Bônus - Flashback

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Anitta

                              Honório Gurgel - RJ

Finalmente consegui escapar do ensurdecedor som da música e do tumulto que dominava aquela casa de espetáculos. Meus olhos agradeceram por se libertarem das piscantes luzes multicoloridas típicas de baladas, embora ainda sentisse o odor impregnado de cigarro no meu cabelo. Na calçada, testemunhei cenas de pessoas sofrendo os efeitos exagerados da bebida, brigas surgindo e outros apenas aguardando ansiosamente por suas caronas.     
Enquanto algumas pessoas me cumprimentavam com sorrisos, outras me encaravam com olhares de desaprovação, o que me fez revirar os olhos com desdém. Acabara de encerrar minha apresentação naquela pequena e abafada casa de shows. Após o meu breve espetáculo, desci do palco apenas para entrar em conflito nos bastidores com os produtores do evento, que decidiram me pagar apenas metade do combinado, deixando-me verdadeiramente frustrada e irritada, levando-me a deixar o local abruptamente.
  Aguardava do lado de fora, com os braços cruzados e os pés batendo nervosamente, lutava para conter as lágrimas de decepção diante da situação. Para piorar, minha atenção foi desviada por um murmúrio e percebi um homem me encarando com um sorriso malicioso. Ignorei-o, desviando o olhar, mas permaneci no mesmo lugar. No entanto, o indivíduo insistiu, aproximando-se de mim e proferindo palavras confusas, provavelmente embriagado. O que realmente me enfureceu foi quando ele ousou passar a mão em minha bunda sem qualquer consentimento.

- Você é maluco? -Questiono, rosnando irritada, enquanto me afasto um passo, mantendo uma distância segura do sujeito.

- Desc... Desculpe, moça! -Ele balbucia, o cheiro de bebida em sua respiração tornando-se mais intenso conforme se aproxima.

- Isso não te dá o direito de... -Minhas palavras são cortadas quando ele ousadamente tenta se aproximar mais, estendendo a mão em minha direção. Instintivamente, dou um passo para trás, erguendo as mãos em defesa, os olhos faiscando de raiva.

- Você me olhou, e eu não resisti. -Ele murmura, a voz arrastada pelo álcool. - Impressionante como você é gatinha e gostosa.

- Mais 'gostosa' vai ser a minha mão na sua cara, seu merda! - A voz de Gabriel me atinge, trazendo-me de volta à realidade - Some daqui antes que eu te mate!

- Ih, qual é, playboy? - O sujeito debocha, balançando-se ligeiramente, embora seu sorriso vacilante denote sua embriaguez - Você está com medo de ser chifrudo?

Visivelmente irritado, Gabriel avançou em direção ao homem, que cambaleou e caiu devido à sua embriaguez. Com um olhar de fúria, Gabriel começou a desferir socos no rosto do indivíduo caído. O barulho dos socos ecoava na calçada, atraindo a atenção das pessoas que saíam da balada. Desesperada, eu gritava para Gabriel parar, mas ele parecia não me ouvir ou simplesmente ignorava.
  A cena violenta causava um alvoroço entre os espectadores que observavam atônitos. Meu apelo só foi atendido quando Renan, meu irmão, se aproximou e conseguiu separar Gabriel do homem caído, interrompendo a briga antes que as coisas escalassem ainda mais.

- Isso é pra você nunca mais mexer com a minha namorada, ouviu? - Gabriel grita, sua voz carregada de raiva, enquanto o homem é amparado por pessoas próximas. -Nunca mais mexa com ela.

- Chega! - Renan pede, segurando firmemente Gabriel para impedi-lo de avançar novamente. - Não vale a pena. Vamos embora.

  Saímos dali, nossas emoções ainda em turbilhão, e decidimos fazer uma parada estratégica em um trailer decadente que exalava o aroma sedutor de cachorros-quentes grelhados. Enquanto esperávamos ansiosos pelos nossos pedidos, peguei um cubo de gelo e, com cuidado, apliquei-o no canto da boca de Gabriel, onde um inchaço começava a se formar, enquanto ele resmungava de dor, sua expressão misturando frustração e alívio pelo momento de pausa.

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