Capítulo 91

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Gabriel Brineli

Rio de Janeiro - BR

As palmas das minhas mãos não cessavam de transpirar, enquanto minhas mãos tremiam incontrolavelmente. Um calor incomum me envolvia, como se estivesse à beira de derreter a qualquer momento. Não era apenas o calor típico do Rio de Janeiro naquele dia esplendoroso, mas sim a antecipação do momento pelo qual tanto esperamos: o dia em que eu e Anitta finalmente nos tornaríamos marido e mulher. O nervosismo que me consumia era familiar, uma sensação reminiscente do dia em que Joaquim veio ao mundo, como se o tempo tivesse retrocedido para o nascimento do nosso primogênito.
Escolhemos o terreiro que frequentávamos como o local perfeito para o nosso enlace. Ali, encontrávamos a essência da nossa história, sem luxos desnecessários, apenas o aconchego de um lugar íntimo e especial, onde somente nossa família e amigos mais próximos compartilhariam esse momento conosco.
O terreiro estava meticulosamente decorado, cada detalhe cuidadosamente planejado pela equipe minuciosa contratada por Anitta. Cada flor, cada arranjo, cada vela parecia estar em perfeita harmonia com o ambiente, criando uma atmosfera mágica e acolhedora. E o dia estava do nosso lado, presenteando-nos com um céu claro e sem nuvens, como se a própria natureza estivesse sorrindo para abençoar nossa união.

- Gabriel, estou incrivelmente orgulhosa de você. -Mônica sorri, seus dedos roçando suavemente minha barba enquanto me deixa no altar. -Roberto e Elis estão radiantes agora. Que você e Larissa sejam imensamente felizes juntos!

- Obrigado por tudo, Mônica. -Eu expresso minha gratidão, inclinando-me para depositar um beijo carinhoso no topo de sua cabeça.

- Também te amo, meu filho. -Minha segunda mãe me envolve em um abraço apertado, seus olhos brilhando com emoção.

  Do alto do altar, construído em perfeita harmonia com a natureza que nos cercava, eu contemplava com reverência e gratidão os rostos familiares que se reuniam para testemunhar nosso enlace. Entre eles, destacavam-se nossos padrinhos, cuidadosamente selecionados não apenas pela proximidade, mas também pela conexão espiritual que compartilhávamos, vestidos de branco em honra à pureza e à paz que buscávamos invocar em nossa união, conforme os preceitos da tradição umbandista.
Enquanto uma melodia sagrada ecoava pelo ar, meus olhos buscavam ansiosamente o início do caminho ornamentado por pétalas de flores, onde Anitta, radiante e serena, aguardava ao lado de seu pai. Seu vestido branco, além de exalar elegância, carregava consigo os símbolos sagrados de nossa fé, adornado com rendas que entrelaçavam os elementos da natureza e a energia dos orixás que nos guiavam. Cada passo de Anitta em direção a mim era como uma dança sagrada, uma sincronia de movimentos que ecoavam a essência da nossa crença. Seu sorriso irradiava luz, iluminando o caminho que percorria, enquanto seus olhos espelhavam a intensidade da emoção que compartilhávamos.

- Gabriel...-Mauro estende Anitta para mim, seu olhar sério carregado de expectativas paternais- Cuida bem da minha filha, garoto. -Sua mão repousa brevemente em meu ombro antes de se afastar.

- Pode confiar, Mauro. -Com um aperto firme no coração e uma determinação renovada, seguro Anitta nos braços, prometendo a mim mesmo e a Mauro. -Vou cuidar muito bem dela.

  Quando Mauro se afastou, meus olhos encontraram Anitta, envolta em sua aura deslumbrante que parecia irradiar luz própria, e meu sorriso se alargou, embora uma pontinha de nervosismo ecoasse em meu peito. Com nossas mãos entrelaçadas, nos voltamos para o Guia, marcando assim o início da cerimônia em meio às batidas dos tambores sagrados. Cada palavra proferida pelo sacerdote reverberava como um eco das muitas jornadas espirituais que percorremos para alcançar esse momento único.

- O matrimônio é viver a vida juntos, saber respeitar as diferenças, que se somarão até vocês atingirem a cumplicidade. O amor é construído como uma casa, tijolo, acima de tijolo. E hoje vamos celebrar aquilo que os orixás já sabiam que ia acontecer. Se ajoelhem para consultar se é da vontade dele. -Então, ajoelhemo-nos diante do nosso Guia, buscando sua bênção para este novo capítulo em suas vidas.
 
O momento solene chegou, e todos os olhares se voltaram para as mãos habilidosas do nosso Guia. Entre seus dedos, repousava o 'obi', um fruto carregado de significado sagrado, composto por quatro gomos. Era o elo entre o mundo terreno e o divino, um portal para a comunicação com os orixás. Com um gesto reverente, o Guia dividiu os gomos, deixando-os cair diante dos noivos, como se abrisse as portas do destino. Era o instante em que o tempo parecia suspender-se, e a atmosfera estava carregada de expectativa. Nesse momento, a voz do silêncio ecoava alto, convidando aqueles que tivessem algo a dizer a manifestarem-se, pois este era o momento de falar ou silenciar para sempre, conforme as tradições ancestrais.
  As quatro partes do 'obi' flutuaram pelo ar como folhas ao vento, e um murmúrio de expectativa preencheu o espaço sagrado. Então, num instante que parecia suspenso no tempo, as quatro partes caíram em perfeita harmonia, todas viradas para cima. Um coro de vozes ecoou pelo ambiente, proferindo em uníssono a palavra sagrada: "Aláfia." Era o sinal claro de que os orixás abençoavam aquela união, aceitando-a como um destino escrito nas estrelas desde tempos imemoriais. Um sentimento de paz e gratidão envolveu a todos, enquanto a certeza do caminho à frente se fortalecia, guiada pela sabedoria ancestral dos deuses.

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