Capítulo 42

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                                  Gabriel Brineli

Rio de Janeiro

Os dias se arrastavam, e a claustrofobia no quarto de hospital me oprimia. A impossibilidade de trabalhar e a visão impotente dos eventos ao meu redor corroíam minha paciência. À medida que o tempo avançava, meu corpo revelava as fraturas sofridas, e a dor se tornava uma constante, tornando impossível escapar daquelas paredes.
  Devo admitir que, entre a dor e os medicamentos, tudo permanecia confuso, e eu lutava para assimilar os eventos e a forma como tudo se desenrolara. Minha mente tentava conectar os pontos, buscando explicações ou culpados para o que havia ocorrido.
Na manhã seguinte, Anitta viu-se diante de um dilema difícil: deixar-me sozinho no hospital para cumprir compromissos profissionais. Apesar de relutante no início, sua decisão refletia a dualidade entre a responsabilidade profissional e o desejo de permanecer ao meu lado. Com o coração apertado, dei-lhe o suporte necessário, consciente da importância de suas obrigações. Enquanto ela partia, minha mente se dividia entre a compreensão da situação e a saudade avassaladora de Joaquim, cujo cuidado também recaía sobre os ombros dela naquele momento.

-É aqui que estão precisando de um primo cuidador? - A voz de Adriel ecoa quando ele adentra o quarto.

- Se esse primo me ajudar a fugir dessa sala de torturas. - Respondo, impaciente.

- Paciente teimoso, você está todo quebrado, em processo de recuperação e pensando em fugir?
- Adriel questiona, rindo.

- Eu simplesmente não aguento mais, Adriel.
- Confesso, bufando. - Preciso voltar ao trabalho. Tem um monte de eventos prestes a acontecer, e eu deitado em cima de uma cama de hospital? Amanhã e depois têm os ensaios da Anitta, e eu vou ficar trancado aqui?

- Brineli, nossa equipe estará toda presente amanhã e depois da manhã, não deixando faltar nada, oferecendo todo o suporte e serviço necessários.

- Porra, Adriel! - Reviro os olhos, me mexendo incomodado na cama- Mas eu quero estar.

- Irmão, você precisa agora é se recuperar e depois, pensar no trabalho. Sei que tem muita coisa rolando, mas você tem um equipe qualificada pra isso e que vai estar toda pronta e preparada. -Adriel fala, tentando me acalmar- Agora, pensa um pouco em você. A Larissa precisa de você, o Joaquim...Só que eles precisam de você inteiro.

- A Larissa e a Duda estão em pé de guerra. - Comento, após dissipar toda a irritabilidade. -
A Duda não deveria agir assim com a Larissa.

- Concordo. Especialmente quando ainda não sabemos se o Rodrigo teve culpa em tudo isso ou não. - Adriel acrescenta. - As investigações estão em andamento, e logo teremos respostas.

- Vocês estão tomando cuidado para que isso não se torne público, certo? - Adriel afirma. - Ótimo!

- No entanto, ontem algo aconteceu... - Adriel diz.

- O que foi? - Pergunto, aflito.

- O César invadiu a casa na Serra da Cantareira na última madrugada e destruiu tudo que restava.

O impacto daquela notícia reverberou como um soco direto no meu estômago, e a situação se agravou quando Adriel me mostrou imagens da casa que um dia abrigara as memórias da minha mãe, um santuário agora violado.
  Voltar àquela residência nunca foi meu desejo, pois suas paredes carregavam memórias angustiantes que me assombravam, entretanto, jamais deixei de cuidar dela. Com dedicação meticulosa, preservava cada cômodo e seu entorno, mantendo intactas não apenas as memórias vividas ali, mas também as físicas, como se cada objeto fosse um guardião sagrado do passado.

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