Capítulo 65

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Anitta

Miami

Um dos maiores obstáculos entre Gabriel e eu sempre foi a falta de comunicação. Durante meses, alimentei a esperança de que finalmente tínhamos superado essa lacuna e aprendido a nos expressar de forma clara e sincera. Parecia que estávamos fazendo progresso, abrindo nossos corações e resolvendo nossos conflitos de maneira mais construtiva. No entanto, os eventos recentes e nossas atitudes posteriores me fizeram perceber que talvez tenha sido apenas uma ilusão. Mais uma vez, nos encontramos presos em um ciclo de desentendimentos, magoando um ao outro com palavras não ditas e ações precipitadas. Parecia que estávamos revivendo um pesadelo familiar, onde a falta de comunicação nos condenava a repetir os mesmos erros dolorosos, ignorando as lições do passado.
Quando cheguei naquele bar na companhia das minhas amigas, ansiava por uma noite de descontração e diversão, uma fuga momentânea do peso da dor do término com Gabriel. Enquanto trocávamos risadas e brindes, tentava desesperadamente afastar os pensamentos dolorosos que teimavam em me assombrar, buscando refúgio na alegria efêmera daquele momento.
Decidi dar uma pausa e anunciei que precisava ir ao banheiro, desejando um breve respiro para acalmar minha mente turbulenta. Contudo, ao me encaminhar para o banheiro, meus passos vacilaram e meu coração saltou para a garganta ao testemunhar uma cena que jamais imaginei presenciar. Lá estava Gabriel, o homem que ainda habitava meus pensamentos, entregando-se a um beijo apaixonado com Beatriz, a mesma mulher em quem tantas vezes confiei minhas suspeitas.
Quando Gabriel notou minha presença, rapidamente se afastou, seus olhos cheios de culpa encontrando os meus por um breve instante, antes de eu desviar o olhar, tentando conter as lágrimas que ameaçavam escapar.

- Larissa... - Gabriel sussurra meu nome, sua voz carregada, e eu sinto meu maxilar se contrair involuntariamente, meu corpo tenso diante da intensidade do momento.

Engoli em seco e me afastei abruptamente, ignorando seus chamados urgentes que ecoavam em meus ouvidos, cada vez mais distantes conforme eu me afastava. O banheiro parecia estar a uma distância impossível de alcançar, mas, mesmo assim, continuei avançando, impulsionada por uma necessidade desesperada de escapar daquele pesadelo que se desenrolava diante de mim.
Adentrei o banheiro, observando algumas pessoas saindo apressadamente e me deixando sozinha naquele espaço. Com passos vacilantes, aproximei-me da pia e me apoiei ali, respirando fundo na tentativa de acalmar as emoções tumultuadas que ameaçavam transbordar. Cada batida do meu coração parecia ecoar no silêncio do ambiente, enquanto eu lutava contra a vontade avassaladora de desabar em lágrimas.
De repente, o som da porta se abrindo quebrou o silêncio, fazendo meu corpo tenso se enrijecer ainda mais. Para minha total surpresa e confusão, Gabriel adentrou o espaço, ignorando completamente o fato de que estávamos no banheiro feminino. Seu olhar tenso encontrou o meu, carregado de uma mistura de arrependimento e determinação, deixando-me sem palavras diante da inesperada reviravolta daquela noite tumultuada.

- Você é maluco? - Questiono, encarando-o com uma mistura de incredulidade e preocupação - Se alguém te pega aqui, tem noção do problema...

- Eu arrumo problema todos os dias para minha vida, esse vai ser só mais um - A resposta de Gabriel é firme, carregada de determinação apesar das circunstâncias arriscadas - Aquele beijo com a Beatriz...

- Era previsível. - Cruzo os braços, mantendo minha postura enquanto lido com a onda de emoções que a conversa traz à tona. - Mas eu sempre fui doida de achar que existia algo, né? Acho que não estava tão errada assim.

- Foi só um beijo. - Gabriel insiste, sua expressão revelando uma mistura de defensividade e arrependimento - Ao contrário de você, que levou um cara para casa em que até esses dias, estávamos morando juntos.

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