimento rápido me invadiu, transformando a raiva em um profundo pesar. Humilhada pela intensidade do momento, busquei desesperadamente por seu perdão, ciente de que minhas ações haviam ultrapassado limites intransponíveis.

- Me solta! - Ele pede, mas eu ignoro, cegada pela intensidade do momento -Me solta, porra! - Rodrigo grita, fazendo-me recuar, surpreendida com a ferocidade de suas palavras -O que você fez? - Vejo seus olhos marejados de incredulidade - Larissa, você me deu um tapa por causa dele?

- Não foi por causa do Gabriel. -Tento explicar, mas minhas palavras parecem perder-se na voracidade da discussão.

- Foi, merda! - Ele esbraveja - Meu Deus! Eu sou o cara que te ama mais que tudo nessa vida, que esteve ao seu lado quando o Gabriel estava com a Marina, te ignorando após terem um filho juntos, e que lutou por nós dois, pelo nosso relacionamento. -Despeja a fala, fazendo-me engolir em seco e derramar algumas lágrimas - Gabriel foi o homem que te pintou como monstro para o mundo todo, esqueceu?

- Para, por favor. -Sussurro, sentindo meu peito arder com aquelas palavras.

- Que porra esse cara fez de bom na sua vida para você ter me dado um tapa na minha cara?

Ao concluir suas palavras, como se fosse a resposta esperada, Joaquim adentra meu quarto em uma mistura de corrida e curiosidade. Num gesto reflexo, abaixo-me e o recebo nos braços, abraçando-o com firmeza. Seus olhos, pequenos espiões de tudo que acontece, revelam uma expressão de confusão e inquietação, sugerindo que o pequeno tinha escutado a tempestade de palavras que ecoara no ambiente. Enquanto tento acalmar meu filho, noto Rodrigo se retirando do quarto, deixando-me respirar frustrada. Felizmente, naquele momento, os únicos habitantes da casa éramos nós três.

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