Capítulo 86

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Anitta

Miami

Os sons estridentes das máquinas hospitalares ecoavam pelos corredores, penetrando fundo em meus ouvidos e causando uma sensação angustiante que parecia não ter fim. Enquanto eu deitava na cama, meu olhar vagava pelo teto impessoal e pela televisão sem graça, que naquela hora da madrugada exibia apenas um vazio desolador. Cada posição que eu tentava era incapaz de aliviar o desconforto; o colchão parecia conspirar contra meu descanso, e eu ansiava pela maciez reconfortante do meu próprio travesseiro e pelo aroma familiar da minha roupa de cama.
  Cada parte do meu corpo clamava por alívio, não apenas pelas frequentes picadas de agulha que recebia ao longo do dia, mas também pelo cansaço acumulado de passar dias inteiros alternando entre a cama e a poltrona. Minha veia direita, marcada e roxa pelo tempo em que o acesso permaneceu ali, era um lembrete físico dos desafios que enfrentava.
Eu sabia que precisava reunir forças e lutar pela saúde do meu bebê, mas naquele momento, tudo o que desejava era poder retornar para o conforto do meu lar, onde eu e meu filho pudéssemos nos recuperar juntos.
  Minha inquietude e aflição são abruptamente interrompidas quando Gabriel se ergue sonolento, sem perceber minha vigília. Seus cabelos desalinhados e os olhos semicerrados o acompanham enquanto ele atravessa o estreito corredor em direção ao banheiro. Um sorriso escapa dos meus lábios por um breve instante ao lembrar que Joaquim, assim como o pai, tinha os mesmos hábitos ao despertar na calada da noite.

- Ei, você ainda está acordada? - A voz de Gabriel ecoou suavemente após o clique suave da porta do banheiro, seus olhos encontrando os meus em meio à penumbra do quarto. Ele se aproximou com passos cautelosos, apoiando-se na grade de plástico da cama hospitalar.

- Não consegui dormir até agora. - Confessei, observando Gabriel se aproximar e acariciar meu cabelo com ternura.

- Por que não me acordou? - Ele indagou, seus dedos traçando suaves círculos em minha cabeça. - Podia ter ficado acordado com você. - Acrescentou, e eu depositei um beijinho rápido em seu braço. - Está sentindo algo?

- Muita vontade de ir para casa. - Afirmei, tentando encontrar uma posição mais confortável sem sucesso. - Não aguento mais ficar nesse hospital, Ga.

- Larissa, agora falta pouco. - Gabriel baixou uma das grades da cama, sentando-se cuidadosamente ao meu lado. - Vamos pensar em algo para distrair sua mente até conseguir pegar no sono.

- Me conta a verdade sobre a Beatriz. - Pedi, cruzando os braços com cautela para não perturbar meu acesso intravenoso. - Livre-me desse peso, Gabriel. Quem sabe me ajude a relaxar.

  Uma das questões que mais me afligia era o impasse em nosso relacionamento, especialmente após o noivado com Gabriel ser abalado pelo turbilhão causado pela suposta gravidez de Beatriz, na qual acreditava-se que Gabriel fosse o pai. Apesar de estarmos juntos nesse momento delicado, unidos para garantir minha saúde e a do nosso bebê, não conseguia afastar esse obstáculo de minha mente, deixando-me perdida quanto ao rumo a seguir em nossa relação.
Nunca desejei, e ainda não desejava, que nosso vínculo chegasse ao fim, mas era impossível ignorar a possibilidade de terminarmos se aquela criança que Beatriz carregava fosse, de fato, filha de Gabriel. As circunstâncias e a decepção causada pelo suposto envolvimento de Gabriel com sua ex-funcionária complicavam ainda mais a situação.

- Você realmente quer entrar nesse assunto agora?
- Gabriel perguntou, uma sombra de apreensão pairando em seus olhos.

- Gabriel, por favor... - Minha voz quase implorou, enquanto eu mantinha meu olhar firme no dele. - Eu preciso saber.

- A Beatriz realmente está grávida, Larissa. - Gabriel desviou o olhar para suas mãos, a tensão evidente em sua expressão, e eu senti o peso daquela confirmação.

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