Capítulo 53

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Anitta

Rio de Janeiro

Como já era de praxe na montanha-russa da vida de um artista, adormeci em serenidade absoluta, apenas para despertar no dia seguinte em meio a uma tempestade de fake News, inundando a paisagem com mentiras sobre uma suposta traição minha com um colega cantor, um amigo próximo. Um nó formou em minha garganta ao absorver a avalanche de falsidades espalhadas. Rapidamente, alcancei meu celular, buscando desesperadamente algum sinal de vida de Gabriel, meu namorado. No entanto, a tela permanecia fria e inerte, as chamadas não atendidas apenas ampliando a angústia que me envolvia.
Porém, como um raio em céu claro, minha inquietação deu lugar a uma mistura avassaladora de indignação e mágoa ao me deparar com as imagens que pipocavam nos perfis dos amigos do Gabriel. Ali, capturas em pixels coloridos, estavam as cenas de uma festa que se desenrolou na noite anterior em nossa própria morada. Entre os sorrisos forçados e os brindes efusivos, mulheres desconhecidas transformavam cada recanto da casa de Gabriel em seu próprio palco, enquanto até mesmo Dom, nosso fiel cão, parecia posar para as lentes vorazes, sem o menor sinal de constrangimento.
  Visivelmente devastada pela reviravolta, desisti após uma série de tentativas fracassadas de contato com Gabriel. Em meio a um turbilhão de emoções, seguimos adiante, nossas agendas tumultuadas servindo como muralha entre nós, impedindo qualquer chance de reconciliação. O silêncio entre nós era ensurdecedor, as palavras não ditas reverberando como ecos dolorosos, alimentando a separação que se solicitava entre nossos mundos interiores.
   Essa não era a primeira vez e certamente não seria a última em que Gabriel e eu nos veríamos envoltos em um turbilhão de conflitos, incapazes de encontrar uma solução. O culpado era claro: o nosso próprio ego. Nenhum de nós conseguia baixar a guarda, nenhum de nós estava disposto a ceder, e assim, estávamos presos em um ciclo interminável de desentendimentos, alimentados pela teimosia mútua que nos mantinha afastados, incapazes de encontrar um terreno comum para nos reconciliarmos.
  Finalmente de volta ao Rio, despertei às 2 da manhã, mesmo exausta da agenda corrida dos últimos dias. Hoje, finalmente, me despediria do carnaval com meu bloco e uma apresentação na apoteose. Não tive tempo o suficiente para curtir Joaquim, pois no dia anterior, fiquei de cama tentando recuperar minhas energias e me preparar para este momento especial. Enquanto fazia minha maquiagem, sentia o calor reconfortante em meus braço com o Joaquim em meu colo.

- Por que você acordou tão cedo, meu amor? -Perguntei, enquanto brincava com seu cabelinho fino, observando seus olhinhos sonolentos se abrirem lentamente- Você podia continuar dormindo um pouquinho mais. -Ele bocejou e se espreguiçou, como um gato preguiçoso.

- Ele quer ir para o trio também. -Meu maquiador comentou, com um sorriso divertido.

- Você ainda é muito pequeno para ir no trio da mamãe. -Respondi, fazendo cócegas em sua barriguinha e recebendo risadas contagiantes como resposta- Você vai ficar com a Jessica, e logo logo a mamãe estará de volta, combinado?

Os olhinhos do Joaquim se arregalaram ao ouvir a voz familiar, e num instante, a figura do Gabriel se materializou na porta do meu quarto. Com a surpresa tomando conta de mim, observei o Joaquim saltar do meu colo e correr até seu pai, abraçando-o com força. Embora Gabriel faça parte da produção do Bloco, sua presença ali, naquele momento, era inesperada. Durante o bloco em Salvador, ele optou por se manter ausente.

- O que você está fazendo acordado, rapazinho? -Gabriel questiona, levantando ele em seu colo.

- Bloco, papa. -Joaquim responde, nos fazendo rir.

- Seu bloco é na sua cama, na companhia da Jessica. -Gabriel fala, num tom divertido- Nessa casa aqui.

Sem me dignar a olha-lo, Gabriel deixa o quarto com Joaquim, deixando-me extremamente irritada. Era surpreendente como sua simples presença tinha o poder de me desestabilizar tão facilmente. No entanto, naquele momento crucial, eu não podia me dar ao luxo de me deixar levar pela raiva. Tanto ele quanto eu precisamos manter a compostura e agir como profissionais. Respirando fundo, fiz um esforço consciente para controlar minhas emoções, focando no objetivo maior: garantir o sucesso impecável do Bloco.

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