Capítulo 16

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Anitta

Rio de Janeiro

À medida que os dias se desenrolavam, eu me via mergulhada novamente na batalha familiar de retomar o curso da minha vida, tentando desviar meu pensamento do turbilhão que foi minha história com Gabriel. A verdade é que já estava íntima desse ciclo, e, lá no fundo, pressentia que, mais cedo ou mais tarde, experimentaríamos essa reviravolta em nossa relação. Era uma dança familiar, uma coreografia de sentimentos previsíveis. Essa incerteza não me era desconhecida; eu a previra.
O que mais me inquietava nessa situação era perceber-me amarrada a um destino que não desejava, pois tinha consciência de que essa reaproximação com Gabriel desencadearia desdobramentos indesejados. Contudo, agora me via confrontada com a notícia de esperar um filho seu, uma reviravolta que inevitavelmente nos obrigaria a permanecer próximos. O peso desse vínculo imprevisto lançava sombras sobre meu futuro, e a incerteza se tornava ainda mais densa diante da inevitabilidade de compartilhar esse novo capítulo com ele.
Sentada no sofá acolhedor da minha casa, um sorriso tímido se desenha entre meus lábios ao perceber minha mãe se aproximando com um copo de suco fresco. Naquela manhã, nada havia descido por minha garganta devido ao persistente enjoo que me assombrava.

- Um pouco melhor? -Pergunta, preocupada, enquanto estende o copo de suco.

- Sim. Não aguento mais esses enjoos. -Resmungo, aceitando o copo e dando um gole.

- Isso é normal, minha filha. Você ainda está nos primeiros meses de gravidez. Na sua gestação e na do seu irmão, eu também sentia muito enjoo, sabia?

- Não vejo a hora disso acabar. -Suspiro, fechando meus olhos expressando cansaço e frustração.

- O que está acontecendo? Você parece tão irritada e aflita. Não consegue curtir esse momento. Alguma coisa parece te incomodar.

- É a situação, mãe. -Esbravejo, sentindo as lágrimas prestes a escapar- Eu não queria que fosse dessa maneira.

- Larissa, o que conversamos sobre? Você não deveria reclamar tanto desse jeito. O que aconteceu com você foi quase um milagre, filha. -diz, firme, segurando as minhas mãos com firmeza- Essa gravidez pode não ter sido planejada da maneira que desejou, mas agora não é a hora de chorar pelo leite derramado. Você precisa parar com esses pensamentos e agradecer; isso poderia não ter acontecido.

- Eu nunca vou ter paz para criar meu filho, sendo ele também filho do Gabriel. -Esbravejo, permitindo que a amargura transpareça em minhas palavras- Nós dois nos adiamos, nos machucamos, e parece que isso vai ser uma sombra constante.

- Deveria ter pensado nisso antes de ter esse filho. -Minha mãe responde com firmeza- Agora essa criança já está aqui, e passou da hora de vocês dois amadurecerem e tentarem ao menos se acertarem por esse bebê que não tem culpa da imaturidade de vocês. -Sinto o peso das palavras da minha mãe-
A vida é feita de escolhas, e agora vocês têm que escolher crescer e proporcionar um ambiente saudável para esse pequeno. Isso não é só sobre vocês dois, é sobre a vida que trouxeram ao mundo.

  As palavras da minha mãe ecoavam no silêncio da sala, carregadas de uma verdade difícil de encarar. Cada frase ressoava como um soco no estômago, e meu mundo parecia desequilibrar-se diante da revelação. Com um misto de dor e reflexão, busquei refúgio no meu celular, encontrando mensagens de Gabriel, cujas palavras traziam consigo uma complexidade emocional. Um suspiro escapou dos meus lábios, mas resisti à tentação de mergulhar nas mensagens, optando por bloquear o aparelho em busca de clareza. Determinado a desviar o foco da tormenta interna, ergui-me do sofá com a intenção de abraçar a luz radiante do sábado. Decidi dedicar esse dia ensolarado à minha família, buscando conforto nos laços que resistiam às tempestades da vida.
Sob o céu aberto e o aroma irresistível da grelha, nosso churrasco em família era um retrato perfeito de amor e acolhimento. Sentada, eu segurava meu sobrinho no colo, sentindo seu calor e ternura. Entre risos contagiantes, planejávamos as festividades vindouras, criando memórias que seriam entrelaçadas no tecido afetuoso de nossas vidas.

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