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Capítulo 81

Gabriel Brineli

Miami

No ambiente sereno do hospital, mergulhei em um mar de silêncio, meu olhar fixo no teto como se buscasse respostas nas sombras projetadas pelas luzes fracas. O suave murmúrio das máquinas preenchia o espaço, enquanto a luz fugidia escapava pela fresta da porta, pintando o chão com reflexos dourados, e a televisão sussurrava sua melodia monótona. E ali, naquela penumbra reconfortante, repousei meus olhos na figura adormecida de Anitta, encolhida sob o manto de calor da coberta. Levantei-me com delicadeza, movendo-me como uma sombra, e aproximei-me dela, deslizando meus dedos por entre os fios de seu cabelo com a leveza de quem toca uma obra de arte. Um sorriso terno brotou em meus lábios, uma expressão de paz diante da fragilidade da vida e da força do amor.
O destino, aquele mestre caprichoso, mais uma vez tecia os fios do nosso destino, entrelaçando-nos em sua trama imprevisível. Após a tempestade causada pelas palavras enganosas de Beatriz, que semearam caos em meu relacionamento e resultou na dolorosa separação de Anitta e eu, fomos novamente surpreendidos pelo destino: um novo fruto estava a caminho, fruto do nosso amor. Ao receber a notícia do médico, uma mistura de alegria e apreensão inundou meu ser.
A alegria genuína por esse novo ser que se formava em nós, entrelaçado em nossa história, contrastava com a preocupação constante que me consumia, especialmente recordando os momentos angustiantes em que quase perdemos a pequena vida que agora se desenvolvia dentro de Anitta. Vê-la ali, naquele quarto de hospital, ao meu lado, apenas intensificava a sensação de culpa que me consumia.

- Estou carregando seu filho, mas isso não muda o fato de que ainda te odeio. -A voz fraca da Anitta ecoou pelo quarto do hospital em Miami, enquanto ela se remexia na cama, frágil sob os lençóis brancos.

- Fique à vontade para me odiar. - Brinquei suavemente, deslizando os dedos pelo seu cabelo, tentando trazer um pouco de leveza à atmosfera pesada. - Você está internada, não posso ir contra.

- Por que sempre tem que ser assim? - Ela me encarou com intensidade, e senti um arrepio percorrer minha espinha, ciente da carga emocional que pairava no ar. - Joaquim, que era filho único, agora terá dois irmãos.

- Larissa... - Deixei escapar um suspiro,
afastando-me ligeiramente, relutante em entrar nesse território emocional enquanto os monitores zumbiam ao nosso redor.

- Não estou pronta para falar com Joaquim sobre a gravidez, nem com ninguém. - Seu olhar desviou para suas mãos, e percebi a angústia que ela carregava. - Além disso, não sabemos se conseguirei levar essa gravidez adiante.

- Não pense nisso agora. - Aproximei-me novamente, segurando sua mão gelada entre as minhas. - Este não é o momento, Larissa. -Deslizei a mão sobre a dela, sentindo a frieza que contrastava com a atmosfera quente de Miami do lado de fora. - Vamos focar em você e no bebê agora.

  O som das batidas na porta ecoou pelo quarto, interrompendo o silêncio tenso que pairava no ar. Uma médica adentrou, pedindo licença com delicadeza, enquanto explicava a necessidade de realizar alguns exames extras em Anitta. Nossos corações aceleraram, mas para nosso alívio, os resultados foram tranquilizadores: tanto ela quanto o bebê estavam bem. Enquanto a médica cuidava de Anitta, meu olhar vagueava pela sala, perdido em pensamentos sobre a iminente paternidade novamente. Apesar do caos que nos envolvia, uma onda de felicidade inundava meu ser com a certeza de que em breve teríamos um novo membro na família. Após os exames, recebemos as boas notícias de que Anitta estava estável e que a internação seria apenas por precaução, para garantir um acompanhamento médico completo nos próximos dias.

- Que cara é essa? - Perguntei, assim que a médica saiu do quarto, enquanto me levantava do sofá indo até a cama onde Anitta estava.

- Você não faz ideia do quanto estou preocupada.
- Ela respondeu, ajustando-se desconfortavelmente na cama. - Dessa vez, não é por causa da turnê, nem da nossa separação. É porque estou com medo dessa gravidez.