Capítulo 37

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                                   Gabriel Brineli

                                   Maragogi- AL

Demonstrar sentimentos sempre foi uma tarefa árdua para mim, uma jornada repleta de desafios emocionais. Confesso que, até hoje, essa habilidade permanece como minha maior dificuldade, especialmente quando alguém querido me magoa e eu, por consequência, vejo a confiança desmoronar. Mesmo no auge do amor, algo dentro de mim se quebra, assumindo proporções colossais, e instintivamente me fecho, construindo muralhas emocionais para me proteger.
Na minha juventude, além do aconchego familiar, foi a presença de Anitta que me proporcionou a chave para compreender e expressar sentimentos. Com ela, aprendi que nem sempre precisamos erguer aquelas pesadas muralhas emocionais. No entanto, essa epifania foi efêmera, desvanecendo-se com o término do nosso relacionamento e as inúmeras decepções que se seguiram. Ao invés de permanecer aberto, construí uma barreira ao redor dela, criando uma defesa que se transformou, paradoxalmente, em maneirismos de agir e falar que, inevitavelmente, me conduziram a equívocos.
  O sentimento reprimido, amalgamado à decepção, resultou em ações impulsivas e julgamentos precipitados. Ignorar as memórias dos momentos felizes que compartilhamos tornou-se um subproduto desse tumulto emocional, uma reação instintiva diante do medo de ser ferido novamente. Cada palavra e atitude em relação a Anitta tornou-se um reflexo do escudo que eu construí ao meu redor, uma tentativa imperfeita de preservar o que restava da minha vulnerabilidade emocional.
Mas tudo isso mudou quando o destino a trouxe de volta à minha vida, tornando-a a mãe do meu filho, a figura mais crucial e significativa para mim. Essa reviravolta inesperada mexeu com um canto obscuro e doloroso em meu interior, desestabilizando minha zona de conforto. Tudo virou de cabeça para baixo, e, com o passar do tempo, percebi que dentro de mim não só persistia o ódio em relação a ela, mas também florescia um sentimento inesperado: o amor.
A proximidade forçada pela paternidade trouxe à tona emoções contraditórias que, de certa forma, desafiaram minha própria compreensão.
O ressentimento anterior começou a ser mesclado com momentos de ternura e preocupação genuína. Foi como se as linhas entre o amor e o ódio se entrelaçassem, formando uma complexa tapeçaria de emoções difíceis de serem decifradas.
Após alguns minutos em silêncio, ambos nos recuperando da intensidade do momento compartilhado, Anitta me encara com seus olhos um tanto perdidos. As palavras que pronunciei parecem ter apanhado-a de surpresa, e agora sua expressão reflete uma confusão palpável. Sua mente parece ser um emaranhado de pensamentos, como se estivesse tentando decifrar não apenas o que foi dito, mas também o impacto que essas palavras têm em nosso intricado relacionamento.

- Espero muito que você tenha noção das coisas que me disse esta noite. - Anitta sussurra.

- Tudo que eu disse é a mais pura verdade. - Afirmo firmemente. - Você é a mulher da minha vida, e eu te amo! Por muito tempo, tentei disfarçar isso, mas é a mais pura verdade.

- Gabriel... - Suspira, hesitante.

- Olha para mim. - Me sento, segurando gentilmente seu rosto entre minhas mãos. - Nunca brincaria com seus sentimentos, Anitta, apenas os respeito. Sei que pode estar confusa com tudo isso e por toda a situação que viveu com o Rodrigo. Não quero que se sinta pressionada, mas precisava tirar isso do meu peito. - Engulo seco, buscando suas pupilas. - Lembra quando sentia algo e não conseguia colocar para fora, e você me ajudava? - Ela assente com um olhar curioso. - Pois é, era exatamente assim que me sentia. Quero te amar sem reservas, cuidar de você, e construir uma família verdadeira, com você e o Kim.

- Gabriel, eu... - ela começa, mas interrompo gentilmente.

- Não precisa responder agora. Eu só queria que você soubesse. Não quero apressar nada, só quero que saiba o que se passa dentro de mim. - Deixo escapar um sorriso suave, tentando aliviar a tensão no ar. - Só que por favor, não se afasta.

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