Capítulo 41

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                                          Anitta

Rio de Janeiro

No silêncio gélido do quarto hospitalar, o frio penetrava meu corpo, provocando arrepios involuntários. Minhas mãos buscaram refúgio no cabelo macio de Gabriel, deitado com serenidade naquela cama impessoal. Seu sono, embalado pelo zumbido dos aparelhos ao redor, parecia tranquilo, mas meu olhar se deteve na marca discreta de um hematoma em sua testa. Segui a linha de cuidado, descendo até o curativo que cobria seu ombro esquerdo, ainda sensível após a recente operação.
As palavras do médico ecoavam em minha mente, revelando as agruras que Gabriel enfrentara: uma pequena confusão pulmonar, fraturas no ombro e algumas costelas. Apesar do alívio por seu estado não ser grave, a necessidade de uma vigilância atenta persistia, mantendo-nos envolvidos na incerteza do que viria a seguir.
Enquanto observava Gabriel repousar, minha mente mergulhava nas lembranças dos momentos que nos trouxeram até aqui. A fragilidade da saúde, antes tão distante, agora se revelava em sua presença quieta na cama de hospital. Senti um misto de gratidão pela relativa benignidade da situação e ansiedade pelo caminho que se estendia à frente.

- Se você continuar fazendo carinho assim, minha mulher não vai gostar. -Brinca Gabriel, sua voz fluindo como uma melodia leve que me arranca um sorriso genuíno.

- Sua mulher vai te matar se você continuar dando esses sustos nela. -Respondo, enquanto seus olhos encontram os meus em um jogo de cumplicidade.

- Minha vida estava muito parada e monótona, quis ir em busca de uma nova emoção. -Ele diz, introduzindo um tom de ironia à conversa.

- Não faz mais isso, por favor. -Peço, deixando minha mão repousar suavemente em seu rosto- Eu quase morri do coração quando soube. Eu não tenho estruturas pra isso. -A expressão séria em meu rosto contrasta com a suavidade do toque.

- Pode deixar. -Ele se mexe e eu noto seu semblante de dor e incômodo. - Acho que estou todo quebrado.

- Você acha? Eu tenho certeza.

- Merda! -Gabriel resmunga. - Preciso receber alta até o final de semana; você tem dois shows no sábado e no domingo.

- Você sofreu um acidente grave de carro, está todo quebrado em cima de uma cama de hospital e está pensando em trabalhar?

- Existem duas coisas nesse mundo das quais sou viciado, em você e no meu trabalho.

- Você é teimoso demais, Gabriel. Precisa descansar e se recuperar. -Reviro os olhos.

- Não sei se consigo ficar deitado sem fazer nada-
Ele faz uma careta, tentando se ajustar na cama.

Os irmãos e primos irromperam no quarto de Gabriel como uma explosão de alegria, dissipando a tensão que o ambiente carregava horas antes. Era como se a própria felicidade tivesse decidido fazer uma visita surpresa. A atmosfera, antes carregada de apreensão, transformou-se em um redemoinho de risos e abraços, colorindo as paredes com uma energia vibrante. Ver Gabriel ali, lúcido e sorridente, era como testemunhar a ressurreição de um momento que quase se perdeu.

- Ei, como você está? - Pergunta Camila em um tom suave, aproximando-se.

- Mais aliviada em ver seu irmão bem, agora.
- Confesso, suspirando. - Era exatamente o que eu precisava.

- É impressionante a força do Gabriel. - Camila observa o irmão e volta seu olhar na minha direção. - Vendo assim, nem parece que ele acabou de passar por um acidente de carro e está todo machucado.

- Gabriel é dono de uma força inabalável. - Exclamo- No entanto, por trás dessa fachada, ele guarda suas fragilidades, especialmente quando se trata do César. Gabriel tem muitos traumas e medos.

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